Subproduto
da desgastada ideologia neoliberal dos anos 80, ressurge o
MITO de que privatizar resolve tudo. Agora se apresenta como razão a ocupação
de estatais por indicados da política, fonte de corrupção que por esse
raciocínio inviabiliza a empresa estatal.
Para evitar
esse risco a solução é vender as estatais. Seria como dizer que para evitar o
carrapato e melhor matar o boi. Estatais vitoriosas existem na França, China,
Noruega, com boa governança. A solução do problema no Brasil é blindar as
estatais do risco de indicações políticas e não vendê-las a qualquer preço para
evitar indicações políticas.
Na realidade
os “privatistas” usam essa razão para justificar privatizações sem critério.
Ao contrário
do que pregam alguns dos sócios remidos do clube carioca de privatizadores,
gente com prazo de validade vencido há muito tempo, a privatização não teve
ainda um bom balanço no Brasil. Os privatistas tem o clássico argumento do
telefone, “antes o telefone era vendido etc.”, esquecendo de falar sobre os
ultra rápidos avanços tecnológicos na telefonia celular que tornaram a
telefonia fixa irrelevante e foi isso que popularizou a telefonia e não a
privatização da rede fixa, sempre registrando que o produto maior da telefonia
privatizada, a OI, FALIU, depois de servir de instrumento para uma série de
falcatruas PURAMENTE PRIVADAS em que se lambuzaram vários “grupos privatizadores”
do Clube do Real, que compraram a Telebrás sem dinheiro, sorveram depois macro
dividendos e largaram o osso como massa falida. ESSE CAPITULO OS PRIVATISTAS
NÃO CURTEM CONTAR, eles gostam de contar a ladainha que a “privatização é
sempre boa para o País, tralalá, tralalá...” nem o disco trocaram desde os anos
90. É chocante que o pré-candidato à Presidência Alckmin tenha selecionado um
ex-muso e uma ex-musa das privatizações dos anos 90 como “conselheiros” de seu
programa econômico, como se o mundo tivesse parado nos anos 90 e o legado de
Thatcher e Reagan não tivesse implodido como pesadelo na crise financeira de
2008, fruto da desregulamentação total do sistema bancário inventada pelos
neoliberais.
Um dos
símbolos da novela NÃO tão cor de rosa da privatização dos anos 90 é o caso da
ELETROPAULO, comprada pelo grupo financeiro americano AES que tem tudo a ver
com finança, criado por dois corretores da Bolsa de Nova York e nada a ver com
empresa de energia vocacionada tecnicamente com uma cultura de engenharia e
inovação.
É
impressionante a queda da qualidade de serviços e a perda de eficiência da
empresa após a privatização. Quando vendida tinha 27.500 funcionários, hoje tem
pouco mais de 3.000, a meta é TERCEIRIZAR tudo, se possível até o escritório
brasileiro do grupo que foi transferido de São Paulo para a margem de uma
rodovia estadual para economizar aluguel. A ELETROPAULO estatal era uma OTIMA
empresa, os funcionários vestiam a camisa e não havia crise financeira ou
operacional, foi vendida para atender a ideologia privatista então na moda.
As quedas de
energia se multiplicaram muito após a privatização, mas esse não é o maior
problema. A tragédia é o TEMPO de religação que no passado estatal era de 1 ou
2 horas, padrão internacional, cito a Luz del Sur de Lima, Peru, com média de
duas interrupções por ano, a ELETROPAULO tem quantidade de interrupções
impressionantes, com religações que começam em 7 horas e chegam em certos
bairros e quadras a 24 horas ou mais.
A razão é a
mesma que gerou a tragédia de Mariana pela ação da SAMARCO: obsessão com a
redução de custos para gerar lucros em beneficio dos acionistas. No DNA da
tragédia de Mariana está a VALE privatizada e seus sócios estrangeiros, todos
só focados em finança.
