O padrão moral do denunciado Michel Temer, comprovado
publicamente no ardil noturno de Joesley Batista e no seu círculo "de
confiança", mais do que autoriza, pede que se admita a priori a existência
de negociatas embutidas no pacotaço de 57 vendas e concessões de bens públicos,
comunicado pelo governo. Não é preciso discutir se privatizar-por-privatizar
convém ou não aos habitantes e aos interesses do país. Ao lado da admissão, há
outras razões contra a orgia de altos negócios pretendida pela atual
Presidência da República.
Apenas umas 72 horas
depois, ao aviso do pacotaço privatizante seguiu-se o conhecimento de que só 6%
dos brasileiros ainda depositam alguma confiança no governo. Seis brasileiros
em cada cem, constatação feita pela Fundação Getúlio Vargas. É humilhante, com
sua correspondência a 94% da população, a falta de autoridade deste governo
para fazer transações com bens da nação. Mesmo com os mais insignificantes,
quanto mais com empresas e utilidades nacionais do porte essencial de uma
Eletrobras –a maior empresa de geração de energia da América Latina. Governo em
que 94 a cada 100 brasileiros não confiam nem deveria existir: é um dejeto
institucional.
Além da autoridade,
falta legitimidade ao governo para transformar-se em banqueta de comércio. A
afinidade com a camelotagem que, em grande parte, explora o roubo de cargas, é
bem perceptível. A legitimidade, no caso, só poderia vir da representatividade
concedida. O denunciado Temer não a recebeu. Não chegou a vice-presidente por
votação própria, mas a reboque. De uma candidata e dos votos dados a ela e ao
programa escolhido pela maioria do eleitorado. Pacote de privatizações compunha
o programa repelido com Aécio Neves, mesmo quando este era dado como bom moço.
O salvo-conduto que a vice poderia dar, havendo posse como titular, não tem
mais validade porque o denunciado Michel Temer adulterou-o. Como à própria
Presidência da República, a votações do seu interesse pessoal na Câmara e à
probidade exigida do cargo.
Não é supérflua a
notícia sobre o primeiro interessado na compra da Eletrobras, tão logo foi
divulgado o propósito de vendê-la. É José Abdalla, quarto maior acionista da
empresa, maior acionista privado, cuja fortuna ganhou mais R$ 1 bilhão na Bolsa
só com o anúncio da privatização, dono de múltiplos negócios –e integrante do
círculo de amigos do denunciado Temer. Por aí se vê a dimensão da empresa e do
negócio tratados pelo governo como coisa comum, sem estudos amplos e profundos
de suas implicações.
O pacotaço tem também
um aspecto político e eleitoral. Para o ministro Henrique Meirelles,
privatizações no maior número e no menor tempo são um meio de fechar, ou
diminuir muito, o rombo nas contas que sua política de arrocho, em vez de
reduzir como prometido, aumenta. Com isso, ele daria à sua pretendida candidatura
à Presidência o cacife de um alegado êxito sobre o rombo ameaçador.
BRASILEIRINHAS
– São muitos os
embarcadouros na Amazônia. A Marinha não tem como fiscalizá-los todos. E o
excesso absurdo de lotação dos barcos é a norma e a causa de muitos desastres
fatais. Fiscalizar com maior presença e rigor a lotação dos barcos em saída e
chegada, nos pontos mais movimentados, já atenuaria bastante os acidentes. Isso
a Marinha sabe e pode fazer. E está há muito tempo para fazê-lo.
– Título na Folha
(25.ago): "Recurso de Lula foi o que mais rápido chegou à 2ª
instância". É uma informação que já contém a explicação, o histórico e o
motivo do juiz Sergio Moro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário