A ABERTURA COLLOR E O PLANO REAL
Os ensinamentos da História Econômica são essenciais para entender a atual e
profunda crise da economia brasileira. Essa crise não advém de erros da gestão
Dilma apenas. Esses erros existiram, mas de modo algum são a raiz primeira da
atual crise, uma recessão que já dura três anos e não aponta para nenhum
horizonte de solução à vista. Se os erros da gestão Dilma fossem a única causa
da crise, a simples correção apontaria para uma rápida saída, o que não está
acontecendo. Os equívocos do governo Dilma foram de operação, enquanto as
causas da crise são mais profundas, de natureza estrutural e de correção muito
mais complexa.
A recessão
brasileira de 2014 a 2017, vem por um longo caminho de grandes enganos e equívocos
na condução da macro política econômica cujas sementes estão no desmonte da
indústria brasileira, provocada por uma reversão completa de um sólido sistema
de incentivos e proteção que vinha desde o Estado Novo, reversão operada no
primeiro momento do Governo Collor e depois aprofundada pela nova política de
estabilidade monetária artificial implantada pelo Plano Real em 1994.
O sistema
brasileiro de incentivo à indústria é o mesmo e até mais leve daquele praticado
pela Alemanha quando se industrializou atrás da Inglaterra, pelo Japão quando
passou rapidamente de uma economia agrícola feudal para uma potência industrial
agressiva, em um espaço de tempo mais rápido do que potências europeias, pelos
“tigres asiáticos” quando despontaram para ser economias industriais depois da
Segunda Guerra, pela Índia pós independência. Todos os países industriais
fizeram nascer e impulsionar sua indústria com sistemas de proteção e incentivo
em diversos graus, o Brasil praticou a regra, não foi exceção, praticou de
forma racional e cuidadosa, criou empregos excelentes na indústria, abasteceu a
população com produtos adequados ao nível econômico do País e com isso gerou
receita para o Estado e serviços de saúde e alimentação para os trabalhadores.
O Brasil
viveu economicamente de sua agricultura desde os primórdios do descobrimento
até o começo do século XX com a criação da indústria têxtil, mas foi a partir
da Era Vargas que a revolução industrial brasileira deslanchou SOB A PROTEÇÃO
DO ESTADO. O sólido sistema de incentivo à indústria nasceu da substituição de
importação de produtos manufaturados e esse sistema foi se estruturando de
forma escalonada através de leis e organismos, sendo o seu epicentro a partir
da década de 50 a CACEX-Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil, braço
de Governo a quem cabia emitir licença de importação de produtos industriais.
Um
sofisticado sistema de grupos setoriais procurava condicionar a emissão de
licenças a não existência de similar nacional mas ia além. Em milhares de casos
incentivava o fabricante nacional a produzir pela primeira vez produtos que até
então demandavam importação.
Uma
indústria nascida exclusivamente por causa do sistema de proteção foi a
automobilística, nos anos JK, através da atuação do GEIA, comandada pelo
Almirante Lucia Meira. Para fazer nascer essa indústria FECHOU-SE A IMPORTAÇÃO
de todo tipo de veículo, de automóveis a caminhões e tratores, também de peças,
motores e componentes.
Fui
testemunha de todo esse processo primeiro como empresário do setor de bens de
capital e depois como dirigente de sindicato patronal nacional do setor e de
outra associação brasileira das empresas fabricantes de equipamentos elétrico
(ABINEE), interagindo com a CACEX de forma contínua, especialmente com a sua
Divisão Industrial. Essa foi a época da construção do grande parque
hidroelétrico brasileiro que deu um saldo na indústria de bens de capital.
Produtos
como laminadores de siderurgia, hidrogeradores, compressores de grande porte,
bombas centrífugas de todos os tipos, excitatrizes para navios, trocadores de
calor, injetoras, prensas para indústria automobilística, válvulas para
indústria de petróleo, passaram a ser fabricadas no Brasil porque a CACEX examinava
o pedido de licença e consultava os fabricantes nacionais para ver a
possibilidade de produção local, em grande parte dos casos era possível
produzir no Brasil, assim nasceu uma grande variedade de novas industrias absorvendo
a melhor tecnologia disponível do mercado mundial. Era a época em que
engenheiros recém-formados já saíam da faculdade com emprego garantido tal era
a demanda da indústria nacional.
