O Partido Democrata da Califórnia sempre teve voz forte na política nacional dos EUA. Por qualquer parâmetro que se use, é o maior partido, no maior estado dos EUA.
É grupo organizado, de visão ampla que, desde os anos 50, mantém a tradição de produzir e distribuir mensagens vitalmente importantes, da base para os líderes Democratas nacionais. Nos anos 60, os Democratas da Califórnia estavam entre as primeiras e mais firmes vozes que criticaram a decisão do presidente Lyndon Johnson, de ampliar a guerra no Vietnã. Não faziam simples oposição à guerra; estavam ativamente preocupados, com muita razão, com o risco de o governo empenhar recursos de energia e capital políticos, numa guerra errada e desnecessária, e, assim, minar uma presidência Democrata popular e impedir o Partido de implantar sua ambiciosa agenda doméstica.
Considerando essa história e seu peso específico, pode-se dizer que os Democratas da Califórnia sempre tomam partido claro nas questões difíceis e decisivas; e sempre que o fazem, é como se sinalizassem para fora e para dentro do partido, que a opinião pública pode estar em rota de colisão com o presidente Democrata.
Então, o que os Democratas da Califórnia têm a dizer sobre o conflito global que, para muitos, pode ser para Barack Obama o que o Vietnã foi para Lyndon Johnson?
“Ponha fim à ocupação e aos ataques aéreos no Afeganistão por soldados dos EUA”. – Esse é o título de uma recomendação à presidência, discutida e aprovada no fim de semana pelos 300 membros da Comissão Executiva do Partido Democrata da California.
A resolução exige que se estabeleça “o cronograma para a retirada de nosso pessoal militar”; “o fim do uso de mercenários e empreiteiros contratados”; e “o fim dos ataques aéreos, que provocam inaceitável número de mortes na população civil”.
Em vez de manter a presença militar dos EUA no Afeganistão, os Democratas da Califórnia exigem que Obama “revise o direcionamento dos gastos de guerra, de modo que passem a incluir mais recursos para ajuda humanitária e para estimular o desenvolvimento”.
É resolução clara e bom conselho para um presidente que precisa decidir como responder ao pedido de alguns chefes militares, que lhe cobram o envio de mais e mais soldados para uma guerra que, segundo vários observadores experientes, já é um beco sem saída.
Dentre os que defenderam o texto da Resolução aprovada estava o ex-cabo da Marinha Rick Reyes, que falou sobre como sua experiência no Afeganistão levou-o à conclusão de que a ocupação norte-americana é ilegítima e indefensável. “Não há solução militar para o Afeganistão”, disse Reyes, nascido em Los Angeles. “Os problemas do Afeganistão são problemas sociais, que os militares são incapazes de resolver.”
Veterano das guerras do Afeganistão e do Iraque, Reyes foi especialmente duro na crítica contra o regime corrupto do presidente Hamid Karzai, do Afeganistão.
O soldado veterano disse à Comissão Executiva do Partido Democrata da Califórnia que: “Desrespeitamos o patriotismo e o senso de justiça de nossos bravos soldados, homens e mulheres, mandando-os lutar lá, enquanto proclamamos que se sacrificam pela democracia e segurança nacional. Não é nada disso. Eles lá estão, lutando e morrendo, para apoiar nada além de um regime comprovadamente criminoso."
Além de levar Reyes para falar à Comissão Executiva do Partido, os propositores da resolução exibiram clips do impressionante documentário de Robert Greenwald, "Repensar o Afeganistão” [ing. Rethink Afghanistan], para reforçar seus argumentos.
O texto da resolução foi resultado do trabalho de vários autores, entre os quais o jornalista, escritor e cineasta Norman Solomon, figura-chave da campanha “Mais Saúde, Menos Guerra” [ing. Health Care Not Warfare] dos Democratas Progressistas da América e delegado pró-Obama na Convenção Democrata de 2008; Karen Bernal, coordenadora do Progressive Caucus do Partido; e Marcy Winograd, candidata ao Senado para 2010.
Winograd, que disputará numa primária no distrito de Los Angeles, em 2010, contra Jane Harman (empenhada defensora de ampliar a guerra no Afeganistão), a indicação dos Democratas para o Senado, conclamou todos os Democratas de outros estados a emitir mensagens com o mesmo conteúdo anti-guerra.
“Precisamos das vozes progressistas de todos os Partidos Democratas dos vários estados dos EUA. Que todos aprovem e encaminhem resoluções semelhantes, exigindo o fim da ocupação e dos ataques aéreos por soldados dos EUA, no Afeganistão”, disse Winograd:
“É preciso ouvir os veteranos, dar-lhes voz e atenção, convocar os jovens, e exigir o fim dessa ocupação que só faz aumentar a instabilidade de uma região instável. Não há solução militar para o Afeganistão. A solução terá de ser diplomática. E para que se possa pensar em solução diplomática, temos de pôr fim à ocupação, se queremos que os EUA sejam ouvidos com respeito. Sim, trata-se do Afeganistão, no curto prazo. No longo prazo, trata-se do papel dos EUA no mundo.
Queremos continuar a aparecer para o mundo como força global de ocupação? Queremos ser vistos como sugadores globais de recursos escassos – que sugamos, precisamente, das nações das quais mais precisamos como parceiras para construir a prosperidade de todos?
Minha opinião é que a única escolha humana é trabalhar na direção de construir parcerias. Mas essa é também a única garantia de segurança com que os EUA podem contar.”
Tradução: Caia Fittipaldi
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