quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O novo quadro político brasileiro – por Luis Nassif

Como será a oposição após as eleições?

Tenho escrito algumas vezes sobre o tema. De imediato, sobressaem duas linhas nítidas.
Uma, a do confronto, a tentativa de desestabilização do próximo governo, já que Lula não estará à frente do Executivo. Essa tendência é nítida no comando atual do PSDB, a partir da ala paulista de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, em aliança com alguns grandes órgãos de mídia.

A tendência será explorar a simpatia do governo com países como Venezuela, Bolívia e Cuba. FHC é suficientemente preparado para separar ação diplomática de política interna. Mas suficientemente esperto para utilizar a arma que lhe foi oferecida.

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A outra tendência, a partir de Minas Gerais, será a de iniciar vida nova, desenhar uma nova oposição, que identifique vícios reais da situação e comece a construir propostas alternativas. Mas sempre dentro de um clima de boa vontade, sem tentativas de botar gasolina na fogueira.

O pacto de Minas, de 2006 – que juntou Aécio Neves e o prefeito petista de Belo Horizonte, Fernando Pimentel – é o primeiro ensaio desse novo modelo.

Anteontem, em sabatina na UOL, o candidato de Aécio ao governo de Minas, Antonio Anastasia, enfatizou esse ponto. Disse claramente que a nova opinião pública está pouco se lixando para o que aconteceu quarenta anos atrás. E que ele é melhor do que o candidato do governo Hélio Costa no quesito gestão pública – o que interessa efetivamente ao eleitor.

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Esse novo modelo político será reforçado com a eleição de Geraldo Alckmin para governador de São Paulo. Ao contrário de Serra, Alckmin não cultiva o confronto. Sabe que, em um ambiente federativo, existe a hora de disputar e a hora dos pactos construtivos.

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Cientista político e especialista em pesquisas, o diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, acredita que o modelo político brasileiro poderá se definir por duas linhas distintas. Uma, a da social democracia alemã, na qual dois partidos próximos do centro disputam o eleitorado, mas sem grandes alterações nas grandes linhas políticas.

A segunda alternativa é a italiana, na qual a política, de tão anacrônica, se despregou completamente da sociedade e da economia. É o atraso completo em um país com grandes manchas de modernidade.

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Nesse quadro, o ex-presidente FHC prestou um enorme desserviço ao país, quando ofereceu ao PSDB o discurso do rancor. O partido abrigava, até então, quadros técnicos de centro-esquerda que refutavam a politização excessiva na vida pública, empresários da economia real, quadros técnicos das universidades.

De repente, jogou-se fora esse contingente para se apoiar em um discurso totalmente desfocado da realidade, em que entram atores dos mais improváveis possíveis. Qual a relevância de um Evo Morales, de um Hugo Chávez para a vida política e econômica nacional?

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O grande desafio das novas lideranças será descontaminar o partido desse ódio e apresentar propostas e resultados claros em suas gestões, para se tornar alternativa de poder em futuras eleições.

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