O mesmo
processo foi seguido pela indústria de autopeças, toda ela nascida sob a
proteção da CACEX, sem o que ela simplesmente não existiria. Fui o primeiro
fabricante de motores de arranque para a pioneira Willys, uma das primeiras fábricas
nacionais de automóveis.
As
reuniões na Divisão Industrial da CACEX eram tensas entre importadores e
potenciais fabricantes e foi delas que nasceu o primeiro produto de uma série
que poderia ser fabricada no Brasil e este primeiro produto deu início a uma
linha inteira posterior, mas que começou pelo apoio da CACEX. Sem esse processo,
amparado pela Lei do Similar Nacional, não haveria indústria de bens de capital
no Brasil e também em outa plataforma a CACEX incentivou a fabricação de
matérias primas e metais antes importados, especialmente em metais não ferrosos,
produtos químicos e petroquímicos, papel e celulose.
Foi esse
amplo e sofisticado sistema, operado na cúpula pelo Ministério da Indústria e
Comércio que criou as bases da grande indústria brasileira, o que fez o Brasil
ser uma das dez maiores economias do mundo, o que não era antes da
industrialização.
Foi Vargas
quem extraiu como reciprocidade pela participação do Brasil na 2ª Guerra a
primeira indústria siderúrgica nacional de grande porte, a Companhia Siderúrgica
Nacional, início da segunda fase da industrialização brasileira, depois do
tecido e da farinha.
Todo esse
grande edifício construído a partir da Era Vargas e consolidado no Governo
Geisel como o II Plano Nacional de Desenvolvimento foi desmontado do dia para a
noite nos primeiros meses do Governo Collor, sem nenhum cuidado, a machado e
martelo, com a desculpa de que “nossos carros são carroças”, uma lenda, nossa
indústria automobilística já era a 6ª do mundo em 1990 e a Volkswagen em São
Bernardo tinha 48.000 empregados sob o mesmo teto, hoje tem menos de 4.000
porque de fabricante virou montadora de conjuntos importados da Coréia, do
Vietnã, de Singapura, da Malásia, de 100% do veículo o Brasil recuou para não
mais de 40% do carro, importando conjuntos prontos de câmbio e motor que antes
eram fabricados no Brasil. Por ser um paraíso das importadoras-montadoras o
Brasil é o País do mundo que tem o maior número de fabricantes de veículos
estabelecidos no País, cerca de 60, evidentemente que a grande maioria simples
montadoras com pouca fabricação local, já que no atual modelo industrial
brasileiro se permite a completa importação CKD indiscriminada de conjuntos
prontos, basta um galpão aqui para montagem, retroagimos aos anos 40, quando a
Ford e a GM já montavam veículos no Brasil.
Com isso
a indústria que ocupava 23% do PIB em 1990 tem hoje uma participação de 9% com
a perda de 10 milhões de empregos industriais, enorme perda de arrecadação que
empobrece o Estado brasileiro em impostos diretos, indiretos e contribuições
previdenciárias. Empobrece o Tesouro mas não os encargos, porque as pessoas mesmo
desempregadas continuam existindo e requerendo escolas para os filhos e
hospitais para os adultos, cai a arrecadação mas não caem as obrigações do
Estado, essa a tragédia da desindustrialização provocada pela abertura
irresponsável e leviana em nome de uma suposta sofisticação do consumo de
importados.
