Peça
1 – a fluidez dos movimentos políticos
O quadro politico evoluiu substancialmente nos últimos dias. De um lado, a greve
geral, com a maior abrangência em décadas. De outro, os últimos movimentos em
torno da Lava Jato, com o STF (Supremo Tribunal Federal) finalmente deliberando
sobre a libertação de pessoas detidas com o objetivo de serem pressionadas a
delatar. Finalmente, a Lava Jato entrando nas horas decisivas sem conseguir
cumprir com seu objetivo maior, de levantar provas para sustentar as delações
contra Lula.
Leve em conta que os movimentos políticos são fundamentalmente fluidos.
Em
momentos de catarse, há um curto-circuito geral não apenas nas informações, mas
no rumo dos ventos políticos.
Em
relação a esses movimentos tectônicos, há duas espécies de personagens
públicos: os radares e as birutas.
Radares são que se movem em torno de valores e, por isso mesmo, são as
figuras referenciais que orientam o país, percebem os movimentos das ondas e
permitem ao barco não perder o rumo, mesmo em meio à tempestade.
Birutas (de birutas de aeroporto) são os que seguem as ondas. Em
momentos de vento brando, assumem uma determinada personalidade pública; em
momentos de catarse, outra totalmente distinta, seguindo o que consideram os
movimentos pontuais das marés.
Na
história do país, mesmo no campo conservador estão consolidadas
personalidades-radares como Sobral Pinto, Ulisses Guimarães, Paulo Brossard e o
saudoso Mário Covas.
No
grupo dos birutas de aeroportos, caminham para se transformar em personagens
simbólicos os Ministros Luís Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin, do Supremo
Tribunal Federal (STF), e grupos de deputados e senadores.
Não se deve buscar previsibilidade em suas atuações, isto é, avaliar o
que serão com base no que já foram. A análise deverá levar em conta a maneira
como julgam que a situação política será, para, só aí, então, definirem o que
serão.
Tudo isso torna extremamente complexo o desenho de cenários futuros.
Não é mais A + B + C = X, porque a mudança de A irá provocar alterações
em B afetando o resultado em X.
Mas
permite, por outro lado, conferir a devida relevância aos movimentos maiores de
opinião pública, dos quais a greve geral da última sexta-feira foi um ponto de
corte, atrapalhando o controle total do processo pelos donos do poder.
Antes, um pequeno diagnóstico do momento atual, à luz dos ensinamentos
de Raymundo Faoro, o notável autor de “Os Donos do Poder”.
Peça
2 – o patrimonialismo, de Collor a Barroso
Desde que apresentou seu trabalho no evento da Universidade de Harvard –
qualificando como ensaio uma leitura tosca de Raymundo Faoro – o Ministro
Barroso tornou-se um bom exemplo de como a superficialidade analítica impede o
autor de se enxergar no próprio desenho que ele está delineando em seu
trabalho.
O
trabalho de Barroso mencionou o “patrimonialismo”, de acordo com as definições
de Raymundo Faoro.
É
o mesmo Barroso que se tornou um defensor intransigente da nova ordem, da
restauração que será comandada pelo Poder Judiciário, um modelo claramente
englobado por Faoro no conceito de patrimonialismo.
Diz o inacreditável Barroso, o advogado das Organizações Globo, com seu
peculiar entendimento do conceito de corrupção, e sua invejável capacidade de
relacionar temas históricos:
Acho que estamos refundando o País. Assim
como em 1808 [quando a família real portuguesa se mudou para o Rio de Janeiro]
o Brasil começou, acho que estamos tentando refundar um País, ensinando as
novas gerações que ser honesto é melhor do que ser desonesto. E que, se for
desonesto, vai ter consequências negativas.
Barroso não tem a menor noção sobre os pontos em comum entre a vinda da
família real portuguesa e o momento atual. O principal ponto em comum é a
criação/fortalecimento de um estamento público que desenvolve e passa a
controlar o Estado, implantando
definitivamente o predomínio da plutocracia sobre a Nação. Da mesma maneira que
o Congresso definindo o desenho dos gastos públicos para os próximos 20 anos,
independentemente do que decidirem as eleições.
