Triste é constatar, nestas denúncias apresentadas pelo programa fantástico da rede globo sobre a corrupção em órgãos da saúde do Rio de Janeiro, quando as pessoas filmadas, falando sobre corrupção, afirmam que "Está é a ética do mercado", ou que "o normal é 10% (de propina)", elas diziam a verdade.
Lembra até a fala do Bruno Covas (deputado estadual de SP), dizendo que, ao se deparar com o esquema de vendas de emendas parlamentares - fato absolutamente comum na assembleia legislativa (tucana) paulista segundo sua fala - ele pediu então para que a "sua parte", sua cota da propina, fosse doada a uma instituição de caridade. Depois disse que não havia dito isso. Confrontado com a gravação da entrevista dada ao jornal, que comprovava que ele de fato havia dito o que o jornal publicou, ele disse que não disse que não tinha dito o que disse, mas que disse outra coisa diferente do que as pessoas pensam que ele disse. Confuso? A culpa não é minha, é da explicação (?).
Uma coisa a se destacar positivamente na reportagem foi o fato de, desta vez, o fantástico ter se preocupado com os corruptores. Normalmente, a culpa recai tão somente no corrupto - esquecendo-se que para que exista um corrupto, é necessário que haja um corruptor (este "esquecimento" decorre do fato dos corruptores serem muitas vezes, pessoas de alta influência e grande poder econômico - a operação Castelo de Areia que o diga).
É um caso a ser analisado com maior cuidado esta necessidade que há da existência da continuidade do crime para que este possa ser executado. Um ladrão só rouba algo, porque sabe que existe alguém para comprar este produto. Da mesma maneira que um traficante de entorpecentes só trafica porque há um usuário para o produto que ele ilegalmente vende. Claro que uma coisa não compensa a outra, o ladrão e o traficante são criminosos, da mesma maneira que o receptador de mercadorias roubadas, ou o usuário de drogas (ao menos penso que deveria ser) também são.
Para que o crime ocorra, alguém há de dar continuidade à aquilo que foi ilegalmente executado. Na minoria dos casos, o criminoso frui individualmente do delito que cometeu (um usuário de drogas, dificilmente planta sua maconha, a processa e consome seu cigarro).
Porém, para a justiça brasileira, mesmo nos casos mais improváveis, isto é possível. Um caso recente envolvendo a empresa Kroll, que foi condenada por espionar ilegalmente diversas pessoas, é emblemático neste sentido. A empresa foi condenada, mas, obviamente, alguém mandou que ela espionasse - a empresa presta este tipo de serviço. Mas quem mandou? Daniel Dantas, é de conhecimento até do mundo mineral, como diria Mino Carta. Entretanto, para a justiça brasileira, não foi ninguém. A Kroll, uma empresa de espionagem, espionou. Mas ninguém contratou-a para que ela espionasse. Chega a ser cômico, de tão ridículo.
E aí fica a impressão de que a existência desta mistura ideal de combustível e comburente - corruptos e corruptores, da imprensa amiga com o moleque do Bruno Covas, da justiça brasileira tão cândida com o dono do país, o senhor Daniel Dantas, bem, fica a impressão de que tudo cá por estas plagas é uma lástima.
Um comentário:
Well done! Não diria melhor, na verdade não chegaria nem perto disso!
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