A grande disputa política pós-eleições não será entre PSDB e Dilma. Será, mais ostensivamente, entre José Serra e Aécio Neves pelo espólio do PSDB brasileiro. Mais discretamente, entre Serra e Alckmin, pelo comando do PSDB paulista.
Este é Serra. Seu estilo político, sua compulsão, seu perfil psicológico é o do conflito permanente, da desagregação, do estilo trator. Só que desta vez não terá o respaldo de um cargo relevante nem a perspectiva de uma nova candidatura à presidência, seja pela idade, seja pelas mágoas que construiu ao longo de sua carreira.
Em seu discurso de ontem, Serra tentou preservar um legado político que consiste no seguinte:
1. A exploração dos temores de uma classe média assustada, similar ao processo que culminou na Marcha da Família no pré-golpe de 1964. Com a diferença que os tempos são outros.
2. Uma estrutura de militância virtual agressiva e sem limites, que ajudou a espalhar infâmias por todo o país.
3. O apoio de comentaristas da velha mídia, que não abandonarão a guerra santa contra Dilma.
É pouco.
No momento esses grupos apoiam Serra por ainda se estar no calor da campanha. Mas, com exceção da mídia, não são forças que possam ser mobilizadas fora do embate eleitoral. A não ser que Serra pretenda ressuscitar os fantasmas do Padre Peyton, de Penna Botto, do IBAD e virar santinho de procissão.
Quando baixar a poeira, os palanques estarão com Alckmin, em São Paulo, com Aécio no Senado, atraindo parcelas relevantes do PSDB não paulista.
É totalmente fora de cogitação que Alckmin sirva de escada para Serra em São Paulo. O apoio de Alckmin visou apenas preservar a unidade do partido, com um ingrediente que tanto Serra quanto FHC nunca praticaram: a lealdade partidária.
Quando assumiu o governo de São Paulo, a primeira atitude de Serra foi varrer de seus cargos todos os seguidores de Alckmin. Nas eleições para prefeito, apoiou Gilberto Kassab jogando Alckmin para escanteio.
Alckmin representa muito melhor o eleitorado conservador paulista do que Serra. É conservador por formação; Serra, por conveniência. Tem uma postura pública discreta, sem «forçar a amizade» - estilo que o paulista, por formação, detesta.
O Serra que emerge desse campanha, com esse neopopulismo forçado, invadindo casas de pessoas, lendo a Bíblia, é mais falso do que Cds da Santa Ifigênia. Conseguiu o cacife em São Paulo praticando campanha negativa. Muitos votaram contra Dilma; poucos votaram nele.
Alckmin tem relacionamento ótimo com os prefeitos, ao contrário de Serra que sempre os tratou com desprezo. É religioso mas não explora a religiosidade. Em Alckmin, o paulista conservador depositará seu voto sem torcer o nariz.
No plano nacional, será impensável pensar que Serra conseguirá se impor. É desagregador, não terá plataforma de apoio sequer em São Paulo. Na campanha, não conseguiu criar uma imagem positiva para se contrapor ao lulismo.
Ainda levará alguns meses até a poeira assentar de vez. Assim que os ecos da batalha estiverem distantes, o PSDB terá duas novas lideranças, ou disputando espaço ou se acertando entre si: Aécio no plano nacional, Alckmin no plano federal.
A Serra e FHC restarão as entrevistas periódicas ou artigos nos jornalões: FHC falando de país, de conceitos, dando o tom; Serra se lamentando e discursando contra a corrupção e a favor de Deus, da pátria e da família.
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