Para a mídia americana Hugo Chávez é um ditador. E ponto. É impossível argumentar que ele foi eleito várias vezes desde 1998, que promoveu referendos aprovatórios e revogatórios e que, ao perder o principal deles, respeitou o resultado da votação popular. Na época do mais recente referendo o Washington Post ressuscitou Donald Rumsfeld, o desmoralizado ex-secretário da Defesa, para chamar Chávez de tirano.
Mais recentemente, um artigo sem qualquer consistência informativa dizia que Chávez é antisemita, com certeza pelo fato de que ele mantém relações próximas com o Irã, o que é absolutamente normal tendo em vista que os dois países são integrantes da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP). O New York Times já publicou duas reportagens dizendo que Hugo Chávez está cada vez mais enfraquecido na Venezuela, por causa dos problemas econômicos.
"O blefe do senhor Chávez", anunciou recentemente em editorial o Post, assumindo a defesa da gigante de petróleo Exxon Mobil - a empresa que teve o maior lucro na história do capitalismo, U$ 40 bilhões em 2007. De acordo com o jornal, Chávez jamais vai cortar o fornecimento de petróleo aos Estados Unidos porque com o dinheiro que fatura "financia os subsídios e o gasto social para comprar o que resta a ele de apoio popular na Venezuela."
Até acho que foi mesmo um blefe de Chávez. E que ele usa o discurso antiimperialista para mobilizar a população venezuelana. Porém, o Post faz em relação a Chávez o mesmo que a mídia brasileira faz em relação a Lula. Ou seja, acha que ele compra popularidade com programas sociais, como se esses programas não tivessem o mérito de reduzir a pobreza e melhorar a distribuição de renda.
O que eu acho curioso é que as versões publicadas pela mídia americana sobre a Venezuela estão longe da realidade, como eu mesmo constatei quando estive em Caracas para cobrir o referendo aprovatório em que Chávez foi derrotado. O país vive em plena normalidade democrática, com liberdade de imprensa, de expressão, de reunião, religiosa e de manifestação.
Por outro lado, veja os riscos a que você, caro leitor, está sujeito se vier visitar os Estados Unidos:
* É preciso deixar as impressões digitais dos dez dedos ao entrar no país;
* Um funcionário da alfândega pode pedir que você ligue o seu laptop e tem cobertura legal para bisbilhotar o conteúdo, inclusive exigindo que você forneça a senha para arquivos confidenciais. No extremo, pode confiscar o seu computador.
* Se ele suspeitar que você tem ligação com algum grupo terrorista, você pode ser preso independentemente da apresentação de indícios e provas.
* Se você entrar nos Estados Unidos e por acaso for considerado suspeito, o governo pode ouvir as suas conversas telefônicas sem autorização judicial e a companhia telefônica tem imunidade se você decidir processá-la por invasão de privacidade.
* Se você for declarado "combatente inimigo", não tem direito a habeas corpus e, no extremo, pode ser interrogado pela CIA com o uso de um método de tortura chamado de waterboarding, ou afogamento simulado.
* Nesse caso, você não poderá conversar privadamente com seu advogado e todo o correio e as anotações feitas por ele podem ser requisitadas pelo governo. Se o governo tem uma acusação contra você baseada em informações que considera confidenciais, tem o direito de sonegá-las a você e a seu advogado.
* Finalmente, se um míssil Hellfire cair sobre sua casa no Brasil, não estranhe. Os ataques unilaterais contra alvos suspostamente terroristas são o novo modelo para a atuação dos Estados Unidos no Paquistão. Ou seja, eles se dão o direito de atacar sem pedir autorização ao governo do território em que caem os mísseis. E se um civil inocente morrer? Dano colateral.
* É por isso que eu repito: a Venezuela com seus poderosos mísseis é a grande ameaça à paz mundial, já que atropela leis, tratados e acordos internacionais, viola os direitos humanos e, segundo a TV Globo, pode invadir o Brasil a qualquer momento.
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