A consciência de participar
A participação política deu-me algo muito importante, um sentimento solidário muito forte, a consciência de participar numa luta pela humanidade, com todas as sombras históricas que essa luta teve.
“No me hablen de la muerte porque ya la conozco”, El País (Suplemento El País Semanal), Madrid, 23 de Novembro de 2008
Frente aos exércitos
Jamais nós, escritores, mudaremos o mundo. A arte e a literatura carecem de poder frente aos exércitos. Outra coisa é que o artista, ou o escritor, enquanto cidadãos, intervenham para tornar público o seu protesto, e que as suas palavras possam ter um ou outro eco moral.
Todos os cidadãos, escritores ou não, temos não apenas o dever de dizer mas também de fazer. E não apenas na cara do nosso país. Também de frente para o mundo.
“Israel es rentista del Holocausto”, en ¡Palestina existe!, Madrid, Foca, 2002
Ser impaciente
À paciência divina teremos que contrapor a impaciência humana. Para mudar as coisas, a única forma é ser impaciente.
“La única forma de cambiar las cosas es ser impaciente”, Clarín, Buenos Aires, 23 de Outubro de 2005
De mãos e pés atados
Se o medo, a apatia e a resignação vão ser as constantes deste imenso rebanho da espécie humana, a democracia não tem nenhum instrumento para controlar os abusos do implacável poder económico e financeiro, que comete crimes horríveis. Se não há instrumentos, como se pode continuar a chamar democracia? É uma democracia de mãos e pés atados.
“El paso del gran pesimista”, Semanario Universidad, San José de Costa Rica, 30 de Junho de 2005
In José Saramago nas Suas Palavras
Tantas palavras escritas
Tantas palavras escritas desde o princípio, tantos traços, tantos sinais, tantas pinturas, tanta necessidade de explicar e entender, e ao mesmo tempo tanta dificuldade porque ainda não acabámos de explicar e ainda não conseguimos entender.
In Manual de Pintura e Caligrafia, Ed. Caminho, 6. ed., 2006, p. 133
A liberdade
A liberdade não é mulher que ande pelos caminhos, não se senta numa pedra à espera de que a convidem para jantar ou para dormir na nossa cama o resto da vida.
In Levantado do Chão, Ed. Caminho, 18.ª ed., p. 312
Muito menos que o homem
A propósito, não resistiremos a recordar que a morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem.
O destino das revoluções
O destino das revoluções é converterem-se no seu oposto. As revoluções acabam sempre atraiçoadas por uma simples razão: pela renúncia dos cidadãos a participar […] A doença mortal das democracias é a renúncia do cidadão a participar. Os primeiros responsáveis somos nós ao delegar o poder noutra pessoa que, a partir desse momento, passa a controlá-lo e a usá-lo […].
Andrés Sorel, José Saramago. Una mirada triste y lúcida, Madrid, Algaba Ediciones, 2007
In José Saramago nas Suas Palavras
Promessas e decepções
Nunca ouviremos ninguém dizer que está decepcionado com o capitalismo. Porquê? Porque o capitalismo não promete nada. No entanto, como o socialismo é uma ideologia repleta de promessas também está cheia de decepções.
Essa estranha enfermidade
Nenhuns seres humanos, incluindo aqueles que já atingiram as idades a que chamamos de senectude, podem subsistir sem ilusões, essa estranha enfermidade psíquica indispensável a uma vida normal.
In O Homem Duplicado, Ed. Caminho, 2.ª ed., p. 149
Uma amálgama
Para mim, o importante seria que as culturas da Europa se conhecessem até ao último detalhe, que houvesse uma corrente cultural contínua passando de país em país, quando o que se está a fazer é uma amálgama que diluirá as diferenças para fazer algo que tem um patrão. Quem é esse patrão? Nunca ninguém me responde a essa pergunta.
“José Saramago, un discurso solitario”, La Vanguardia, Barcelona, 13 de Outubro de 1987
In José Saramago nas Suas Palavras
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