quinta-feira, 12 de novembro de 2009

E o Globo continua defendendo o golpe em Honduras – por Miguel do Rosário (óleo do diabo)

Merval Pereira é o principal colunista político do jornal O Globo, de maneira que, quando ele dá uma opinião peremptória e repetida sobre um tema, tenho todos os motivos para crer que se trata da opinião do próprio jornal, o jornal de maior circulação do Rio de Janeiro, o único que sobreviveu ao cerco econômico e político do regime militar.

Ontem, sábado, 7 de novembro, Merval Pereira afirmou, categoricamente, e pela enésima vez, que o golpe de Estado ocorrido em Honduras não foi um golpe. Os argumentos são os mesmos de sempre. Mentiras. É tudo muito incoerente. O artigo não consegue se sustentar. É só soprar que ele cai de podre, pois fala em golpismo dos líderes políticos de Honduras ao mesmo tempo que nega o golpe. Afirma que Zelaya foi derrubado porque "tentou mudanças que poderiam abrir caminho para reeleição". Nunca li nada tão ridículo em minha vida. A democracia agora vale tão pouco que podemos derrubar presidentes eleitos por sufrágio popular por conta de meras (e tendenciosas) suspeitas da oposição sobre "mudanças que possam abrir caminho" para isto e aquilo? Merval enche a boca para falar em "cláusula pétrea", outra expressão que os golpistas do Brasil estão usando e abusando para impressionar os incautos. São leguleios, ou seja, não interpretam o verdadeiro espírito da lei. Eles manipulam interpretações da lei para justificar a mais grave violência que se pode fazer à uma democracia.

O presidente da república é o cidadão mais graduado de um país. É a função suprema. O que tem havido, abaixo do Rio Grande, é um constante e sistemático ataque simbólico e midiático à instituição que é, entre todas, a mais genuinamente democrática, porque o presidente da república é o único servidor público eleito com sufrágio nacional e universal. Governadores e parlamentares são eleitos com votos de província. Juízes não passam pelo crivo popular, não são eleitos, nem expostos à rotatividade. O presidente da república é o único eleito por todos os cidadãos de um país e, por isso, é o sucessor simbólico e legal dos reis, dos imperadores, dos magistrados, dos cônsules. Eleito pelo povo, só pode ser removido pelo mesmo ou por um processo estritamente legal, com direito à plena defesa. Merval Pereira omite o principal: ao não ter direito à defesa, ao não ter sequer o direito de reagir verbalmente, Zelaya foi vítima de um golpe vil, covarde e desumano. Não apenas seus direitos políticos foram desrespeitados. Não apenas os direitos políticos de todos os que votaram em Zelaya foram desrespeitados. Os seus direitos humanos básicos foram violentados. Ele foi expulso do país! De seu próprio país! Não se faz isso nem com estupradores, nem com terroristas! Quanto mais com um presidente da república! E Merval Pereira e o Globo vem à público defender isso? Vem defender o golpe? Não me espanta que Merval tenha recebido o prêmio Maria Moors Cabot, o mesmo concedido a Roberto Marinho um ano após o golpe militar de 64, golpe o qual o Globo ajudou a articular e que sempre defendeu entusiasticamente.

É muito grave isso. E a oposição brasileira, não tem nada a falar sobre o golpe? José Serra, como candidato à presidente da república, tinha obrigação moral de dar a sua opinião sobre o golpe de Estado em Honduras. Prefere se manter em cima do muro, para não correr risco de perder votos, demonstrando que é um covarde, um cidadão sem princípios políticos, e que participa da vida pública apenas por vaidade e capricho.

E por falar em falta de princípios, hoje tive uma consciência nítida sobre o risco que o Brasil corre se os tucanos voltarem ao poder. Em entrevista à Folha, o senhor Armínio Fraga disse que a solução para todos os problemas do Brasil seria cortar gastos públicos. Ou seja, esses neoliberais tupis nem sequer fizeram uma autocrítica, nem sequer pensaram em reelaborar um discurso. Armínio Fraga, um dos cérebros econômicos do tucanato, em plena crise econômica mundial, defende algo como demissão em massa de funcionários públicos, redução de gastos em saúde, em educação, em meio ambiente, em assistência social... Sim, porque é nisso que o governo federal tem aumentado seus gastos.

Armínio Fraga ainda tem a cara de pau de falar na necessidade de baixar os juros, logo ele que, assim que assumiu a presidência do Banco Central, elevou os juros básicos do país para 45%! Lembro muito bem disso, senhor Armínio, pois eu era micro-empresário e tinha conta bancária no Itaú, o qual havia me concedido um maravilhoso "cheque especial", presente de grego que se converteu, imediatamente, numa bola de neve terrível e que atrapalhou um bocado nossos negócios.

Eu entendo que o Estado deva ser econômico e cuidar para não se tornar um peso para a sociedade. Mas Armínio Fraga fala na redução de gastos públicos como uma política de Estado, como uma estratégia política, e não como forma de reduzir o custo de vida do cidadão comum. Se houvesse essa preocupação, de reduzir o custo de vida da classe média e do pequeno empresário, ele deveria propor isso, claramente: um pacote de desoneração tributária para a classe média e para o pequeno e médio empresário. Seria inteligente, honesto e justo. Mas não. Ele prega uma redução genérica do gasto público, o que, naturalmente, só prejudicaria o lado mais fraco da população, aí incluindo a classe média a qual, embora não goste de admitir isso, sempre foi uma das principais beneficiadas por um Estado forte.