Seria
possível uma reforma da Lei do Similar mas com análise da relação custo-benefício,
todo sistema precisa de evolução mas sem a implosão de todo um modelo sólido
que deu resultado, esquecendo que as grandes potências industriais asiáticas
até hoje tem fortíssimos sistemas de proteção à indústria e empregos, como a
China, por exemplo, um País fechado que importa do Brasil soja em grãos, mas não
aceita processamento da soja no Brasil porque precisa preservar empregos
industriais. Todos os países industriais asiáticos protegem a ferro e fogo seus
empregos e só importam alguma coisa quando são absolutamente obrigados por
razões de contrapartida, NINGUÉM ABRIU SEU MERCADO DE GRAÇA como o Brasil irresponsavelmente
praticou com a ABERTURA COLLOR, confirmada e continuada sob uma visão
neoliberal inocente que veio com a “equipe do Real” que passou a usar a
importação como forma de combater a inflação, um troca estúpida, joga-se fora
empregos aqui para combater a inflação com brinquedo chinês e café da Itália,
como se isso fosse a modernização, largando pelo caminho os desempregados e
suas carências.
Vê-se por
essa operação da economia que a perda de empregos no Brasil tem muito a ver com
a obsessão fanática pelas metas de inflação, mais um custo cobrado pela estabilidade
artificial da moeda, preferência pela importação em benefício da estabilidade
sem pensar no custo concreto e direto dessa prática na geração de empregos e
perda de arrecadação.
Um grande
mercado nacional tem enorme valor econômico, ninguém abre mercado de forma
descuidada como fez o Brasil em 1990, abriu com leviandade, como se importar água
mineral francesa e chocolate suíço fosse um sinal de modernidade e não apenas
uma caricatura de país emergente e frívolo, sem projeto nacional, como um
resort de pessoas despreocupadas.
Os
“economistas do mercado” que surgiram na vida política a partir do Governo
Collor e passaram a comandar inteiramente a economia desde o Plano Real fizeram
circular a “lenda” de que para o Brasil ser moderno deveria abrir a importação
completamente e desproteger a indústria nacional. É FALSO. As grandes economias
dinâmicas de nossos tempos, Japão, Coréia do Sul, China, Tailândia, Vietnã, Malásia,
Índia tem POLÍTICA INDUSTRIAL DE LONGO PRAZO e dispensam extremo cuidado com a
proteção e incentivo às suas indústrias.
Política
econômica é escolha, é opção, um País precisa escolher qual a melhor relação
custo beneficio de cada política, não existe política só boa, todas têm
aspectos negativos e positivos.
Inflação
baixa é boa? Sim, MAS A QUE CUSTO? Essas perguntas não são feitas por mentes
simplórias, fanáticas ou mal-intencionadas que sacrificam um País inteiro para
obter uma vitória estatística a ser mostrada na reunião anual do FMI e garantir
um futuro emprego em Washington no próprio Fundo ou em algum banco de Wall
Street, sonho dos “economistas de mercado” que usam países como laboratórios
para embelezar seus currículos.
O PLANO
REAL E A ESTABILIZAÇÃO ARTIFICIAL DA MOEDA
O segundo
equívoco nas raízes da atual crise econômica secular no Brasil foi um plano de
estabilização artificial da moeda que eliminou a inflação apenas na sua feição
gráfica sem resolver antes os desequilíbrios que causavam a inflação.
Eliminou-se o sintoma inflacionário sem eliminar as causas da inflação,
abaixa-se a febre sem curar a infecção que lhe deu origem. Mas para manter a
moeda estável artificialmente era preciso ampará-la com muletas sem as quais a
moeda não fica de pé, ÂNCORAS para segurar o que é mera aparência de
estabilidade.
Foram
usadas DUAS âncoras, a CAMBIAL e a de JUROS ALTOS
Usou-se
desde o início a mais custosa das âncoras, a ÂNCORA CAMBIAL, amarrar o Real ao
dólar, mantendo-se este artificialmente baixo através da intervenção permanente
do Banco Central, a um custo estratosférico. Apenas no primeiro semestre de
2016 a âncora cambial, representada por swaps cambiais vendidos pelo BC,
custaram R$201 bilhões. R$ 201 bilhões em UM SEMESTRE. Nos 23 anos do Plano
Real estima-se o custo da âncora cambial em R$7 trilhões de Reais, dinheiro subtraído
da economia produtiva para manter a FICCÇÃO de uma moeda estável. Para lastrear
artificialmente uma moeda que não tem nenhum dos elementos para ser estável, o
Banco Central precisa ampará-la com imensas reservas externas, hoje chegando a
perto de 400 bilhões de dólares, rendendo 1% ao ano ou pouco mais que isso e
custeada com títulos que pagam juros reais de 6% ao ano, um imenso custo de
carregamento além do custo dos seguros cambiais vendidos ao mercado. Seguro
cambial e carregamento de altas reservas internacionais são apenas parte do custo
da existência do Real como moeda estável de ficção.