O
que diz Barroso, o patrimonialista, sobre a PEC 35, enfiada goela abaixo da
sociedade por um governo provisório, empossado no bojo de um golpe parlamentar.
Desrespeitá-la significa predeterminar o
futuro com déficits, inflação, juros altos, desemprego e todas as consequências
negativas que dessas disfunções advêm. A democracia, a separação de Poderes e a
proteção dos direitos fundamentais decorrem de escolhas orçamentárias
transparentes e adequadamente justificadas, e não da realização de gastos
superiores às possibilidades do Erário, que comprometem o futuro e cujos ônus
recaem sobre as novas gerações.
Vamos ver como Faoro analisaria o momento, baseado no trabalho “As
reflexões de Raymundo Faoro sobre a transição política brasileira nos anos 1989
e 1990”, de Maria José de Rezende.
Não há definição melhor desse tipo de comportamento, do que a de Faoro
sobre o início do governo Collor:
“[...] a eternidade tem muitas
encarnações, a do século passado e a de hoje” (FAORO, 1989f, p. 23). A do
presente, ou seja, a da Nova República, reproduzia o estilo burocrático
emoldurado na “[...] insensibilidade, dissimulada em termos técnicos,
incompreensíveis [...]. O jogo não é inocente. Os interesses favorecidos [...]
nada perdem e alguma coisa ganham.
Essa idéia de que podem tudo já expressa,
certamente, uma mentalidade patrimonialista, para a qual não há limites
políticos, éticos ou jurídicos para as suas ações. O despotismo impera. “E se a
Constituição não permitir? Lixe-se a Constituição [...]
É
o mesmo modelo de hoje:
Todas as ações daqueles agentes que se
empenhavam em destruir o jogo democrático se mostravam completamente voltadas a
esvaziar qualquer potencialidade da sociedade civil ao exaltarem medidas
irracionais, magias e milagres. (...)
As mudanças políticas controladas pelos
setores preponderantes, as quais se iam processando na denominada transição
democrática, eram sempre de cima para baixo, reafirmando o seu caráter
estamental; estavam sempre postas a serviço dos mesmos interesses.
Políticos e países subdesenvolvidos são
faces de uma mesma moeda, já que se reafirmavam através de mudanças negociadas
e conciliadas. A chamada Nova República (1985–1990) era o exemplo mais acabado
disso.
Barroso não aprendeu uma lição magistral,
que Faoro recebeu de Neemias Gueiros:
Então, apareceu um velho advogado, um
homem curtido em lutas políticas, que era o Neemias Gueiros, a quem transmiti
minha insegurança. Ele me respondeu que haveria uma coisa em que eu sempre
haveria de ganhar dos políticos: se eu me mantivesse sincero sempre.
Falou a Barroso a coerência para se firmar como referência. Como
declarou o advogado e cientista político Victor Pimenta, “a decisão de Barroso
em PEC 241 nos faz sentir saudades dos tempos em que ele era constitucionalista,
ante a diferença abissal entre o “Barroso Professor de Direito Constitucional”
e o “Barroso Ministro”.
Collor e o momento atual
O
que está em andamento, hoje em dia, é um processo em tudo similar à aliança que
gerou Fernando Collor. A descrição de Faoro sobre o governo Collor se aplica
integralmente ao momento atual, mas passou desapercebido do nosso brasilianista
de boutique.
Primeiro, a falsa visão de conferir desimportância ao Estado, ao mesmo
tempo em que se apropriava dele:
Ações como as de Fernando Collor de Mello
não sufocavam o patrimonialismo ao tentar agir como se o Estado não tivesse
qualquer importância. O governo daquele último, num processo de rechaçamento do
Estado, acabou por potencializar as ilusões de que um ente iluminado poderia
tudo resolver mesmo passando por cima de qualquer compromisso com os ideais
republicanos e democráticos. De fato, a exclusão social e política, a qual é a
seiva que nutre a política patrimonial, continuava a correr nas veias da
sociedade.
