A guia responde: - Não há mais incas, somos todos andinos.
Eu perguntava pelo destino dos 6 milhões de incas que habitavam Cusco, a capital do Império Inca - cujo nome quer dizer, literalmente, "umbigo do mundo", - quando chegaram os colonizadores espanhóis.
Eles eram cerca de 6 milhões, tinham uma das civilizações mais avançadas do mundo na época. Foram dizimados. Em 5 anos estavam reduzidos a 1,6 milhões, escravizados. Todos os que compunham a elite - política, religiosa, científica, cultural, militar -, uns 300 mil, foram liquidados em pouco tempo, cortando as possibilidades de sobrevivência daquela civilização.
Todos os conhecimentos acumulados em astronomia, em arqueologia, em culinária, em religião, em agricultura, foram liquidados.
Como se fica sabendo perto dali, em Machupicchu - “Montanha Velha“, - os incas sabiam da circulação da terra em torno do sol, antes de Galileu. Muitos viviam mais de 100 anos, a ponto de que a Universidade de Machupicchu tinha professores de 120 anos.
Em Machupicchu viviam uns 600 ou 700 indígenas, até que um antropólogo norte-americano, Hiram Bingham, “descobriu” a cidade em 1911, levado por um menino que vivia no local. Quando os espanhóis tomaram Cusco, o chefe inca retirou-se para Machupicchu, reuniu todo o ouro e a prata e, para não entregá-la para os colonizadores, fugiu na direção da Amazônia. Daí nasceu o mito de Eldorado, que seria a cidade fundada e construída só de ouro e prata. O chefe inca conseguiu matar ao chefe dos colonizadores, Francisco Pizarro, em um combate.
Como reação recente ao papel de Pizarro, sua estátua foi retirada da principal praça de Lima e deixada em um parque central. Quanto ao antropólogo dos EUA, sob acusações de que teria roubado lingotes de ouro remanescentes e de que não foi o “descobridor” de Machupicchu, como confirma livro de seu filho, baseado em seus próprios diários. A luta dos habitantes locais agora é tirar-lhe esse título falso e atribuí-lo aos indígenas que já viviam em Machupicchu quando ele chegou, especialmente a Agustin Lizárraga, que em 1900 já havia chegado a Macchupicchu, mas também a seus conterrâneos Melchior Arteaga, Justo Ochoa, Gabino Sanchez e Enrique Palma.
Pela destruição causada por aqueles de quem é descendente o rei da Espanha - que, talvez pelas tragédias que produziram entre nós, quer que nos calemos -, é difícil imaginar o que seria o Peru de hoje - assim como a Bolívia, o Equador, a Guatemala, o México, o Chile, a Colômbia, entre outros de nossos países, se os povos originários não tivessem sido destruídos e, com eles, suas civilizações, suas culturas, suas formas de vida. Teriamos uma América Latina ainda mais diversificada e relações de igualdade com os países europeus, caso estes não tivessem se enriquecido com os massacres que promoveram na colonização.
Aliás, como deveriamos chamar à destruição das civilizações originais e a escravidão desses povos e dos negros, trazidos à força da África, para ser escravos e produzir riquezas para as potências européias? Massacres? Limpezas étnicas? Crimes contra a humanidade? Foi com esses banhos de sangue que o capitalismo chegou às Américas, trazido pelos colonizadores europeus. Esses mesmos que gostaríamos que nos calássemos sobre as barbaridades que eles cometeram contra nossas civilizações.
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