A segunda
âncora foi a de juros muito acima da média mundial, varias vezes acima dessa média.
Essa segunda âncora engordou a dívida pública federal em títulos, algo que era
quase inexistente em 1994 e hoje está em R$3,3 trilhões, dos quais ¾, ou seja
R$2,4 trilhões são compostos pela agregação de juros apenas rolados e não pagos
desde 1995.
Outra
parte da dívida pública, estimada em 11% do total é pela incorporação na dívida
pública federal de 43 moedas podre tipo SUNAMAM que existiam antes de 1994, dívidas
velhas sem liquidez e na maioria em processos e sob contestação judicial, absurdamente
declaradas boas, trocadas por títulos líquidos federais, as Notas do Tesouro
Nacional-NTN tão bons como dinheiro vivo. O grosso dessas moedas podres foram
compradas antes por bancos, como se soubessem que iriam ser trocadas,
largamente beneficiados com essa perda do País.
Para completar
o CUSTO DO PLANO REAL, foram privatizados grande parte dos bons ativos da
União, acumulados desde a Primeira República, como a Itabira Iron (Vale do Rio
Doce) Vendeu-se a Vale do Rio Doce, 40% das ações da Petrobras , toda a
telefonia, rodovias, as Light São Paulo e Rio, petroquímicas, toda a
siderurgia, etc. obtendo a União US$109 bilhões que se dissiparam em despesas
correntes e pagamento de juros, na linha “vender a mobília para pagar o
almoço”, o ativo se foi e as despesas e juros continuam.
Os
autores do Plano Real bem definiram seu trabalho como “o fim da Era Vargas”, de
fato, desmontaram todo o ativo acumulado tijolo a tijolo por grandes
Presidentes do Brasil.
O
ENFRAQUECIMENTO DO ESTADO NACIONAL APÓS OS ANOS 90
Uma causa
e também consequência dos processos históricos que estão na raiz da Abertura
Collor e do Plano Real e que permanecem até nossos dias é o enfraquecimento do
Estado nacional brasileiro com notável perda de soberania e foco no interesse
nacional.
As mentes
e almas dos dirigentes brasileiros até 1990 eram, com seus erros e acertos, profundamente
enraizadas na construção histórica do Brasil, políticos de brasilidade forjados
nas lutas pela formação desse grande Estado nacional, o maior da América
Ibérica, o único que manteve intacto o legado do Descobrimento, da cultura e do
território.
Essas
gerações de políticos que chegaram à Era Vargas, moldados pela Primeira República,
eram uma elite de alta densidade nacionalista, expressa na rica literatura do Século
XIX e da primeira metade do Século XX, na riqueza de nossa arquitetura, pintura
e música desse período formativo de um grande País e sua população distinta da América
Espanhola.
Já
especialmente o Plano Real teve como equipe e direção personagens com formação
nos Estados Unidos, alguns com vivência e atividade naquele País, outros com
ligação com bancos e fundos estrangeiros, com uma visão alienada de qualquer
sentido nacional, com projetos pessoais, mas não de País. No Governo FHC a
predominância desse biótipo foi preponderante, perdeu-se aquela ligação
profunda com as raízes do Brasil que vinha da Era Vargas para uma elite
alienada de alma e visão, com um pé no exterior maior do que o pé no Brasil.