As
apostas sucessivas do Poder em Marina, Dória, Bolsonaro repete, à perfeição, as
apostas sucessivas em Quércia, Covas até bater em Collor, e as tentativas
atuais de Aécio e Alckmin, até bater em Dória:
A transição procurou, (...) um caminho que
convencesse mais em termos de centro. Abriu todas as oportunidades para Orestes
Quércia, pois era ele o homem. De certa maneira, acenou também para que o nome
fosse o de Mário Covas, mas não se chegou nem a um e nem a outro. Chegou-se a
um que é inesperado, porém não indesejado dentro do projeto.
Assim como as semelhanças entre 1964, e o 1964 modernizado que se tenta
hoje em dia:
Politicamente, 89 moderniza 64, com um
instrumento tirado dentro do sistema, disciplinado pelo sistema, apoiado pelos
financiadores que se fizeram dentro do sistema e apoiado pelos agentes que
manipulam a opinião.
Em
ambos os casos, há a necessidade da criação de um populista de direita:
E por que um sistema que se encontrava
esgotado continuava ainda fazendo valer suas estratégias? O extenuamento do
sistema podia ser detectado na necessidade de um candidato de direita, como
Fernando Collor de Mello, apresentar-se como que ligado diretamente às massas.
(...) O sistema se renovava tanto com aquele
que foi eleito diretamente em 1989 quanto com aquele que foi indiretamente
eleito em 1984. O sistema se inovava, o que não significava que ele havia
entrado em colapso.
Faoro tirava lições definitivas sobre as instituições brasileiras, sob a
pressão dos fatos:
A lição que o momento ensina tem o mérito
de desvendar o miolo das instituições brasileiras, antes e depois da Carta de
1988. Elas podem ser resumidas em duas palavras: constitucionalismo de fachada
e democracia falsificada e falsificadora.
A
defesa do Estado de Exceção em nome do combate à corrupção, por Barroso, também
foi claramente explicada por Faoro:
Estabelecia-se, no início de 1990, uma
espécie de ditadura hipócrita. A hipocrisia estava no fato de ela negar a sua
própria identidade, tentando mascarar um exercício obstinadamente abusivo da
autoridade.
Faoro fez essa discussão em vista da prisão
da família Temporal (empresários) por dívidas com o Fisco. Naquela ocasião, o
governo Collor apresentava-se como aquele que jogaria duro com o empresariado.
Restaurava-se, assim, a inconstitucional prisão administrativa.
Também se deu conta – ao contrário de seu débil intérprete – a sucessão
de ilegalidades, que se segue à ilegalidade maior:
Desarticulou-se, de um golpe, toda a
estrutura jurídica, para que medrasse, à sua ilharga, uma economia com regras
próprias. A ilegalidade maior gerou, como necessariamente acontece, as
ilegalidades menores, decorrentes daquela, existentes porque aquela existe.
A
criação de figuras midiáticas para o jogo político é nítida no modelo Collor e
no atual. Sempre se sonhou com os Collors, Dorias, Hulks e similares fabricados
pela mídia:
Entre as diversas formas de precarização
cotidiana da democracia e da cidadania, estava, por exemplo, o veto à “[...]
Lei das Inelegibilidades que prolongou a desincompatibilização do pessoal da
mídia. E por que era esse um ato que tinha um significado importante? Bastava
ater-se ao fato de que o presidente Collor estava agindo para garantir que um
número significativo de indivíduos chegasse ao Congresso Nacional em razão de
suas imagens mediáticas. Em relação a ele próprio, a mídia havia tido um papel
central na construção de uma imagem de vitorioso, de vencedor, de arrojado e de
decididamente capaz de mudar o Brasil em favor dos “descamisados”, isto é, dos
mais pobres.
Finalmente, aborda a importância do nascimento de uma nova direita, como
condição fundamental para uma esquerda renovada:
O florescimento de uma nova direita era
condição fundamental para que ocorresse, no Brasil, a constituição de uma
esquerda que deveria renovar continuamente os procedimentos na vida pública
brasileira. Se esta última continuasse tendo como adversária a velha direita,
haveria uma tendência de petrificação de ações políticas que ficariam
essencialmente no registro do modo de agir que se havia processado ao longo da
história do país.
