WASHINGTON - Eu costumo errar todas as minhas previsões. Por isso, ao escrever isso, sei que estou condenando ao fracasso a campanha de Barack Obama. Eu diria hoje, com medo de errar, que a não ser que aconteça uma grande reviravolta na campanha ele é franco favorito para ser o candidato democrata à Casa Branca.
Se ele vence ou não John McCain já é outra coisa. McCain é forte em segurança nacional. Depois de seis anos de paralisia em Guantanamo, o que levou o governo Bush a fazer justamente agora, em plena campanha eleitoral, a denúncia dos seis principais acusados de participar dos atentados de 11 de setembro?
Será que o julgamento deles, por acaso, vai começar em plena campanha? Será que teremos outro ataque terrorista em território americano?
O problema de Hillary Clinton não é que ela perdeu a liderança no número de delegados conquistados. É que ela perdeu a iniciativa política. E Barack Obama é taticamente muito competente. Já afinou seu discurso para falar aos eleitores que podem decidir as prévias de Ohio e da Pensilvânia. Se ele ganhar as duas, leva.
Nem bem tinha celebrado mais três vitórias e adotou um tom francamente populista. Atacou os lucros da Exxon Mobil, atacou indiretamente os baixos salários do Wal Mart, atacou os acordos comerciais que exportam empregos. Isso soa como música para o eleitorado "blue collar", os colarinhos azuis, trabalhadores de classe média baixa que são a penúltima linha de defesa da campanha de Hillary. Hillary preservou intacta sua maioria no eleitorado feminino, o que não é pouco.
Mas Obama está expandindo sua coalizão para além dos jovens, dos independentes e dos mais ricos. Aumentou a votação entre os hispânicos. Tem vencido entre os homens brancos. Os aliados dele já estão prometendo uma rebelião partidária se os cardeais democratas decidirem o jogo com os superdelegados - políticos e burocratas do partido que têm direito a voto na Convenção. São 700 votos.
Para confirmar sua candidatura Hillary Clinton não precisa só vencer no Texas, em Ohio e na Pensilvânia. Precisa vencer de forma decisiva e conquistar 56% dos delegados ainda em disputa nas prévias.
Por isso é hora de saber mais sobre quem seria o mais influente assessor de Barack Obama em política externa: Zbgniew Brzezinski, que foi conselheiro de Segurança Nacional no governo de Jimmy Carter. Apesar de descrever a política externa de Bush como "catastrófica", ele diz que a posição dos Estados Unidos foi colocada em risco por falta de estratégia também de governos anteriores - de Bill Clinton e Bush pai.
Em seu livro mais recente, Brzezinki prega o fortalecimento de um sistema de cooperação internacional; a contenção de guerras civis, a prevenção do terrorismo e da proliferação de armas de destruição em massa e o combate à desigualdade econômica e à crise ecológica. É por isso que Barack Obama, ao discursar, coloca entre suas metas combater a pobreza e o aquecimento global. Brzezinski diz que as desigüaldades causadas ou acentuadas pela globalização enfraqueceram a legitimidade dos Estados Unidos no mundo.
Afirma que o presidente Clinton encorajou o "hedonismo social" da elite americana, a quem acusa de não querer pagar impostos ou se submeter a tratados internacionais. Escreveu que os neocons do governo Bush focalizaram a política externa americana no Oriente Médio sem considerar outros interesses estratégicos. A demonização dos muçulmanos e dos árabes e o apoio irrestrito a Israel, segundo ele, bloquearam uma solução para a crise palestina.
Para ele, a política externa de Bush causou um "desastre geopolítico" ao desestabilizar a Ásia Central, o Oriente Médio, ao estimular o terrorismo e a busca por armas de destruição em massa como defesa contra a política americana de guerras preventivas."A Europa agora está alienada. Rússia e China se impõem e estão mais próximas. A Ásia está se afastando e se organizando, enquanto o Japão silenciosamente avalia como se tornar mais seguro. A democracia da América Latina está se tornando populista e antiamericana. O Oriente Médio está se fragmentando e à beira de uma explosão. O mundo do islã está inflamado pela paixão religiosa e pelo nacionalismo antiimperialista. Em todo o mundo, as pesquisas de opinião mostram que a política dos Estados Unidos é amplamente temida ou desprezada", diz um trecho do livro.O assessor de Barack Obama quer que os Estados Unidos definam os direitos humanos como seu princípio-guia para se reabilitar aos olhos do mundo. Defende que Washington refaça sua aliança com a Europa e incorpore a China, o Japão e a Rússia em entidades multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio.
Brzezinski quer que os Estados Unidos promovam interesses nacionais que também sejam interesses globais. Diz que existem dois riscos se essa política externa não for implementada: a formação de uma aliança entre a Rússia, a China e outros países em um eixo que pode levar o mundo a novas guerras imperiais; uma rebelião populista contra a desigualdade global.
Segundo ele, a desigualdade produz "revolucionários-em-potencial, o equivalente ao proletariado militante dos séculos 19 e 20. O despertar político é agora global do ponto-de-vista geográfico, amplo em escala social, jovem por causa da situação demográfica e assim reativo à rápida mobilização e às fontes transnacionais de inspiração, por causa do impacto cumulativo da educação e dos meios de comunicação de massa. Como resultado disso, o populismo moderno pode ser mobilizado mesmo contra um alvo distante, apesar da ausência de uma doutrina como o marxismo. Somente se identificando com a idéia de dignidade humana universal - com respeito à diversidade cultural, política, social e religiosa - os Estados Unidos podem superar o risco de que esse despertar global se volte contra nós".
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