sábado, 15 de setembro de 2012

As reformas temporárias e permanentes no capitalismo - por Morales (Blog do Nassif)

A Europa está provando que reformas, dentro do capitalismo, sempre são temporárias. E, na Europa, para implementá-las, foi preciso o "medo do comunismo", configurado na existência da URSS e de fortíssimos movimentos operários. Os apoiadores do PT pretendem que o partido faça reformas permanentes no capitalismo (reformas que estamos esperando que aconteçam, pois o que temos visto foi a manutenção de uma altíssima taxa de exploração do trabalho, só que num contexto de crescimento econômico; ou seja, os banqueiros e grandes capitalistas tiveram lucros imensos. E os trabalhadores tiveram umas migalhas, que, no entanto, dada a miséria anterior e o neoliberalismo da direita tradicional, parecem ganhos significativos. Só que, em termos relativos, como sempre, quem ganhou foi a burguesia, havendo só uma redistribuição da renda entre setores dos assalariados com alguma coisa sobrando para os mais miseráveis.) sem mobilização social (que o PT tem, sistematicamente, sabotado, desmobilizando e garroteando sindicatos e movimentos populares), em aliança com setores da direita (ou seja, querem acabar a exploração em aliança com os exploradores!) e sem nenhuma ameaça de um sólido movimento revolucionário internacional.

Sugiro que você leia Rosa Luxemburgo, Reforma ou Revolução:

http://www.marxists.org/portugues/luxemburgo/1900/ref_rev/index.htm

As reformas são arrancadas da classe dominante quando esta se sente ameaçada e prefere fazer concessões a perder a posição de classe dominante. Acreditar que é possível fazer reformas significativas sem imensa pressão social (e pior: em aliança com setores da classe exploradora é de uma ingenuidade ou má-fé sem tamanho).

Você pega como exemplo da esquerda revolucionária o PSOL. É conveniente para o argumento petista, mas completamente equivocado. Eu costumo dizer que o PSOL é o PT com progéria, porque, em pouquíssimos anos, tem reproduzido todos os defeitos que levaram o PT ao estágio de oportunismo atual: a ênfase em lideranças carismáticas e midiáticas, a irresponsabilidade dessas celebridades para com a disciplina partidária, a nefasta disputa de correntes pelo aparelho partidário tomando boa parte do tempo e dos esforços da militância, a lógica de frente de partidos nanicos (as tendências), cujos militantes não se centralizam pela decisão da maioria do partido, o eleitoralismo a todo custo, posto à frente da organização e mobilização das massas, a falta de critério para seleção de candidatos, permitindo a entrada e ascensão de oportunistas, etc., etc., etc.

Há muitos defeitos, limitações e deficiências no resto da esquerda classista e revolucionária. Sem uma crítica e uma autocrítica séria, corre-se o risco de que não se construa uma alternativa ao oportunismo do PT. Mas essa esquerda não deve ser, de nenhuma maneira, propositiva no sentido de melhorias para o funcionamento do sistema. Ela tem de almejar a derrubada do sistema. As melhorias devem ser arrancadas pela mobilização e pela luta. É a acumulação de forças para a superação do capitalismo que pode, no processo, permitir conquistas e reformas duradouras (que, no entanto, só podem ser preservadas com a superação da sociedade exploradora). O resto é semear ilusões, que serão dissipadas à primeira crise séria do sistema, com a costumeira traição dos oportunistas cada vez mais adaptados às instituições da burguesia. Foi assim em todos os processos - muitos deles muito mais profundos e duradouros do que as migalhas que o PT tem distribuído timidamente - protagonizados pela esquerda reformista (e chamar o PT de hoje de reformista é ser muito caridoso!).

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