O núcleo de
comando da ELETROPAULO, como é padrão nesse tipo de empresa oriunda do
financismo de bolsa, é a Vice-Presidência Financeira, o Chief Financial Officer
(CFO), ele é o coração da empresa, no financeiro estão os altos salários e
excelentes bônus, o poder que manda na empresa é o Vice de Finanças é o homem
mais importante da empresa, aliás o último presidente era o anterior Financeiro
promovido a presidente, tudo gira em função dos resultados financeiros que
impactam o preço das ações, os dividendos a remeter, a valorização em benefício
do acionista, a avaliação do mercado e dos fundos de investimento, os bônus são
calculados com base na cotação das ações, o corpo operacional que cuida das
instalações, das estações transformadoras, dos cabos e fios é a terceira classe
do navio, não está nela a preocupação da cúpula de “gurus”, os gênios das
finanças, a alma do grupo, tudo gira em torno do dividendo e da cotação das
ações, é a única coisa que interessa.
Para reduzir
custos e gerar lucros para remeter é preciso ver onde se pode cortar custos até
o osso. Se for preciso 400 equipes terceirizadas de manutenção de rede stand
by, cada uma precisa ser paga permanentemente, então o negócio é cortar para
50, fica muito mais barato.
O outro lado
da moeda é que quando há uma chuva forte a energia cai em 200 lugares e as 50
equipes não dão conta, os reparos de linha tem que esperar numa fila porque o
número de equipes de manutenção é menor que o número de situações a resolver.
Há nitidamente menos equipes de manutenção do que o necessário, isso já tem
sido apontado há mais de dez anos, o próprio Governador de São Paulo deu
entrevistas sobre isso reclamando, está no Google, quem quiser pesquisar
verifique quantas vezes Alckmin reclamou da Eletropaulo em função de quedas de
energia e demora para religar.
O que
aconteceu em Mariana com a implosão da barragem foi falta de manutenção para
cortar custos, esticando a economia até a faixa de risco. Os gerentes
financeiros são premiados por isso, é a cultura do financismo levada até o
ultimo nível da empresa, esticar a corda até o ultimo milímetro antes de
arrebentar mas as vezes ela arrebenta, como em Mariana.
Os que
defendem as privatizações precisam levar em conta que a alegada “eficiência”
que atribuem à empresa privada é eficiência para o acionista e pode NÃO
coincidir com a eficiência para os consumidores e para o País, mais ainda,
muitas vezes a eficiência de curto prazo gera a ineficiência do longo prazo,
corta-se custos no trimestre, mas sacrificando o futuro da empresa.
A
ineficiência atribuída à empresa estatal por sua natureza é falsa. O Brasil foi
construído a partir de 1945 pelas empresas estatais, foram elas as grandes
impulsionadoras do desenvolvimento da infraestrutura, do petróleo, da
construção de aviões, da petroquímica, das maiores hidroelétricas do mundo, do
gás da Bolívia, dos metrôs nas grandes cidades, da PETROBRAS com investimentos
pioneiros na exploração marítima de petróleo, desenvolvendo tecnologia
inovadora de pesquisa e perfuração no pré-sal.
Casos de
corrupção não invalidam o modelo estatal que já teve ao longo da história
brasileira grandes administradores de visão nacional, como Octavio Marcondes
Ferraz, Mario Thibau, Roberto Campos, Faria Lima, Stenio de Albuquerque Lima,
João Camilo Penna, todos executivos de grandes estatais e que legaram grandes
realizações.
As empresas
privadas também têm formas e meios de causar graves prejuízos ao País e à
população por mecanismos de sonegação, cartelização, preços extorsivos, em
relação ao consumidor a empresa privada NÃO é sempre a melhor provedora de
serviços, especialmente em situações de monopólio como são as distribuidoras de
energia elétrica, e quando há corrupção interna através de conluio dos
administradores com fornecedores, algo relativamente comum na empresa privada,
os custos dos produtos e serviços são aumentados por conta desses desvios,
batendo no bolso do consumidor e diminuindo a arrecadação.
Então é uma
lenda que a empresa privada é sempre do bem e a estatal sempre do mal.
A empresa
privada, especialmente as muito grandes, tem um poder político impactante que
pode custar caro ao País e a seus consumidores, ela não é sempre benigna, como
pregam os defensores ideológicos do mercado em qualquer circunstância.