Nessa
esteira chegamos até nossos dias como dirigentes culturalmente ligados ao
estrangeiro no comando da economia, mesmo sem desvio de interesse faz com que
sua ação se desligue dos anseios mais arraigados do povo brasileiro para se
vincular a uma visão globalizada no seu sentido mais perverso, não naquela
visão que procura inserir o País no movimento global sem perder a raiz
nacional, como faz a China, mas sim na percepção colonizada de que o
estrangeiro é sempre melhor, bom é ser da metrópole e o Brasil apenas uma terra
de passagem e saque para viver no exterior, o pior tipo de elite que um País
pode produzir, elite de mente colonizada e envergonhada de seu próprio País.
O
enfraquecimento do Estado tornou o Brasil apenas uma moldura geográfica que
cerca o território sem a liderança de um projeto nacional, de uma visão de
futuro, um dos maiores países do planeta sem postura e presença internacional e
sem explicar sua presença no mundo, seu papel regional e civilizatório, seu
lugar nas relações internacionais, sem se orgulhar de ser a maior civilização
multiétnica do mundo atual, de ter o maior patrimônio ecológico do planeta em
fase de dilapidação pelo desprezo com seu próprio futuro.
Essa
ausência de raiz nacional está claramente presente na atual política econômica
brasileira com toda a ação voltada para os “mercados”, eufemismo que significa
voltada para fora do Brasil e para os interesses e sensores que estão no exterior,
como se o Brasil, seu governo e população, fossem um detalhe e não um grande
Estado, um dos dez maiores do planeta.
Todos
esses fatores se refletem na economia, no apequenamento da função de Ministro
da Fazenda e de Presidente do Banco Central, o primeiro sem sequer tocar na
questão nacional, na questão do emprego, na questão da sobrevivência das
comunidades miseráveis pelo Brasil afora, nos 20 milhões de jovens sem emprego,
sem educação e sem futuro empilhados nas periferias, arsenal de montagem do
crime que assola o Brasil de hoje, um Ministro que se liga mais do que nada a
Wall Street e nada ao ethos profundo
da nacionalidade.
No mundo
moderno há um ESPAÇO PARA O ESTADO e um ESPAÇO PARA O MERCADO, não são
excludentes e sim complementares. Nos países centrais de alta renda per capita
o Estado pode ser menor que o mercado, como nos EUA, 28% do Estado e 72% do
mercado. Na Europa o Estado é maior porque o pensar coletivo é equilibrado com
o individual, o Estado tem 40 a 50% da economia, trata-se de opção política do
Estado de bem-estar social e zelador do patrimônio cultural. No geral a
qualidade de vida na Europa é melhor do que nos EUA, em serviços públicos,
cultura, educação e saúde, são opções de sociedades formadas de forma distinta,
os EUA mais para o individualismo e o europeu mais para o pensar no coletivo.
Nos
países de renda per capita baixa, como o Brasil, o espaço do Estado precisa ser
maior porque cabe a ele tarefas que o mercado não irá suprir. É compatível com
o estágio da economia brasileira um Estado com 45% da economia e um mercado com
55%, não é estranho às necessidades do País que um mercado voltado mais para a
classe média não vai atender as comunidades carentes, hoje 70% da população,
cabe ao Estado ampará-las.
Estado e
Sociedade dependem de estágios e estes de cultura e educação, cada País deve
criar as estruturas de Estado adequadas a sua realidade, sem tentar copiar outras
realidades.
A DIFÍCIL
SAÍDA DA CRISE ECONÔMICA
A crise
econômica brasileira é estrutural e o Plano Real transformou erros que poderiam
ser consertados com relativa facilidade em defeitos permanentes cuja reversão é
política.
O ciclo
de alta de commodities mascarou a
crise por vários períodos, dando a impressão de uma evolução da economia que
era só aparente, a prova da não evolução é a estagnação da renda per capita e
pior ainda, sua má distribuição, um País com uma classe média estagnada em 30
milhões de brasileiros e 170 milhões de pobres e remediados, a chamada classe média
baixa. O enorme crescimento das “comunidades”, oceanos de periferias sem
estrutura urbana, aglomerações de casebres sem títulos de propriedade, sem serviços
de saneamento e coleta de lixo, dominados por gangues e milícias é a expressão
da disfuncionalidade do ilusório crescimento de renda em ilhas de alto padrão
nas cidades médias e nas metrópoles, nos condomínios fechados e nos núcleos do
luxo cercados pela miséria, desesperança e criminalidade, uma sociedade se
tornando disfuncional pela desarticulação de seus segmentos, há uma linha de
harmonia onde a pobreza é tolerada porque vislumbra um futuro ainda que remoto,
MAS quando a pobreza não vê futuro a não ser mais pobreza essa sociedade rompe
seus vínculos de classes e se torna disfuncional, rumando para uma implosão.
