Há diversas formas de coragem, das quais a bazófia
é a caricatura. Há a bazófia por ambição, vaidade, oportunismo, medo.
Presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia é cultivadora da bazófia.
Por ambição, investiu no relacionamento com alguns
dos mais célebres juristas brasileiros, cobrindo-os de consideração e de pães-de-queijo.
Subiu de carona em valores como o do respeito às diferenças, à diversidade, o
cultivo da tolerância, em um tempo em que era bom negócio ser politicamente
correto, pois fechava os olhos da opinião pública a outros atributos, como
competência e conhecimento.
Assim que foi anunciada sua posse na presidência do
STF, Carmen Lúcia inundou o país de frases vazias, que a retratavam como a
dirigente corajosa e solidária.
Por vaidade, bradou: "Onde um juiz for
destratado, eu também serei". Depois, por ambição, prima irmã da
covardia, endossou investigação contra os quatro únicos juízes federais que
ousaram questionar o impeachment.
Por oportunismo, tentou se mostrar superior à
presidente caída: "Eu fui estudante e eu sou amante da língua portuguesa.
Eu acho que o cargo é de presidente, não é não?” E apenas demonstrou covardia,
por avançar contra pessoa caída, e ignorância, porque o português prevê as duas
formas.
Dentre as inúmeras frases de manual, uma definição
de ética: "Ética não é uma escolha. É a única forma de se viver sem o
caos". O que a nobre frasista quis dizer? Se não é escolha, então seguir
princípios éticos é obrigação. Ou por vias legais – tratando parte das
manifestações de intolerância como crime –, ou pela condenação social
contra atos corriqueiros, como conversar no cinema, berrar em restaurantes,
manter conversas sexistas com autoridades diversas, defender a violência como
solução.
Era nesse sentido – de que a ética não é uma
escolha – que os exames do ENEM, destinados a selecionar a futura elite social
do país, definiram a nota zero para redações que afrontassem esses princípios.
Não são princípios vagos, mas aqueles reconhecidos
pelas cortes internacionais, pela ONU, que integram os códigos civilizatórios
das nações.
A PGR (Procuradoria Geral da República) e a AGU
(Advocacia Geral da União) definiram objetivamente os critérios a serem
considerados: menção ou apologia à defesa da tortura, mutilação, execução
sumária ou qualquer forma de justiça com as próprias mãos. Incitação a qualquer
tipo de violência motivada por questões de raça, etnia, gênero, credo, condição
física, origem geográfica ou socioeconômica; explicitação de qualquer forma de
discurso de ódio.
O que disse a Escola Sem Partido? O ENEM acaba
impondo respeito ao "politicamente correto, que nada mais é do que um
simulacro ideológico dos direitos humanos propriamente ditos".
E teve o endosso total de Carmen Lúcia, a jurista
que subiu nas asas do politicamente correto, que fez carreira escudando-se em
juristas consagrados na arte de defender os direitos fundamentais, como
Sepúlveda Pertence, Celso Antônio Bandeira de Mello e Fábio Konder Comparato.
A frasista que sustentou que ética é obrigação,
liberou geral:
"Não se desrespeitam direitos humanos pela
decisão que permite ao examinador a correção das provas e a objetivação dos
critérios para qualquer nota conferida à prova. O que os desrespeitaria seria a
mordaça prévia do opinar e do expressar do estudante candidato (...) Não se
combate a intolerância social com maior intolerância estatal. Sensibiliza-se
para os direitos humanos com maior solidariedade até com os erros pouco
humanos, não com mordaça".
Entenderam?
Data venia, a frase entrará para a história do
Supremo como uma das grandes imbecilidades já cometidas pelos Ministros. Carmen
Lúcia quis dizer que a maneira de combater a intolerância é tendo solidariedade
com a falta de tolerância, os chamados “erros pouco humanos”. E ter
solidariedade, na opinião desse gênio do direito, é dar uma boa nota no ENEM
aos “erros poucos humanos” – ou não é sobre isso que se está discutindo?
Vive-se um momento em que a selvageria está
derrubando todos os muros das convenções sociais, das normas básicas de
civilidade e da própria legislação. A atitude de Carmen Lúcia convalida esse
jogo bárbaro.
Duas de suas frases prediletas foram: "o
cinismo venceu a esperança" e "o escárnio venceu o
cinismo".
Que frase Carmen Lúcia escolheria para o desempenho
de Carmen Lúcia?
"Princípios são degraus de uma escada
utilizada para atingir o poder. Chegando ao alto, a escada só serve para
descer. Razão por que, se torna inútil e deve ser descartada”.
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