Quando o
Presidente Theodore Roosevelt mandou implodir em seis pedaços o grupo Standard
Oil em 1905 ele visava com isso o interesse público, prejudicado por aquela
empresa privada. O Presidente Kennedy enfrentou o cartel do aço, ameaçando com
prisão os diretores de siderúrgicas. Hoje temos no Brasil um cartel de bancos
privados que cobram juros extorsivos de seus clientes, onde está a benignidade
dos bancos privados brasileiros, muitos deles engrandecidos exatamente pela
compra de bancos estatais que foram na década de 90 estigmatizados pelos
“privatistas” para justificar sua privatização a preços irrisórios?
Na crise dos
subprimes de 2008, o mal foi causado pelos bancos privados e a solução foi dada
pelo Estado americano, naquele momento o capital privado representou o MAL, não
se viu virtude alguma na ação da Goldman Sachs e do Lehman Brothers.
Nos Estados
Unidos, centro do financismo global, não há uma ideologia de privatização como
política de governo, como se quer implantar no Brasil pela ressurreição do
“clube PUC Rio””, os mesmos nomes de 1990 que ainda pregam na mesma cartilha
agora gasta e desbotada, os méritos das privatizações da década de 90 que
trouxeram extraordinários lucros aos banqueiros de investimentos, entre os
quais eles mesmos e patrocinaram alguns grandes fracassos como a OI e outros de
duvidoso benefício ao País como a siderurgia pessimamente privatizada e hoje
com usinas combalidas como COSIPA e USIMINAS.
Nos EUA os
grandes aeroportos são do Estado ou dos municípios, as rodovias são públicas e
não privatizadas (salvo raros casos), portos são estatais, os sistemas de
transportes coletivos nas cidades são de propriedade do município, as usinas
hidroelétricas são federais porque têm interferência com os recursos hídricos,
os trens de passageiros são estatais (Amtrak), assim como empresas de seguros de
hipotecas, de financiamento à exportação (Eximbank), de crédito e seguro
agrícola (Commodity Credit), o Brasil como é usual importa ideologias por
imitação sem fazer triagem e acha que assim fazendo vira moderno por cópia
daquilo que julgam ser a cartilha dos países ricos, nessa transferência de
ideias o Brasil faz muita confusão.
Ao fim e ao
cabo o ciclo de privatizações dos anos 90 não fizeram um Brasil melhor, não
contribuíram para o desenvolvimento e crescimento do País, não criaram
empregos, não melhoraram a distribuição de renda, não abateram a dívida
pública, não diminuíram a carga fiscal, ao contrário, apenas serviram a
banqueiros de investimentos, especuladores e seus associados “economistas de
mercado” que agora voltam com a mesma receita velha e gasta para fazer um
refogado do mesmo plano que propunham no governo FHC em um mundo muito
diferente onde hoje a China, potência econômica em ascensão, opera com uma
enorme linha de frente de estatais, o maior setor da economia, com pleno
sucesso, fazendo a China crescer com as maiores taxas do mundo e ocupando a
cada ano maior espaço geopolítico inclusive no Brasil com a grande onda de
investimentos chineses que se faz, por essas ironias da História, por empresas
estatais chinesas comprando estatais brasileiras, o Brasil na contramão da
História caindo em contos do vigário para se desfazer do patrimônio nacional, o
índio entregando a terra em troca de “espelhinhos” lusitanos.
Nota da Eletropaulo - Enviada em
30/01/2018
A
Eletropaulo reitera os dados em relação à empresa, que são diferentes das
informações publicadas no artigo Eletropaulo – o mito da privatização, escrito
por André Araújo, e publicado no site Jornal GGN em 26/01/2018:
-
atualmente, a distribuidora possui mais de 7 mil colaboradores próprios. E, ano
a ano, a Eletropaulo está aumentando esse quadro;
- a duração
média da religação de energia teve uma redução de seis horas no terceiro
trimestre de 2017, passando de 14,93 horas para 8,68 horas. A distribuidora
consegue mobilizar mais de 3 mil eletricistas para atender à população;
A
concessionária informa que tem ampliado as melhorias e a digitalização da rede,
tanto é que está investindo R$ 4 bilhões no ciclo 2017 - 2021.
Comentário:
Possuo
algumas discordâncias em relação ao artigo, mas a resposta da Eletropaulo é
particularmente acintosa: a empresa se gaba de que o tempo médio para se
religar a energia ter passado de 14,93 horas para 8,68.
Os (dois)
dados são inaceitáveis.
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