segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O país da liberdade

Não deixa de ser cômico que o país que se jacte de ser o mais liberal e democrático do mundo mostre sua verdadeira face quando de fato é incomodado.

Os Estados Unidos incorrem nos mais variados desvios democráticos: não bastasse o criminoso bloqueio econômico contra Cuba, as torturas em Abu Ghraib e Guantánamo, a ocupação de países, o apoio seletivo a ditadores sanguinários, dentre outros tantos equívocos atualmente perpetrados (afora o passado tétrico), quando os protestos se dão de maneira contrária ao que o status quo deseja, aí é um Deus nos acuda.
Recentemente, aturdidos com os protestos de ocupação em Wall Street, a imprensa se calou diante das manifestações – que, a despeito da censura velada, só aumentava de volume. Claro, se fosse um protesto do fascista tea party, como bem destacou um colunista, e houvesse dois mil zumbis no protesto, haveria o mesmo número de jornalistas (também zumbis) cobrindo o evento (a parte mitológica fica por minha conta).
Como se não bastasse a censura branca – tão e tão comum cá por estas plagas – o site Yahoo!, deliberadamente, censurou mensagens que contivessem os termos “protest” e “Occupy Wall Screet”, impedindo que as mesmas fossem enviadas. Quando alguém tentava enviar um e-mail que continha estes termos, recebia de volta a mensagem “Sua mensagem não foi enviada. Sua conta de usuário está associada com uma atividade suspeita”.
Com a pressão da própria internet, o Yahoo! teve de admitir o erro e pedir desculpas.

O fato evidencia, entretanto, como é descabida a interpretação que vivemos em países democráticos, que uma imprensa livre e aberta é garantia indissolúvel de que todas as vozes serão ouvidas. Mesmo após admitir o erro, os protestos prosseguem sendo alijados das notícias, calados, censurados, bem como suas ideias – demasiado incômodas a quem financia a imprensa.
Por aqui, exemplo claro, sequer a vergonha que o Yahoo! atravessou nós ficamos sabendo através dos grandes e velhos veículos de comunicação. E por que não? Ora, como os protestos não são mostrados com a relevância que possuem, como eles poderiam destacar a censura que eles receberam? Seria como dar manchete a algo que não existe. Porque a censura tinha de ocorrer contra alguma coisa. Contra o que? Ora, se o protesto não é mostrado, a censura a ele também não pode ser mostrada.

A verdade é que Rupert Murdoch não era um caso específico, um câncer a ser tratado. Ele é apenas um dos sintomas da metástase.

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