A revelação em detalhes cinematográficos dos crimes do Aécio Neves e Michel Temer deixa os
integrantes de Curitiba da força-tarefa da Lava Jato numa situação
desconfortável.
Ao longo dos últimos meses, Aécio e Temer
foram citados em dezenas de depoimentos de réus, delatores e investigados da
Lava Jato. Os dois também apareceram em conversas gravadas pelos operadores dos
esquemas de propinas na Petrobrás, Furnas, CEF e em outras estatais.
Apesar disso, o braço curitibano da Lava
Jato nunca encontrou motivos para investigá-los.
As gravações do tucano-peemedebista Sérgio
Machado, publicadas em maio de 2016, são memoráveis. Nelas, Jucá explicou que o
objetivo da camarilha integrada por ele próprio com Temer, Cunha, Padilha,
Geddel e Moreira Franco – todos com apelidos nas planilhas de propinas da
Odebrecht – era derrubar a Presidente Dilma para estancar a Lava Jato.
O juiz Moro, para justificar a fotografia
em que ele e Aécio gargalham como hienas em evento da revista IstoÉ de dezembro de 2016 que reuniu Temer e
a nata política e empresarial do golpe [7 meses após as gravações de Sérgio
Machado virem a público], disse: “Foi um
evento público, e o senador não está sob investigação da Justiça Federal de
Curitiba. Foi uma foto infeliz, mas não há nenhum caso envolvendo ele”.
Em entrevista em março passado, o
procurador Dallagnol tentou explicar da seguinte maneira os motivos para não
investigar os políticos do PSDB: “Não tem
como achar na Petrobrás corrupção de um diretor ou presidente [tucano] até porque não existia diretores
do PSDB”.
Detalhe: o autor do power point infame contra Lula conhecia, há muito
tempo, as denúncias de que US$ 23 milhões roubados por José Serra foram
depositados na Suíça, e que Aécio teria recebido R$ 50 milhões de propinas da
Odebrecht.
Moro praticou o que poderia ser
considerado “camaradagem processual” ao impugnar 21 das 41 perguntas que
Eduardo Cunha encaminhou para Temer responder como testemunha. Através das
perguntas, que denotavam conhecimento íntimo, por Cunha e Temer, do funcionamento
da organização criminosa, Cunha mandava recados e subliminarmente fazia
chantagens – como, por exemplo, continuar participando da distribuição do butim
abocanhado pela camarilha, mesmo preso [aquilo que, sabe-se agora, Temer
confirmou a Joesley Batista: “Temos que
manter isso, viu?”].
Moro agiu como advogado de defesa do
Temer, não como juiz de direito. No despacho de novembro de 2016, apesar da
profusão de delações da Odebrechet e das inúmeras menções ao papel do Temer nos
esquemas de corrupção, Moro escreveu que “não há
qualquer notícia do envolvimento do Exmo. Sr. Presidente da República nos
crimes que constituem objeto desta ação penal”.
Em entrevista em fevereiro passado, Moro
considerou o roteiro das perguntas elaboradas um “episódio
reprovável” de “tentativa
de intimidação da Presidência da República”.
Depois do escândalo que levará Temer à
renúncia ou ao afastamento, um Moro cara de pau sustenta que “não havia, na época da decisão, qualquer notícia do
envolvimento [sic] de Temer nos crimes que constituem
o objeto daquela ação penal” [18/5/2017].
Como se observa, na República de exceção
do juiz e dos procuradores de Curitiba, os corruptos e criminosos Michel Temer
e Aécio Neves eram tratados como anjinhos, como santidades inocentes
beneficiárias de uma elástica interpretação do princípio da presunção da
inocência.
A revelação dos crimes mais recentes que
Aécio e Temer continuaram cometendo, de assalto ao Estado, só teve o alcance
merecido porque a delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista não passou por
Curitiba. Por isso, não puderam ser seletivamente escondidos.
Os fatos autorizam pensar que o braço
curitibano da Lava Jato Moro protegia Aécio e Temer, que tem o efeito de
proteger o golpe e a oligarquia golpista. No mínimo, é testemunho da
parcialidade e da seletividade da Lava Jato.
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