O Brasil
está nessa disjuntiva que só a política no seu nível mais alto pode resolver.
O Brasil
não sairá da crise econômica com a atual política monetária e cambial que
esgota qualquer possibilidade de investimento público, única ferramenta para
reversão do processo recessivo. É uma simples questão aritmética. Não há no
horizonte um vislumbre nem a longo prazo da possibilidade de um superávit primário
e muito menos um superávit suficiente para pagar os juros da dívida pública.
Nessa conta a única forma de pagar os juros é aumentar a dívida pública com a
agregação dos juros. Esse processo é insustentável. Tem que ter um fim.
A dívida
pública não pode crescer indefinidamente. Há duas saídas simultâneas e somadas:
1. Aumentar
rapidamente o investimento público com emissão de moeda e assim reativar a
economia e aumentar a arrecadação, uma vez que com a redução substancial do
gasto público é impossível a curto prazo a economia crescer. Para isso o modelo
de meta de inflação tem que ser abandonado porque haverá algum risco de
inflação, embora pequena e o Governo não pode ser amarrado a essa meta como
eixo de toda a política econômica, uma só variável não pode reger toda a
economia, nenhum banco central se coloca em tal camisa de força, o Federal
Reserve tem meta de estabilidade conjugada com meta de pleno emprego, meta de
inflação sozinha é uma “moleza” para o Banco Central, derruba tudo e consegue a
meta, é um modelo irresponsável, ridículo, irracional, um País não é só isso.
De
qualquer modo, dado a capacidade ociosa de mão de obra e capacidade instalada de
maquinas e equipamentos há grande espaço para reativar a economia sem inflação.
2. Rebaixar
os juros básicos para inflação + 2% ao ano, se não houver tomadores, pagar a dívida
com emissão de moeda, como fez o Fed no modelo “quantitative easing”. Para
controlar a expansão monetária aumentar o compulsório dos bancos SEM
remuneração, é um absurdo um compulsório remunerado, como gosta de fazer o
Banco Central para alegria do sistema bancário, docemente obrigado a receber
juros, não há algo igual no mundo.
O certo é
que o atual modelo fracassou, está fracassando e fracassará no futuro porque só
atende ao público rentista e não ao conjunto da população brasileira para o
qual existe Governo.
Ao contrário
do que dizem as cassandras da mídia econômica, “os mercados” convivem com
qualquer modelo, se adaptam, a capacidade de conversão é ilimitada, assim
mostra a História.
A
economia brasileira merece mais inteligência do que a atual que a serve com
desprezo.
CONSEQUÊNCIAS
DA RECESSÃO
Uma
recessão duradoura já tocando em pisos de depressão traz como consequência
duradoura a destruição das esperanças de uma ou mais gerações de jovens pobres
entre 14 e 15 anos. Sem o primeiro emprego não haverá o treinamento para a vida
econômica e o Brasil corre o risco de perder 20 milhões de jovens sem
perspectivas a não ser no crime.
A segunda
consequência é a concentração de capital. Enquanto no andar de baixo há uma
devastação nas micro e pequenas empresas, na plataforma do financismo está
ocorrendo uma rápida concentração de capital por meio de fusões e aquisições
bilionárias, o que é algo negativo para o conjunto da população, para o
equilíbrio da economia competitiva e para o poder do Estado brasileiro. Ao lado
desse fator outro ainda pior, a continua venda de grandes ativos como
hidroelétricas, distribuidoras de energia, aeroportos, portos, empresas de água
a grupos estrangeiros, saudados como salvadores da economia estagnada,
completando com a cereja do bolo, a venda de largas extensões de terra a
multinacionais, consequências da depreciação do valor dos ativos brasileiros
causada pelo atual modelo econômico.
