Desde
Delmiro Gouveia, que teimou até fazer uma usina hidrelétrica no Rio São
Francisco, para fabricar linhas de costura, nos anos 1910, estes tipos tiveram
o mesmo fim.
Como se sabe, Delmiro foi assassinado.
A inglesa Machine Cotton, fabricante das Linhas
Correntes, que havia perdido para ele o monopólio do mercado brasileiro e
latinoamericano em linhas de costura,comprou a Fábrica da Pedra, em Pernambuco.
Quebrou os prédios e atirou as máquinas nas
corredeiras do rio.
Hoje, ler na Folha o pedido do presidente da
Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, pedindo que o Brasil faça
com os Estados Unidos um tratado à imagem e semelhança do NAFTA, com que os
americanos anexaram economicamente seu ex-rebelde vizinho, o México, deu-me
tristeza ver como a elite econômica do Brasil não consegue nos ver senão como
um território econômico colonial.
O argumento é o de que o Brasil vende aos EUA uma
proporção maior de manufaturados, enquanto a China nos importa basicamente
commodities.
Isso seria ótimo, claro, se a perda de barreiras
alfandegárias fosse apenas na porta de saída do Brasil e na entrada nos Estados
Unidos.
O “probleminha” destes tratados é que há o
“vice-versa”.
E o vice-versa, com o fim dos impostos de
importação para produtos americanos – a grande maioria montados a partir de
suas “plataformas” no exterior, significa arrasar nosso mercado interno,
sobretudo na indústria pesada.
Imaginem a alegria das empresas fornecedoras das
petroleiras americanas se puderem, sem impostos de importação, todos os bilhões
de dólares que a exploração do petróleo do pré-sal vai demandar?
Bye-bye, como diz o Paulo Henrique Amorim, conteúdo
nacional. E com ele indústrias e empregos no Brasil.
Um querido ex-cunhado, que viveu no México,
contou-me de sua impressão ao ver, numa manifestação popular, uma faixa onde se
lia: “Más mercado para nuestras artesanías”. É isso mesmo: artesanato.
O Brasil não é um país protecionista. Qualquer
empresa, de qualquer parte do mundo, que queira produzir aqui, não apenas pode
como é paparicada com isenções e dilações de prazos fiscais.
Na China, uma grande empresa que queira se instalar
por lá, é forçada a fazer sociedades locais e produzir de acordo com o que faz
mais falta à economia do pais.
Pergunte, por exemplo, a Embraer se ela entra na
China como se fosse a casa da sogra.
Mas os grandes empresários brasileiros estão longe
de apostar na inovação, na criatividade, na educação e aperfeiçoamento de sua
força de trabalho, na parceria com as universidade.
E se não fosse o “arcaico” estatismo, que mobiliza
o BNDES para os que querem investir em infraestrutura e em conquista de
mercados mundiais – o que, depreciativamente, a imprensa econômica chama de “os
campões do Brasil” – estaríamos retrocedendo em alta velocidade.
Porque há um vício – crônico e confortável – de
viver do chororô tributário, mesmo quando o governo faz desonerações como
jamais aconteceram em nossa história. E a este governo não o apoiaram de forma
consistente na batalha pela redução dos juros.
Quando, entre 2009 e 2011, período em que ganharam
como nunca na explosão de crescimento no Brasil, usaram este caixa para
melhorar suas estruturas e processos produtivos?
Ah,
mas sofrem a concorrência dos importados…
E com acordo de livre trânsito de mercadorias com
os EUA vão sofrer menos?
País nenhum, nenhum, no mundo se desenvolveu de
fronteiras abertas – e qualquer um de nós pode ver como as nossas já o estão em
grande parte. Deveriam se mirar no esforço do país em abrir novos
mercados, na Ásia e na África, e sair como caixeiros viajantes atrás de negócios
vantajosos, o que não terão com os EUA.
Por aqui, “agregar valor”, porém, é algo que se diz
dos “reis dos camarotes”, que vivem do esbanjamento.
Enquanto isso, os micro e pequenos dão nó em pingo
d’água e cambalhotas diárias para ir em frente.
E conseguem.
Olhem aí no gráfico o número de pequenas empresas –
e o projetado para os próximos anos – e de microempreendedores individuais.
Eles já são 25% do PIB brasileiro, mais da metade do emprego e da massa de
salários.
O número de empregos formais quase dobrou, apenas
entre 2008 e 2011: saíram de 8,6 milhões para 15,6 milhões.
Hoje, 69% dos que se tornam empreendedores o fazem
porque vêem nisso uma oportunidade, não por não contarem com outra saída.
Exatamente o inverso de 2002, quando 56% iam fazer algo por conta própria por
necessidade, porque não havia empregos e oportunidades de geração de renda.
Talvez daí nos venha uma geração de empresários que
olhe para seu próprio povo como uma oportunidade de negócios, não como um
desagradável problema.
Porque entre nossas elites nos falta uma
burguesia propriamente dita.
A que está aí vive mais no mundo das finanças do
que no da produção.
Mais do que seus produtos, sonham é em vender o
negócio.
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