A contínua e íntima relação – através de
alianças e de conciliações – da esquerda com a velha direita se constituía num
fator de emperramento da democracia no Brasil. Reafirmavam-se, assim, de
diversas maneiras, práticas e hábitos fundados na não transparência de atitudes
e de ações. Uma vez no poder, através dessas alianças, se teria a continuidade
e a manutenção do mesmo padrão de domínio baseado em privilégios estamentais.
Peça
3 – os efeitos políticos da greve
A
extensão da greve joga novos fatos no jogo político. E explicita de vez o jogo
entre a nova direita – um arco em que entra o BMF, a Procuradoria Geral da
República, a camarilha de Temer e o PSDB – e a nova esquerda, que ainda não
nasceu.
Uma greve ampla fez a reação contra Michel Temer e o Congresso
transbordar dos movimentos sociais e sindicatos para outros setores, com adesão
de 83 bispos da Igreja Católica, dezenas de colégios particulares de São Paulo,
inúmeras igrejas evangélicas, artistas, intelectuais, praticamente toda a
Justiça do Trabalho, funcionários e parte dos procuradores do Ministério
Público e funcionários da Polícia Federal.
A
greve expôs o racha nacional se alastrando por setores até agora à margem da
disputa, e cravou na testa das reformas o estigma de antissocial. Coloca em
curto-circuito todo o jogo de contrainformação da mídia. Somem-se as pesquisas
de opinião divulgadas nos últimos dias, dando um placar massacrante contra as
reformas, contra Michel Temer e a favor das eleições diretas, para se perceber
o fracasso do golpe: a política se despiu do manto diáfano da fantasia.
No
curto prazo, haverá uma ampliação das pressões sobre os políticos, judiciário e
mídia, às vésperas de um ano eleitoral.
No
médio prazo, a consolidação de uma frente ampla contra o modelo de país que o
golpe tenta enfiar goela abaixo dos cidadãos e que agora está desnudado.
O
castelo retórico criado pela mídia se esboroou, incluindo as ameaças
terroristas, do suposto fim do país sem as reformas.
Peça
4 – o novo posicionamento do Supremo
Durante o processo do impeachment, o Supremo jamais foi desafiado a
analisar o mérito, graças à não-estratégia jurídica do advogado José Eduardo
Cardozo. Só recentemente, após o fato novo – da entrevista de Temer à Band
admitindo o jogo político de Eduardo Cunha - resolveu representar junto ao
Supremo com uma solicitação de liminar de mais de 400 páginas.
Na
semana passada, no entanto, a 2ª Turma do STF ordenou o fim da prisão
provisória de João Carlos Genu (ex-tesoureiro do PP) e de Eike Baptista.
Votaram a favor da libertação os Ministro Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo
Lewandowski; contra, Celso de Mello e Luiz Edson Fachin.
Antes disso, por razões humanitárias a 2a Turma ordenou a libertação do
pecuarista José Carlos Bumlai. Votaram a favor Celso de Mello, Dias Toffoli e
Gilmar Mendes. Edson Fachin e Ricardo Lewandowski votaram a favor da manutenção
da prisão domiciliar –uma condição mais humana do que as prisões temporárias
perenes.
Na
4a feira será o julgamento do habeas corpus de José Dirceu, preso há meses sem
julgamento de 2a instância. Quase certamente será ordenada a sua libertação,
embora Dirceu continue respondendo à condenação da AP 470.
O
que importa é que, finalmente, o STF ganhará coragem para revogar o mais
absurdo instrumento de arbítrio desses tempos nebulosos: o uso da prisão
preventiva como forma de pressão para obter a delação nos termos que o juiz e
os procuradores querem.
De
fato, há uma maioria sólida e não circunstancial na 2a Turma contra esse
instrumento de arbítrio: Gilmar, por agora estar atingindo os seus; Toffolli
por seguir Gilmar e Lewandowski por convicção garantista. Celso de Mello é um
garantista com uma excepcionalidade: o PT. E Fachin é um neo-linha dura.