Assim,
enquanto a recessão causa danos imediatos pela perda decorrente da ociosidade
da mão de obra e do aparelho produtivo da economia, ao mesmo tempo gera efeitos
duradouros no longo prazo pela mudança de posição nos grandes conjuntos da
micro economia, pela perda de espaço da pequena e média empresa, pelo
fechamento de pequenos negócios, exatamente aquele que dá o primeiro emprego e
o primeiro treinamento para a vida econômica ao mesmo tempo em que favorece a
criação de grandes oligopólios e carteis em todos os setores.
O
revigoramento da economia pelo estimulo monetário tem o condão de romper com
amarras de uma economia bloqueada pelo financismo que surfa na recessão, mais
moeda em circulação dinamizará todos os circuitos de indústria pelo aumento da
demanda, ativando a microeconomia com uma nova corrida pela produção onde a
moeda é menos valiosa do que os ativos reais e produtos físicos, valorizando a
mão de obra e enfraquecendo o rentismo paralisante.
A QUESTÃO
POLÍTICA
A
governabilidade do Brasil com qualquer partido ou Governo no poder é INSUSTENTÁVEL
com a permanência da atual estagnação da economia com claros sinais de
DEPRESSÃO. É muito difícil sair de uma depressão, muito mais difícil do que
acabar com a inflação, quadro cujo remédio é muito bem conhecido a partir do
Plano Schacht que acabou com a hiperinflação alemã de 1923 em seis meses, plano
esse do qual o Plano Real é uma cópia total.
O mundo
econômico sabe como acabar com uma inflação, mas não com a depressão.
O Brasil
está INOVANDO a economia mundial, é a única grande economia na história que às
voltas como uma recessão tem uma política econômica PARA AUMENTAR A RECESSÃO e
provocar a depressão na sequência, de forma deliberada. É o caso de um País e
suas classes dirigentes cometendo suicídio. O Governo não procura sair da
recessão, procura aumentá-la com um modelo pró-recessão chamado METAS DE
INFLAÇÃO e com juros vezes acima da média internacional. Não se vê nos
programas dos potenciais candidatos nenhuma proposta para sair dessa caminhada
para o abismo, o Brasil mais uma vez inovando para o mundo ver.
Comentário
Discordo de vários pontos, dentre eles a emissão de
moeda – seria mais conveniente repatriar uma parte dos títulos públicos, 10% do
valor alocado nos títulos norte-americanos já seriam cerca de 100 bilhões de
reais, uma magnitude que poderia promover um significativo aumento dos
investimentos públicos.
Ainda assim o artigo é válido por
vários pontos elencados.
Estes parágrafos são particularmente
argutos:
“Já especialmente o
Plano Real teve como equipe e direção personagens com formação nos Estados
Unidos, alguns com vivência e atividade naquele País, outros com ligação com
bancos e fundos estrangeiros, com uma visão alienada de qualquer sentido
nacional, com projetos pessoais, mas não de País. No Governo FHC a
predominância desse biótipo foi preponderante, perdeu-se aquela ligação
profunda com as raízes do Brasil que vinha da Era Vargas para uma elite
alienada de alma e visão, com um pé no exterior maior do que o pé no Brasil.
Nessa
esteira chegamos até nossos dias como dirigentes culturalmente ligados ao
estrangeiro no comando da economia, mesmo sem desvio de interesse faz com que
sua ação se desligue dos anseios mais arraigados do povo brasileiro para se
vincular a uma visão globalizada no seu sentido mais perverso, não naquela
visão que procura inserir o País no movimento global sem perder a raiz
nacional, como faz a China, mas sim na percepção colonizada de que o
estrangeiro é sempre melhor, bom é ser da metrópole e o Brasil apenas uma terra
de passagem e saque para viver no exterior, o pior tipo de elite que um País
pode produzir, elite de mente colonizada e envergonhada de seu próprio País.”
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