A melhor síntese
desses dias conturbados é Oscar Maroni, dono do Bahamas Hotel Club, o puteiro
mais festejado de São Paulo. Na porta do Clube, colocou as fotos de Sérgio Moro
e Carmen Lúcia. E, pelas redes sociais, o vídeo oferecendo cerveja de graça se Lula
fosse preso, e uma semana de graça se fosse executado na prisão.
Um cafajeste
exemplar, o estereótipo perfeito do cafetão do bem, arrotando álcool, fedendo
suor, coçando o saco, mas sabendo, agora, que está do lado dos homens de bem.
Ele está do mesmo lado do Ministro Barroso, do juiz Sérgio Moro, da notável
Carmen Lúcia, do bravo procurador que pediu a antecipação da prisão de Lula
para combater o espírito de onipotência do condenado.
Mostrando-se um
rufião agradecido, Maroni anunciou prêmios variados aos diversos protagonistas
do espetáculo. Ao Sérgio Moro, “pela tua competência como juiz, acabou de
ganhar um vale ingresso vitalício em Bahamas Hotel Club”.
Para a Polícia
Federal, “pela tua coragem e dignidade no cumprimento da função”, cinco
ingressos para quando vierem a São Paulo. Os bravos integrantes do Ministério
Público também poderão sortear cinco ingressos grátis.
Profundo
conhecedor dos procedimentos, Maroni explica que “reparem que escrevi o nome
destas instituições com letras maiúsculas, pois são brasileiros que merecem
destaque pela sua dignidade e eficiência da condução da profissão”. E, para
encerrar, o brado de patriotismo: “Estou orgulhoso novamente de ser
brasileiro”.
Todos estamos.
Graças à Lava Jato, os nostálgicos de Brasil conseguem reencontrar um Brasil
ancestral que parecia enterrado, a raiva rompante dos bandeirantes executando
os gentios, dos jagunços executando os inimigos dos coronéis, do feitor
chicoteando os escravos, dos inquisidores queimando quem não professasse a fé cristã,
do corpo de Tiradentes, queimado e salgado.
Todas as épocas do
Brasil em uma síntese inesquecível.
O modo como
pessoas aparentemente pacíficas, de repente, passaram a fazer eco ao ódio,
lembrava em tudo os cristãos novos que, nos reizados, batiam bumbo com toda
força nas festas dos Reis, para que não despertassem suspeitas sobre a nova fé
abraçada. Olha eu aqui, também estou desejando a morte do Lula, pareciam dizer
a seus chefes, aos vizinhos, à Justiça, aos donos de jornais. Não quero ficar
de fora, também sei arrotar ódio e bater nos mais fracos.
Não houve nenhum
tipo de clemência, nenhuma concessão. O cercado de 15 m2, que receberá Lula na
PF de Curitiba, passou a ser tratado como a sala do Estado Maior. Dois dias a
mais de liberdade, seriam um privilégio inominável. O fato de Moro dar a opção
de Lula se apresentar, um ato benigno de quem tem a força.
Foi o mesmo clima
da AP 470, na qual até a discussão de meros embargos de infringência assumiram
o caráter das votações definitivas. Ao inimigo não se pode conceder nada, nem
os direitos básicos.
Qual a diferença
de Moroni e de âncoras de jornais babando ódio incompreensível, contra um
adversário caído? Nenhuma. Por trás, o mesmo sentimento irracional de
selvageria de uma Klu KLux Klan, das brigadas fascistas. Um homem que teve a
sua casa invadida, a sua cama revirada, suas conversas grampeadas, seus filhos
processados, que viu sua mulher morta pela perseguição inclemente movida contra
sua família. Tudo isso depois do maior feito humanista de qualquer governante,
em qualquer tempo: tirar 40 milhões de pessoas da miséria absoluta. E o único
momento de indignação era quando repórteres, na linha de frente, sofriam alguma
represália de manifestantes.
O que leva esse
pessoal a babar sangue, atiçar a turba, acender a pira até o instante final?
Talvez o medo do tempo, de serem superados pelos jovens que chegam ao mercado
de trabalho. Receio de serem alvos das idiossincrasias dos donos de veículos.
Ou seria apenas o prazer sádico de bater, bater, bater em quem está caído,
descontando nele todas as frustrações e ódios de uma vida.
E, depois, como
bons cidadãos, celebrar a vitória no Bahamas Hotel Club, ao lado de seu sonho
de consumo e de cidadão: Oscar Maroni, o cafetão do bem.
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