Agora, toda a pressão da Lava Jato sobre os delatores se concentrará no
fator Lula.
Cena
5 – o adiamento do depoimento de Lula
Para adiar o depoimento de Lula do dia 3 para 10 de maio, o juiz Sérgio
Moro alegou pedidos da Polícia Federal e da Secretaria de Segurança do Paraná.
Mas o motivo central foi a falta de provas contra Lula.
Tanto assim, que a Lava Jato convocou reunião dos advogados da OAS para
os dias 2 e 3 de maio, para discutir as delações da empresa. No dia 4, mais
dois executivos, Roberto Moreira e Agenor Medeiros, ainda vão depor na ação que
apura o tal "Tríplex do Guarujá".
Também se reuniu com advogados especializados em delação, como Antônio
Figueiredo Basto, advogado de Alberto Youssef e Adriano Bretas. Os rumores é
que estaria propenso a aceitar a delação de Renato Duque, ex-diretor da
Petrobras, que há mais de um ano tenta a delação. E também a de Antônio
Palocci. Desde que versassem sobre Lula.
A
última encenação, com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, foi um tiro pela
culatra. Léo entregou a encomenda pedida – a afirmação de que Lula seria o dono
do triplex, mas sem apresentar provas. A Força Tarefa reforçou com provas
ridículas, comprovantes de que, durante um ano, um carro do Instituto Lula passou
por duas vezes no pedágio de Guarujá. O que motivou gozações nas redes sociais:
passe pelo pedágio e ganhe um apartamento.
Ocorre que o ciclo de acusações a Lula já entrou na fase correspondente
à curva de Lafer na economia – conforme boa imagem da senadora Gleise Hofmann.
A curva de Lafer mostra que, a partir de determinado nível de tributação, o
efeito é negativo.
A
Lava Jato entrou em uma enrascada onde, cada tentativa adicional de
criminalizar Lula sem provas concretas, provoca um efeito inverso na sua
popularidade.
Cena
6 – o imprevisível cenário futuro
Há
nítidos sinais de que o monstro saiu do controle dos donos do poder.
A
tentativa de fabricar um novo Collor, com João Dória, esbarra no amplo
amadorismo do candidato. Na ânsia de explorar a radicalização contra Lula, vai
gerando um personagem complicado, dono de uma retórica pobre, repetitiva e
agressiva. É corredor de 50 metros.
Para falar para os MBLs da vida, assume uma retórica vagabunda (termo
que faz parte do repertório dessa direita pedestre), incompatível com um homem
de estado. A sucessão de grosserias, vai moldando – por baixo do macho alfa
grosseiro – uma personalidade antipática, uma espécie de Aécio Neves com uma
jovialidade de plástico – Dorian Gray? -, playboy mal-educado que choca a elite
pela falta de modos e os populares, pelo excesso de arrogância.
No
período Collor, o tempo político corria mais devagar e permitia uma construção
lenta – e sob controle – da Globo. Nesses tempos de redes sociais, não existe
mais esse controle.
Além disso, a mídia já havia sentido o desgaste de anos de jornalismo
militante, de pós-verdade, de manipulação das informações. Nos últimos tempos,
com dez anos de atraso, caiu a ficha que a única maneira de se diferenciar da
miscelânea das redes sociais seria voltar a praticar um simulacro de
jornalismo.
A
recaída com a greve, porém, mostra que a síndrome do escorpião é invencível.
Entram em uma cilada complicada.
Se
continuam a apostar no jogo da desinformação, aprofundarão o buraco em que se
meteram. Se vacilam, há o fator Lula. E foi tão forte a radicalização política
da mídia na última década, que a bandeira central da campanha de Lula
certamente será o da regulação da mídia e do combate implacável à rede Globo.
Manter o jogo atual, portanto, é questão de sobrevivência para a Globo. O que significa que apostará todas suas fichas em Dória, ou em um pacto de ditadura com Bolsonaro ou abolindo as diretas. De qualquer modo, jogará todas suas fichas na condenação de Lula e sua inabilitação para 2018.
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