O que fazer com o sistema globo de comunicação é um dos mais difíceis problemas a solucionar pela futura democracia brasileira. A capacidade de fabricar super-heróis fajutos,
triturar reputações e transmitir versões selecionadas e transfiguradas do que acontece
no mundo, lhe dá um poder intimidante a que se foram submetendo o Executivo, o
Legislativo e o Judiciário. A referência aos três poderes constitucionais da
República resume a extensão do controle que o Sistema Globo detém e exerce
implacavelmente, hoje, sobre toda e qualquer organização ou cidadão brasileiro.
Só ínfima proporção do povo desdenha ser personagem de um fictício Brasil, nas
páginas de seus jornais e revistas, notícias radiofônicas e matérias
televisivas. Ainda menor é o número dos que não se abalam com a possibilidade
de soçobrar nos planos de perseguição e vingança do portentoso vozeirão do
Monstro comunicativo. Nenhum juiz, político, servidor público, organizações do
bem ou do mal, passantes inofensivos e supostos detentores de direitos posa de
valente diante das bochechas do mau humor Global. O Sistema Globo de
Comunicação superou as Forças Armadas e as denominações religiosas, inclusive a
inquisitorial Igreja Católica, na capacidade de distribuir pela sociedade os
terríveis sentimentos de medo, ansiedade e inquietação. Ele é a fonte do baixo
astral e baixa estima dos brasileiros e das brasileiras. O Sistema Globo
converteu-se no gerente corruptor e corruptível do medo político, econômico,
social e moral da sociedade brasileira, sem exceção.
Denunciar a gênese
não contribui para elaborar eficiente estratégia de destruição do Monstro.
Aliás, de que destruição se trata? O Sistema fabricou a mais abrangente e veloz
rede de transmissão de notícias, através de emissoras e retransmissoras associadas,
com comando centralizado e sem rival na sofisticação de sua aparelhagem e na
competência de seus operadores. O Sistema Globo de Comunicações é modelo de
excepcionalmente bem sucedido projeto de formação da opinião pública e de
interpretação conjuntural dos valores cívicos da nacionalidade. É ele quem cria
os amigos e os inimigos do País, mediante o controle, pelo medo, das
instituições políticas e judiciárias. Com extraordinária reserva de recrutas
intelectuais e especialistas, está aparelhada para a defesa de qualquer tese
que a mantenha como proprietária praticamente exclusiva do poder de anunciar,
em primeira mão, o que é a verdade – sobre tudo e sobre todos.
Não é esse poder
tecnológico e de competência que deve ser destruído. Ao contrário, preservado e
estimulado a manter-se na vanguarda da capacidade difusora de notícias e de
valores, bem como em sua engenhosidade empresarial capitalista. O que há a
fazer é expropriar politicamente o Sistema Globo de Comunicações, mantendo-o
autônomo em relação aos governos eventuais (ou frentes ideológicas de
infiltradas sanguessugas autoritárias), e implodir as usinas editoriais e
jornalísticas do medo e de catástrofes emocionais, restituindo isenção aos
julgamentos de terceiros. O Sistema Globo constitui, potencialmente, excelente
opção para um sistema público de notícias impressas, radiofônicas e
televisivas. Politicamente expropriados da tirania exercida sobre o jornalismo
da organização, seus proprietários jurídicos podem manter ações e outros
haveres econômicos das empresas conglomeradas, sem direito a voto na redação do
futuro manual do sistema público de comunicação.
Como está é que não
pode ficar. Ou não haverá democracia estável no país.
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