sexta-feira, 27 de setembro de 2013

As curiosas ressalvas do Estadão ao discurso de Dilma na ONU - por Luis Nassif (Jornal GGN)

As curiosas ressalvas do Estadão ao discurso de Dilma na ONU - por Luis Nassif (Blog do Nassif)
É curiosa a posição da velha mídia em relação ao pronunciamento da Dilma Rousseff na ONU (Organização das Nações Unidas, conforme se percebe nos editoriais do Estadão. Dilma alertou para a necessidade de uma discussão global sobre os rumos e a governança na Internet e sobre as guerras cibernéticas.

Não foi possível ignorar sua repercussão. O Estadão abre o editorial refletindo o que a imprensa internacional constatou:

“O assertivo protesto da presidente Dilma Rousseff, na abertura da Assembleia-Geral da ONU, contra a rede global de espionagem eletrônica tecida pela Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos foi a resposta que lhe cabia dar, até mesmo na condição de chefe de Estado que foi pessoalmente monitorada pelo megaesquema de bisbilhotice. Ela arrolou os alvos brasileiros do que chamou apropriadamente de "intrusão", ressaltou a "afronta" que isso representa aos princípios que devem reger as relações entre países soberanos, "sobretudo entre nações amigas", e contestou a alegação americana de que a defesa contra o terrorismo - "as preocupações legítimas de segurança de nossos cidadãos e aliados", enfatizaria em seguida o presidente Barack Obama - é a meta única dos "mecanismos pelos quais reunimos inteligência", ainda nas suas palavras. "O Brasil", apontou Dilma, "repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas."”

A partir daí, o editorial desenvolve um curioso raciocínio desqualificador:

“Não deve a presidente imaginar que a sua fala, além dos protocolares aplausos com que foi acolhida no plenário tido como o mais importante do mundo, fará diferença na grande ordem das coisas”.

O jornal critica a proposta da Dilma, de defesa da neutralidade da rede, porque “estados autoritários como os da Rússia e China, para não mencionar o big business da rede, tenderão sabotar a ideia de uma “governança democrática, multilateral e aberta”. Critica como se o fato de haver resistência à tese da neutralidade da rede deveria desestimular a defesa da ideia.

Todas as grandes tecnologias de ruptura na área da informação – como o rádio e a televisão – começaram sob o manto da diversidade e terminaram presa em modelos cartelizadores. Pela primeira vez, no mais importante palco multilateral do planeta, um governante fala – e é ouvido – sobre a necessidade de impedir que a Internet siga a mesma sina das tecnologias anteriores.

A diferença é que, nos casos anteriores, o Estado nacional mantém pleno controle sobre o setor, já que as frequências são confinadas aos territórios. No caso da Internet, seu aspecto universal provoca conflitos de interesse entre as grandes corporações globais e os Estados.

É um tema candente, que levou estados como a China a decisões unilaterais de impor o poder soberano sobre a rede.

Ao levar a proposta de discutir uma governança global, Dilma abre uma nova perspectiva, uma frente até então inédita – e essencial – de discussão sobre os rumos da Internet.

Houve a iniciativa, houve a ampla repercussão nos principais veículos internacionais. A conclusão do velho veículo, no entanto, é que o discurso de Dilma visou “o eleitorado nacional”.

Se Eder Jofre fosse presidente de um partido contrário ao Estadão e conquistasse o campeonato mundial de boxe, o jornal diria que ele fez isso tudo apenas visando “o eleitorado”.

Trata-se de uma ideia fixa. E não propriamente da presidente.


Nenhum comentário: