Creio que politicamente, Marina Silva, a nossa guerreira itaú-guarani-kaiowá segue apresentando quase como sua identidade eleitoral os vinte milhões de votos que obteve. É bom lembrar Alckmin obteve quase o dobro disto e não é sequer aventado como candidato para as próximas eleições. Ademais, a guerreira itaú-guarani-kaiowá se esquece de salientar que obteve estes vinte milhões de votos especialmente por três motivos:
1 - A ampla benevolência e apoio que obteve da imprensa marrom (ademais se considerando que era uma candidatura nanica), com o intuito de gerar um segundo turno em que o candidato do mercado financeiro viesse a vencer. Quando era ministra do governo Lula, era tratada como um estorvo administrativo, uma péssima gestora. Assim que “passou para o lado de lá”, foi tratada como a deusa do verde – alterou sua ideologia (se é que algum dia teve alguma) e foi regiamente recompensada por isto.
2 - Não pelos méritos próprios, mas por cansaço/desgaste eleitoral, mesmo, a guerreira itaú-guarani-kaiowá congregou os votos dos que desejavam fugir da polarização PT X PSDB.
3 – E, o ponto mais importante de todos, ela recebeu o tétrico voto religioso – consequência da campanha abjeta feita pelo senhor José Serra.
Foram votos, que contam como outros quaisquer, mas votos em sua maioria dados pelos motivos errados, manipulados, sem estrutura social, ideologia ou programa que os sustentassem se ela viesse a ganhar a eleição.
Quanto a sua candidatura em si, não há ideologia nenhuma no assunto. A guerreira itaú-guarani-kaiowá saiu do PT depois de ter sido filiada por 23 anos e também depois ter ficado como ministra em seis dos oito anos do governo Lula. Ela, então, passa a deplorar o PT – como se fosse muito diferente o que esta acontecendo agora do que foi feito quando ela compunha o governo. Não foi. O PT realmente teve uma mudança ideológica enorme em sua história – para pior em minha singela opinião – mas esta mudança ocorreu, é bom notar, antes da eleição do Lula. Depois que ele assumiu e nomeia um Palocci para o Ministério da Fazenda e um Henrique Meireles para a presidência do Banco central, não há mais dúvida quanto a que lado Lula escolheu, tampouco veleidades em disfarçar a abjuração da própria história de seu partido – traição que gerou o expurgo que resultaria na criação do P-Sol. Muito bem, não foi neste momento que ela saiu do partido. Muito menos quando eclodiu o “escândalo” do mensalão. Agora a guerreira itaú-guarani-kaiowá quer passar por diferente do que aí esta? Será que em todos os anos de filiação ao PT ela não havia percebido o que hoje aponta de errado? Por que ela ficou longos 23 anos lá, então? E por que passou 6 anos como ministra do governo Lula, então?
A questão não é programática, é pragmática, como ela bem “acertou quando errou” em seu discurso de filiação ao PSB. Marina só saiu do PT, é preciso deixar claro, porque sabia que ela jamais seria candidata pelo partido a presidência da república. Só por isto.
Entrou no PV única e exclusivamente para ser candidata à presidência. Como não virou proprietária do partido como pretendia (e Eduardo Campos é exatamente isto, dono do partido, e não seu presidente), novamente saiu do partido que era filiada. Como não conseguiria ser proprietária de nenhum partido – a não ser que o criasse, inventou a tal Rede Sustentabilidade. Com interesses única e exclusivamente eleitorais, e não “sonháticos”.
A guerreira itaú-guarani-kaiowá me lembra muito o caso da Soninha, ex-VJ da MTV. Como a Soninha não conseguiria ser candidata à prefeita de SP pelo PT, se desfiliou do partido. O tempo passa, ela faz críticas pontuais ao seu ex-partido, tudo normal. Passa um pouco mais de tempo, e ela começa a bombardear o PT como se este fosse o próprio anti-cristo – e, por fim, dá um abraço de afogado em José Serra. O PT da Soninha mudou tanto assim de quando ela saiu dele para o que ele é hoje? Não. Quem mudou foi ela.
É triste notar que não há na questão das duas figuras absolutamente nenhum componente ideológico, nenhum constrangimento por estarem atacando não só o partido que compunham, mas também atacando os companheiros que fizeram ao longo de sua jornada – e, especialmente, atacando sua própria história, pois elas também compuseram o partido, também foram o PT (não dá pra apagá-las das fotos, como fazia o “camarada” Stálin). E, no caso da Marina, ela não só foi um militante do PT, mas também uma pessoa de destaque dentro do partido, candidata a cargos relevantes, como senadora e saiu do partido enquanto ministra, era prestigiada. E agora, porta-se simplesmente como uma traidora.
De fato, parece que a sanha pelo poder suplanta qualquer resquício moral, ideológico ou intelectual que uma pessoa possa ter.
Não só por este motivo, mas também, cada vez tenho menos esperança que um governo – qualquer governo – possa de fato ter ser a solução para os problemas que afligem o país. Qual seria a solução, então? Talvez, a abolição conjunta do Estado e da propriedade privada.
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