A estratégia adotada por Daniel Dantas – de desqualificação de juízes e críticos em geral – faz parte do seu modo de operação já empregado em outras episódios. No caso brasileiro, a estratégia ficou demasiadamente exposta, graças ao estilo truculento e barra-pesada do advogado Nélio Machado, símbolo do que de pior existe na advocacia brasileira, o do advogado “esperto”, que se vale de todos os meios para alcançar os fins.
Como escreveu De Sanctis em sua sentença, ”concretamente neste feito, tal suposta conduta (uso de métodos não usuais) viu-se retratada, de forma particularizada, mas não menos clara e despudorada, atuando sempre por interpostas pessoas que, invariavelmente, seguem sua cartilha do ‘vale tudo’”.
Esse estilo foi adotado pelo Opportunity Fund nos julgamentos em Cayman e tornou-se um “listed case”, tema de livros e caso jurisprudencial para todos os países cobertos pela Corte Britânica – da Nova Zelândia à Jamaica, passando por Hong Kong e Índia.
Em vez de entrar no mérito da ação, o Opportunity lançou suspeição sobre o juiz. A alegação foi de que o juiz era canadense – e a ação ser movida pela canadense TIW.
Foi enviado um batalhão da Kroll para Cayman, tentando influenciar juízes e políticos. A estratégia passava obviamente pela compra de jornalistas, David Legger, especialmente contratado para escrever contra o Juiz.
Existem 3 instâncias na Justiça Britânica de Cayman: a Grande Corte de Cayman Islands, a Court of Appeal e o Privy Council, em Londres.
Essa estratégia permitiu uma vitória na Court of Appel em Cayman. Foi a única vez, aliás, que Veja tocou no assunto, em uma nota incorreta de autoria de Lauro Jardim.
Quando subiu para a instância máxima, o julgamento do juiz Kellock foi restabelecido de forma definitiva e o caso entrou para o “listed case”.
Esse mesmo modelo foi aplicado no Brasil. Em vez de se entrar no mérito do caso, houve um massacre do juiz De Sanctis, conduzido especialmente pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, por deputados, como Raul Jungmann e Marcelo Itagiba e por veículos e jornalistas cooptados.
Os jornalistas diretamente envolvidos nessa operação de “assassinatos de reputação” foram Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e Lauro Jardim, pela Veja; Janaína Leite, pela Folha; Cláudio Humberto (através de seu site e como alimentador dos ataques de Mainardi); Leonardo Attuch e Márcio Chaer.
Entre os episódios centrais dessa imensa armação há o caso da tal tradutora italiana (levantada pelo Conjur e repercutido por Azevedo), o caso do relatório italiano (levantado por Mainardi e repercutido por Azevedo), os ataques difamadores contra jornalistas que insurgiam-se contra essas versões, conduzidos por Mainardi e Azevedo.
Assim como na Corte Inglesa, o episódio deveria servir para reflexões e criação de jurisprudência sobre esses métodos de “assassinatos de reputação”, para intimidar juízes e burlar a lei. É chantagem explícita, criminosa, que fere princípios básicos de aplicação de Justiça.
Mas quem definirá essa jurisprudência? Gilmar Mendes e seu desrespeito absoluto pela solenidade do cargo? Eros Grau e outros Ministros que praticamente condenaram o Juiz e jamais se pronunciaram sobre os métodos de Dantas contra o próprio judiciário? Essa formação atual do STF?
O país não está sob o império das leis. E a culpa definitivamente não é de De Sanctis. Caberá ao Judiciário um duro trabalho de impor novamente o primado da lei sobre o crime.
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