quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Clichês da imprensa sobre greve: banqueiro$ mocinhos, bancários vilões - por Claudio Ribeiro (Palavras Diversas)



Por que grevistas são demonizados pela imprensa?

A greve dos bancários tem se prolongado por causa de uma difícil negociação da pauta de reivindicações dos trabalhadores desta categoria e pela intransigência patronal em negociar, revela, também, o quanto ainda persiste um modelo atrasado de concentração absurda de renda nas mãos de poucos executivos, em detrimento do trabalho da maioria trabalhadora.

Mas o que se vê na mídia em geral sobre a greve dos bancários, principalmente na TV, é um apelo demasiado ao telespectador contra os grevistas, com histórias do cotidiano em que mostram o quanto o cidadão comum é prejudicado pelas paralisações.

É óbvio que, qualquer movimento grevista, causa algum prejuízo à sociedade e esta ferramenta só é utilizada em última instância, justamente, para pressionar patrões e mostrar a população o quanto seus serviços são importantes e que merecem ser mais valorizados.
Da maneira como a cobertura jornalística é feita, fica a impressão que é um instrumento banal, acionado por qualquer motivo insignificante, apenas para causar prejuízos.

A imprensa constrói uma imagem de baderneiros sem causa e vagabundos irresponsáveis.
As pautas são subvalorizadas e as falas das lideranças grevistas contrapostas de maneira desigual com o discurso do apelo racional dos patrões, que sempre evocam o momento instável da economia global e a dificuldade em cumprir reivindicações radicais, declarando, finalmente, que as últimas negociações tem havido avanços importantes.

Conflito de intere$$e$

Em vários momentos é possível perceber, pela condução do noticiário das greves, o quão injusta é a luta pelo acordo entre as partes. Os bancos brasileiros obtêm, ano após ano, lucros exorbitantes e mantém um ritmo de intenso de redução de postos de trabalho causada pela automação dos serviços.

Mas esta pauta não é discutida ou anunciada pela imprensa, com o devido destaque que deveria ter. Não há, na cobertura da imprensa, uma análise honesta da perda da massa salarial de categorias que contribuem para o aumento substancial dos lucros das empresas em que trabalham.

A realidade destes trabalhadores não é explorada para mostrar as pessoas comuns o quanto, de acordo com os lucros que ajudam a constituir, são mal remunerados.

Os bancários pedem 11% de reajuste salarial e pagamento de PLR maior, proporcional ao aumento dos ganhos do setor, entre outros itens. Porém, o que não é dito é que o crescimento médio dos lucros dos maiores bancos do país superou os 20% se comparado a 2010, que já havia sido um ótimo ano.

Já os bônus pagos aos executivos cresce, desproporcionalmente aos salários dos empregados, somente o exemplo do Itaú torna evidente a falta de compromisso em tornar justa a distribuição dos ganhos obtidos para todos: A cada membro da diretoria, conforme anunciado, será pago R$5,84 milhões no ano, ou seja, 221 vezes a mais do que o piso do bancário, incluindo PLR e ticket !

Talvez o fato dos bancos serem os maiores patrocinadores de programas jornalísticos da TV brasileira explique, em parte, tamanha má vontade da imprensa contra o movimento grevista dos bancários. O Jornal Nacional, jornalístico de maior audiência da TV aberta brasileira, é patrocinado pelo Bradesco e o Jornal da Globo, pelo Itaú, futebol e Fórmula 1 também possuem patrocínios significativos dos maiores bancos privados do país.

Há certo deboche na divulgação de matérias quando trabalhadores exigem aumento real nos salários, muitas vezes menores que o aumento dos lucros na atividade em que exercem suas funções.

Cobertura de greves com viés político

Até 2002 os movimentos grevistas eram utilizados pela imprensa para amedrontar a classe média brasileira contra a CUT, o PT e Lula, quando as eleições se aproximavam a pauta era recheada de paralisações, país afora, para mostrar o quê seria do país se a esquerda chegasse ao poder: uma ditadura do proletariado...

Os contextos econômico e social eram extremamente adversos, os movimentos grevistas explodiam para resguardar direitos trabalhistas, ameaçados seriamente pelas reformas neoliberais em curso e para preservar minguados e pouco remunerados postos de trabalho.

A chegada ao poder de Lula reverteu isto e hoje os movimentos dos trabalhadores tem como principal pauta dos acordos a valorização da massa salarial do trabalhador brasileiro, como recompensa do esforço de categorias que elevaram economia brasileira da décima primeira para a sétima maior do planeta, o que torna justo e urgente receberem suas partes na produtividade que alcançaram coletivamente.

O governo estabeleceu, recentemente, uma política de valorização do salário mínimo que prevê somar a inflação do ano anterior com o crescimento do PIB de dois anos atrás, como forma de reconhecer a participação da força do trabalho no crescimento da economia do país.

“O Brasil precisa distribuir renda, e isso só acontece por força da mobilização dos trabalhadores por remuneração digna”, é o que defende Carlos Cordeiro, presidente da Contraf e coordenador do Comando Nacional dos Bancários e vai de encontro a este novo momento.

Com informações de agências.

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