Cláudio Lembo (PSD) foi secretário municipal em São Paulo quatro vezes, candidato a vice-presidente de Aureliano Chaves em 1989, vice-governador e governador de São Paulo. Nesta conversa, Lembo aponta a "falta de debate ideológico" como causa da violência em uma sociedade onde se trava uma luta entre os que podem e os que não podem "consumir com exagero". Para o ex-governador, "a crise é poder o Judiciário", que "se intromete indevidamente no Legislativo a todo momento". Lembo entende ser o PSDB "um partido reacionário como a antiga UDN", um partido "sem raízes na sociedade" e crê "na vitória de Dilma em 2014 no primeiro turno". Lembo diz que José Serra será "candidato a presidente", mas ironiza:
- (…) o povo não quer, aí é um problema entre o Serra e o povo. Me parece que há aí uma situação difícil, ele terá problemas muito graves e terá que procurar um psicólogo para resolver isso, porque povo e Serra não se casam.
Bob Fernandes: Governador, na sua história política o senhor foi da Arena, PFL, DEM, partidos conservadores no espectro político, ou, para usar um termo ideológico clássico, da direita. Quando o senhor era governador de São Paulo, à época dos ataques do PCC (maio de 2006), o senhor foi cobrado, instado a reagir com dureza, com violência até, e o senhor ali reagiu de forma contrária, atacou a elite, chamou-a de “elite branca, reacionária, que produziu a miséria.”. Ali houve uma ruptura sua? Que tipo de ruptura?
Cláudio Lembo: Primeiro psicológica, e da minha parte, e segundo com a sociedade em si, principalmente com a elite que não percebe a realidade brasileira. O que está se vivendo é uma guerra civil. Numa sociedade com exagero consumista como a nossa há quem se revolte… Quando não há uma luta ideológica há uma luta como a que estamos vendo nas ruas de São Paulo, isso no fundo é ausência de ideologia, quando havia ideologia havia conflito de ideias, hoje não há conflito de ideias, há um conflito de consumidores, os que não têm capacidade de consumo agem de todas as maneiras possíveis e agridem… Teríamos que educar, as televisões não deveriam ser usadas para educar para o consumo, mas não, cada vez querem que se consuma mais, quem não tem capacidade para ser consumidor, agride… É aí que eu vejo um conflito entre a elite e a sociedade como um todo…
O senhor tem escrito nos últimos dias, se referido à “crise”. Onde, especificamente, o senhor percebe, localiza a crise?
A crise hoje está no poder judiciário. Se no passado eram militares que criavam crises, às vezes eram alguns políticos que criavam crises, hoje é o poder judiciário… O legislativo como um poder popular, com legitimidade popular, tem agido dentro dos parâmetros de um congresso, de um parlamento, agora os de cargos vitalícios, os ministros do Supremo, dos tribunais superiores, mesmo as cortes locais passam a ter uma visão aristocrática e acham que podem tudo e falam tudo equivocadamente e sem saber…
Há uma intromissão indevida do judiciário a todo momento no parlamento. Param processos legislativos, agem criando normas, dizendo que há paralisia do legislativo. Não há paralisia no legislativo, o legislativo não é uma fábrica de salsicha. Uma lei para ser feita tem que haver grandes debates, fazer audiências públicas, um grande confronto com a sociedade, ouvir a sociedade… Agora, um homem sozinho em seu gabinete em Brasília dá um despacho e viola toda a…
O senhor está se referindo a Gilmar Mendes há algumas semanas…
Ele e o outros, os onze, hoje só são dez. agem, às vezes, um pouco abruptamente.
Há uma semana, em um texto, o senhor elogiava abertamente o ministro Joaquim Barbosa…
É verdade, eu elogiei, ele tinha feito, dito coisas interessantes, mas essa semana acha que ele escorregou… ele não podia chamar os partidos brasileiros de partidos de brincadeira, de brinquedo… Se são de brinquedo, estes brinquedos foram concebidos pelo Supremo Tribunal Federal. Os políticos cortaram na própria carne criando a cláusula de barreira, ou seja, diminuindo o número de partidos de acordo com os votos que obtivessem… Quem criou o brinquedo foi o Supremo Tribunal Federal (ao liberar) não foram os políticos de mandato popular. Portanto, precisam tomar mais cuidado, ele e todos os demais, quando falam com a sociedade, senão criam um sentimento de hostilidade, ilegítimo, e de algo que não é real, não é verdadeiro.
Corrupção. O que sempre se vê é a oposição do momento, o governo do momento, a mídia, tratando de maneira focal, localizada. Como o senhor percebe a corrupção?
A corrupção não é desse ou daquele partido, todos os partidos têm corruptos no seu interior e a sociedade também tem corruptos. A corrupção tem que ser combatida, e eu diria a você que a legislação brasileira é boa para combater a corrupção…a lei de responsabilidade fiscal é notável, a lei de improbidade administrativa é notável. Estão em vigor no Brasil há 20 anos e tem sucesso. Portanto, hoje a corrupção é combatida.
O problema então é que haveria uma “justiça de classe”, assim como há a medicina, a saúde, a educação de classe?
Eu acho que sim. Só olham o parlamento, só olham os políticos e não olham a generalidade da sociedade. Isso é mau.
É um país de corruptos sem corruptores?
Não é um é país de corruptos. É um país como todos os demais países. A Espanha é assim, Portugal é assim, os Estados Unidos são assim… E hoje se combate a corrupção, tem mecanismos de transparência que combatem a corrupção. O que há é uma deformação dos meios de comunicação, que não percebem com clareza as situações que deveriam reconhecer, universalizam coisas muito específicas, o que é mau.
Sucessão presidencial no ano que vem. Quem estará com chances na reta da largada?
Uma previsão muito difícil um ano antes, mas acho que a presidente Dilma tem condições de ganhar no primeiro turno.
E o ex-governador e hoje senador Aécio Neves, eventualmente Eduardo Campos, governador de Pernambuco, talvez José Serra?
O PSDB não terá condições ainda de eleger um presidente da República, o traço do PSDB hoje é um traço rançoso, é o traço de um partido reacionário, que tomou o espaço da antiga UDN, que era um partido que não tinha raízes no povo, com a sociedade. Então não acredito que o governador Aécio, hoje senador, possa se eleger presidente da República… mas, poderá acontecer. E o Eduardo Campos, primeiro, é de um estado que está um pouco isolado do jogo político nacional, em segundo lugar ele é muito jovem e, terceiro, acho que ele foi um pouco assoberbado, avançou antes da hora, quis se lançar nacionalmente, mas era cedo.
Há notícia de que a presidente Dilma teria a certeza de que ele será candidato no ano que vem…
É possível, ela tem mais informações do que eu que estou aqui na planície… ou ela está dizendo isso para queimá-lo… Mas não acredito que ele seja candidato porque os próprios correligionários estão se revoltando contra a posição dele.
E o ex-governador José Serra, que a gente não sabe se será candidato a senador, a presidente?
Não, ele é candidato a presidente. Não tenho dúvida de que o José Serra quando nasceu foi batizado e foi dito a ele: “Será presidente da República”. Agora, o povo não quer, aí é um problema entre o Serra e o povo. Me parece que há ai uma situação difícil, ele terá problemas muito graves e terá que procurar um psicólogo para resolver isso, porque povo e Serra não se casam
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