Semana
passada, o dito “governo” resolveu apresentar à população seu plano de
emergência econômica diante da propalada crise. Conhecido como PEC 241, o plano
visa congelar os investimentos estatais nos próximos 20 anos, permitindo que
eles sejam, no máximo, reajustados pela inflação do período.
Isso significa, entre outras coisas, que o
nível do investimento em educação e saúde continuará no nível em que está,
sendo que o nível atual já é resultado de forte retração que afeta de forma
brutal hospitais públicos, universidades e escolas federais. Todos têm
acompanhado a situação calamitosa dos nossos hospitais, os limites do SUS, os
professores em greve por melhores condições de trabalho. Ela se perpetuará.
Para apresentar o novo horizonte de
espoliação e brutalidade social, o dito "governo" colocou em marcha
seu aparato de propaganda. Ao anunciar as medidas, foi convocado um
representante de quem verdadeiramente comanda o país, a saber, um banqueiro, o
senhor Meirelles.
Entrará para a história o fato de que uma
das mais impressionantes medidas econômicas das últimas décadas, uma que
simplesmente retira do Congresso a possibilidade de realmente discutir o
orçamento, que restringe o poder de representantes eleitos em aumentar
investimentos do Estado, que os transforma em peças decorativas de uma
pantomima de democracia, foi anunciada não pelo pretenso presidente da
República, mas por um banqueiro.
Este dado não é anódino. Ele simplesmente
demonstra que Michel Temer não existe. Não é por acaso que ele não aparece na
televisão e some em dia de eleição, indo votar no raiar do sol. Quem realmente
comanda o Brasil atualmente é uma junta financeira que impõe seus ditames a
toque de caixa usando, como álibi, a ideia de uma "crise" a destruir
o Brasil devido ao descontrole dos gastos públicos.
O script é literalmente o mesmo aplicado
em todos os países europeus com resultados catastróficos. No entanto, há de se
reconhecer que ele tem o seu quinhão de verdade.
De fato, há um descalabro nos gastos
públicos, mas certamente ele não vem dos investimentos parcos em educação,
saúde, assistência social, cultura etc. Por exemplo, segundo dados da OCDE, o
Brasil gasta 3.000 dólares por aluno do ensino básico, enquanto os outros
países da OCDE – a maioria europeus e da América do Norte, entre outros–
gastam, em média, 8.200 dólares.
A situação piorará nos próximos 20 anos,
já que os gastos continuarão no mesmo padrão enquanto a população aumentará e
envelhecerá, exigindo mais gastos em saúde.
Na verdade, os gastos absurdos do governo
não são com você, nem com os mais pobres, mas com o próprio sistema financeiro,
que se apropria do dinheiro público por meio de juros e amortização da dívida
pública, e lucra de forma exorbitante devido à taxa de juros brasileira. Uma
dívida nunca auditada, resultante em larga medida da estatização de dívidas de
entes privados.
Por incrível que pareça (mas que deveria
ser realmente sublinhado), o plano econômico do governo não prevê limitação do
dinheiro gasto com a dívida pública. Ou seja, fechar escolas e sucatear
hospitais é sinal de "responsabilidade", "austeridade",
prova que recuperamos a "confiança"; limitar os lucros dos bancos com
títulos do Estado é impensável, irresponsável, aventureiro. Isso demonstra
claramente que o objetivo da PEC não é o equilíbrio fiscal, mas a garantia do
rendimento da classe rentista que comanda o país.
Como se trata de ser o mais primário
possível, o dito "governo" e sua junta financeira comparam a economia
nacional a uma casa onde temos que cortar gastos quando somos
"irresponsáveis". Mas já que a metáfora primária está a circular, que
tal começar por se perguntar que gastos estão realmente destruindo o
"equilíbrio" da casa? Por que a casa não pede mais dinheiro para
aquele pessoal ocioso que mora nos quartos maiores e nunca contribui com nada?
Ou seja, já que estamos em crise, que tal
exigir que donos de jatos, helicópteros e iates paguem IPVA, que igrejas paguem
IPTU, que grandes fortunas paguem imposto, que bancos com lucros exorbitantes
tenham limitações de ganho, que aqueles que mais movimentam contas bancárias
paguem CPMF?
É claro que nada disso será feito, pois o
Brasil não tem mais governo, não tem mais presidente e tem um democracia de
fachada. O que o Brasil tem atualmente é um regime de exceção econômica
comandado por uma junta financeira.
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