Mas Armínio vai ainda mais longe: aconselha o governo a reduzir o crédito público. O gênio - provavelmente tão "brilhante" como Daniel Dantas - vai na contramão de qualquer bom senso e sugere, descaradamente, que o governo não continue trabalhando pela inclusão social.

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O gasto público no Brasil não é alto. O Brasil não tem excesso de funcionários públicos e nem esses ganham salários excessivos. Inúmeros estudos, do Ministério do Trabalho, e do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos demonstraram isso cabalmente.

A carga tributária também não é exagerada - apenas, talvez, injusta, onerando excessivamente alguns segmentos sociais apenas "remediados" e, sobretudo, pequenos e médios empresários. Vários estudos comparativos com outros países mostram isso. O que a oposição deveria exigir, se tivesse comprometimento com o desenvolvimento econômico, era a redução dos impostos sobre o salário, pois esse é um problema que prejudica severamente a geração de empregos no país.

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Voltando à Honduras, bem que eu desconfiava que o tal Micheletti não fosse cumprir o acordo. Por isso é tão absurda a comparação entre Zelaya e Micheletti, colocando um golpista desonesto, desleal, mentiroso, violento, covarde, ao mesmo nível que Zelaya, um presidente legitimamente eleito pelo povo hondurenho, e que, até o momento, tem se mostrado uma figura honrada e corajosa.

Os jornais brasileiros se apressaram em lamber as botas do governo americano, tentando, com isso, deslegitimarem qualquer contribuição brasileira para a solução do imbróglio. Se ferraram mais uma vez. Os EUA, ao tentarem desatar o nó de maneira unilateral, envolveram-se no que arrisca ser um tenebroso fiasco diplomático e político, que pode inclusive degenerar numa guerra civil. Em vez de usar as organizações internacionais, como OEA e ONU, como o Brasil sempre defendeu, os EUA tentaram resolver o conflito na base da chantagem imperial, na base do "falar grosso". Deu no que deu.

O ponto mais revoltante é que a mídia brasileira sequer se solidariza com o sofrimento infligido aos funcionários brasileiros e cidadãos hondurenhos que estão na Embaixada em Tegucigalpa. Ao contrário, parece incitar ódio contra os brasileiros.

Serra, aliás, fez sim uma declaração sobre Honduras. Disse que era uma "trapalhada" da diplomacia, mostrando-se desinformado e não solidário com seu próprio país. O que gostaríamos de ouvir, no entanto, é a opinião de Serra sobre o golpe de Estado. Ao defender o golpe, setores midiáticos ligados ao tucanato revelam o apreço torto que tem pela democracia, e o próprio tucanato, ao não tomar posição num tema geopolítico fundamental para as Américas, revela-se um partido desvirilizado, retrógrado, despreparado, com o germe golpista circulando-lhe pelo sangue de barata. O PSDB tornou-se refém de intelectuais de extrema-direita, como Reinaldo Azevedo e Merval Pereira, e afundou-se num lamaçal ideológico onde se vê apenas insegurança, covardia, confusão e conservadorismo. As repetidas declarações contra Chávez, repetidas pelos barões do tucanato, refletem essa irresponsabilidade quase adolescente, de quem precisa se auto-afirmar, e mostram políticos despreparados para governar o Brasil, pois compraram muito levianamente o discurso conservador da mídia, sem atentar para o fato de Chávez ser um presidente da república legitimamente eleito, num país com parlamento, judiciário, ministério público, ou seja, num país perfeitamente democrático, e, o que é importante (porque significa dinheiro, empregos, vida), um país que mantém um gigantesco volume de comércio com o Brasil. O tucanato, ligado apenas aos lordes rentistas, desprezam inclusive o valor do dinheiro oriundo do setor produtivo e exportador, esse dinheiro que se converte em empregos, em qualidade de vida, em alegria, e do qual o Brasil precisa desesperadamente para se desenvolver. É uma diplomacia arrogante e estúpida, porque não vêem como os EUA mantém relações amistosas com a Arábia Saudita, Paquistão e China, mesmo que esses países não compartilhem dos mesmos valores democráticos defendidos pela Casa Branca. A demonização da Venezuela é infantil e contraproducente, e o fato da oposição comprar essas idéias mostra o quanto ela é incompetente. É bom não esquecer que Chávez foi vítima de um golpe de Estado em 2002, e que os meios de comunicação venezuelanos, que hoje se posam de vítimas, defenderam o golpe. Aliás, a mídia brasileira também comprou muito facilmente aquele golpe. Por isso é tão grave que esse mesmo comportamento, esses mesmos valores golpistas, voltem a se manifestar na defesa do regime golpista de Honduras. Cada vez mais a imprensa brasileira faz jus ao epíteto de PIG (Partido da Imprensa Golpista) que o grande público da internet vem lhe dando.

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Quanto ao episódio da moça da UNIBAN, creio que se trata de uma comprovação da tese de Einstein de que existem apenas duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Os estudantes de Relações Públicas terão um case a mais para estudar nas faculdades: sobre como a covardia se converte em prejuízo. Ao menos serviu para alguma coisa: para mostrar o quanto um diploma universitário pode ser inútil. Pior: o quanto pode ser até uma vergonha. Sim, porque se numa briguinha de vizinhos alguém bater no peito e falar que tem faculdade, e outro disser que essa faculdade é a Uniban, o alguém será motivo de chacota.

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