quarta-feira, 22 de maio de 2013

Políticos de antanho – por Janio de Freitas (Folha de São Paulo)

A insistência de Aécio Neves em negar a divisão no PSDB é própria de uma velhice política desalentadora

Uma curiosidade jamais atendida: que diferença faz para o político ser ou não sincero? Por que tanta dificuldade ou tanta recusa de sê-lo? Nem me refiro a sinceridade mesmo, que entre nós é como um defeito inaceitável, sempre pago por graves consequências. Mas, ao menos, a sinceridade que evite parecer desejo de tapear, o cinismo que a gentileza restante nas ruas apelidou de cara de pau.

Excetuada a baixeza exibida do governador goiano, Marconi Perillo, os duros ataques ao governo Dilma na convenção do PSDB eram o apropriado para um partido de oposição que ambiciona sua difícil volta ao poder. Ou, quando menos, refazer-se como força entre as de real influência. Mas os sinais emitidos nos momentos mais importantes de sua convenção não foram coerentes com a ideia de renovação.

A insistência do novo presidente ali eleito, Aécio Neves, em que não recebe um partido dividido, mas, ao contrário, "mais unido do que nunca", é própria de uma velhice política desalentadora. Dentro e fora do PSDB, não há quem ignore as divisões que são a causa mesma da fragilização do partido.

As ferrenhas vaidades e ambições no núcleo paulista nunca permitiram que o PSDB fosse unido, propriamente. Mas o que alcançou, nesse sentido, nos governos Itamar e Fernando Henrique seria o bastante para demonstrar a tolice do "mais unido" atual. Por que a relutância com a sinceridade mínima de dizer, por exemplo, algo como "estamos aqui reunidos para remodelar nossa unidade e vamos fazê-la"? Nenhuma diminuição na linguagem política, nem no respeito aos fatos sabidos.

A convenção tinha também a finalidade de indicar Aécio Neves como candidato potencial à sucessão presidencial. A finalidade foi demolida pela falta de união. Menos de 48 horas antes, o governador Geraldo Alckmin saiu-se com a posição de que candidatura só deve ser assunto no fim do ano ou no ano que vem. Alberto Goldman, segunda voz de José Serra, dera um contravapor. E ao próprio Serra nem é preciso citar. De quebra, e já na convenção, só admitiu referir-se à união das oposições, não à do partido.

A sistemática dispensa da franqueza levou Aécio Neves a dizer, do mesmo modo, que "ainda não é hora de tratarmos disso", a candidatura, e, pondo-se como candidato, que "não será fácil a nossa trajetória, não me iludo, mas está longe de ser impossível". É e não é.

No gênero, o governador pernambucano Eduardo Campos já bastava para manter a tradição. Com a sinceridade que põe na reiterada afirmação de que o seu "não é um projeto de poder, é um projeto de país". País com ele como presidente.

Salve Marina Silva, por mais que deturpem ou interpretem equivocamente o que diga. Sempre ajudará a mantermos alguma paciência, à parte de concordar-se ou não com o que diga.

AUTOAVALIAÇÃO

Deputado, com passagem problemática pelo governo do Estado do Rio e agora líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha: "Do mal, com certeza, eu não sou".

Modéstia...

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