Os que tramaram pela derrubada do governo, ficarão impunes?
A casa do senador Demóstenes Torres (ex-Dem/GO) ruiu. Descobriu- se que o senador, até poucos dias atrás tido como o mais tenaz e corajoso combatente da corrupção pública dos governos petistas, está entranhado com atividades ilegais comandadas pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Demóstenes e Cachoeira são apenas um ponto da teia criminosa construída e que agora começa a ser desvendada. Como escreveu a jornalista Maria Inês Nassif, este caso não é apenas mais um caso de corrupção. “É uma chance única de reavaliar o que foi a política brasileira na última década, e de como ela – venal, hipócrita e manipuladora – foi viabilizada por um estilo de cobertura política irresponsável, manipuladora e, em alguns casos venal. E hipócrita também”.
É inadmissível que não seja dado à revista Veja, da família Civita, a oportunidade de sentar no banco dos réus para provar que é falsa acusação de que formou uma associação criminosa com o bicheiro. Há fortes evidências que o diretor da sucursal da Veja de Brasília, Policarpo Junior, trabalhava de forma afinada com o bicheiro para gravar vídeos e produzir matérias jornalísticas de interesse mútuo. Matérias que, mesmo quando mentirosas, eram adotadas e amplificadas no jornal Nacional da Rede Globo e reproduzidas pelos outros jornais impressos. Com essa prática jornalística, irresponsável e mentirosa, destruíram reputações, criaram heróis, chantagearam governos e atentaram contra a democracia do país.
A partir da Operação Monte Carlo, surgiram evidências e depoimentos de que a trinca Demóstenes – bicheiro – Veja trabalhou para derrubar um governo democraticamente eleito, o do Lula, manipulando o conhecido caso do mensalão. Que sejam julgados os responsáveis pela criação do mensalão. E os que tramaram pela derrubada do governo, ficarão impunes?
O próprio ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes foi envolvido na trama criminosa do bicheiro, do senador Demóstenes e da mídia. Fizeram o ministro acreditar que uma conversa telefônica sua com o senador foi gravada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O Ministro, zeloso pelo Estado de Direito, nem esperou pelas provas do grampo para acusar o governo. Com a bravura típica de latifundiários do Mato Grosso, como alertou uma vez o ministro Joaquim Barbosa, também membro do STF, Gilmar Mendes prometeu chamar o presidente Lula “às falas” e exigiu a exoneração do diretor geral da Abin, Paulo Lacerda. Tudo, sem nenhuma prova. Certamente, sendo um juiz inteligente e qualificado, foi enganado pelo amigo Demóstenes e pelo amigo do amigo, o bicheiro de Goiás. Agora, que a Policia Federal comprovou que nunca houve grampo da conversa entre os dois, não há culpados nessa grotesca farsa criada com a participação do presidente da mais alta Corte do Poder Judiciário?
É importante, também, para preservar a imagem desse ex-presidente do STF, que seja identificado quem é o portador do 18º telefone celular que formava o clube nextel montado pelo bicheiro. Os telefones foram habilitados nos Estados Unidos para que a cúpula do grupo empresarial do bicheiro não tivesse suas conversas gravadas pela PF. Estão identificados 16 portadores dos telefones. Faltam dois. Um estava com o senador Demóstenes, cujo nome, por causa da imunidade parlamentar, não aparece no processo.
Com quem estará o nextel que ainda falta? Seria injusto pensar que o fato do senador Demóstenes ter empregado em seu gabinete uma enteada do Gilmar Mendes fosse motivo suficiente para também presenteá-lo com um “nextel do Cachoeira”. Para alívio do ministro Mendes, o nextel pode ter sido dado ao juiz que foi passear com o Demóstenes e com o bicheiro, na Alemanha, e que o deputado Miro Teixeira (PDT/RJ) quer saber seu nome. Em todo caso, seria bom que o Gilmar Mendes exigisse que a PF apurasse e que fosse divulgado o portador do nextel que permanece anônimo.
Sobre a possível vinculação do governador tucano Marconi Perillo (PSDB/GO), há pouco a comentar uma vez que o presidente nacional do seu partido, deputado Sergio Guerra (PSDB/PE) e o senador tucano Álvaro Dias (PSDB/PR), tão moralista e apadrinhado da Veja quanto o Demóstenes, confiam em sua completa inocência. O próprio governador tucano disse que uma vez encontrou o bicheiro e que ele lhe revelou que tinha abandonado o jogo e saído da contravenção. O governador concluiu: “acreditei!” Com essa candura (leitor/a, não é cara-dura...), como imaginar que esse político está vinculado com o crime organizado? Nos somamos ao abalizado parecer do senador Álvaro Dias: ele é inocente!
Mas, para assegurar que esse caso do bicheiro com um dos senadores de Goiás cometa injustiça, é necessário que o Mistério Público investigue com profundidade toda essa trama do crime organizado. A presidenta Dilma, que tem demonstrado força e capacidade para gerenciar a economia, precisa liderar as mudanças políticas inadiáveis para fortalecer a democracia e tornar o povo mais participante nas decisões do país. O Congresso Nacional deve superar os interesses corporativos e dos parlamentares que temem serem sugados pela vala que se abriu com a prisão do bicheiro. É preciso aprovar e instalar imediatamente a CPI do Carlinhos Cachoeira. Sem esquecer de instalar a CPI da privataria tucana e de criar a Lei da Mídia já!
Perdida essa oportunidade histórica de punir os poderosos por seus crimes, se espalhará o sentimento de que o poder repressivo da Justiça é reservado apenas aos pobres. Mas chegará o momento em que o povo saberá cobrar e responsabilizar os políticos que foram coniventes e asseguraram a impunidades desses crimes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário