Cachoeira e Delta: o todo e a parte – por Luis Nassif
Tome-se a gravação em que o presidente da Delta fala sobre subornos. Apareceu em todos os jornais e mereceu menção no Jornal Nacional. A fonte era o jornalista assessor de Carlinhos Cachoeira.
A rigor, o diálogo não significa nada. O executivo fala em hipóteses: "se eu" colocasse tantos milhões nas mãos de fulano, ganharia a obra; "se eu" colocasse tantos milhões nas mãos de beltrano, e assim por diante. Ele não falou "eu coloquei" tantos milhões nas mãos de fulano.........
Tem o mesmo valor de uma declaração tipo "se eu fosse Onassis, conquistaria Jackie Kennedy".
Não se tenha a menor dúvida de que a Delta está atolada até o pescoço em subornos e falcatruas. Transformar em mote de cobertura geral um diálogo absolutamente insosso chama atenção.
Mas faz parte de uma estratégia de fogo de encontro que foi bastante utilizada na CPI dos Precatórios, de tirar o foco do todo e colocá-lo na parte. Na época, o todo era Paulo Maluf, Gilberto Miranda e companhia. A parte era o Banco Vetor, elo menor da corrente.
Focando-se no todo, pegar-se-iam todos, incluindo o Vetor; focando-se na parte, apenas o Vetor, livrando Paulo Maluf e companhia.
Durante um mês, toda a cobertura de Brasília focou na parte. E aí se entra no efeito-manada.
Havia uma sucursal específica empenhada em livrar Maluf. Ela assumiu a liderança da cobertura e o restante da mídia foi atrás, pelo efeito-manada.
Vai se tentar repetir o estratagema, agora, em relação ao todo Cachoeira e a parte Construtora Delta. Focando-se na Delta, deixam-se de lado as relações de Cachoeira com políticos de vários estados e funcionários de vários ministérios, com os dossiês, com seus investimentos em genéricos e com suas parcerias na mídia. E fica-se apenas com a parte Delta.
Nessa guerra retórica e de cobertura, um segundo recurso tem sido a insistência nessa versão de que o Planalto teme a CPI e está manobrando para minimizar os estragos. Não teme, mas tem sua estratégia que consiste, justamente, em colocar o foco no todo.
Portanto, o jogo político-midiático em torno da CPI é simples de entender: o Planalto quer apurar o todo Cachoeira; a cobertura da mídia quer apurar apenas a parte Delta.
Veja e a CPI de Cachoeira – por Luis Nassif
A tentativa da Veja e do PT de contrapor a julgamento do “mensalão” à CPI de Cachoeira interessa apenas a ambos, não ao conjunto da opinião pública e, principalmente, aos poderes constituídos – Judiciário (incluindo Ministério Público), Legislativo.
O “mensalão” já são cartas dadas. Já houve o impacto político em 2006, as investigações, um inquérito volumoso que já está no STF (Supremo Tribunal Federal). Provavelmente a maioria dos ministros tem opinião formada e não vai se deixar influenciar pelo noticiário.
Daí o inusitado da capa da revista Veja, insinuando que a CPI de Cachoeira visa jogar cortina de fumaça sobre o “mensalão”.
Na verdade, o que está em jogo é algo suprapartidário e muito mais grave do que denúncias políticas: a parceria entre Veja e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, ao longo dos últimos oito anos.
Na matéria de capa, Veja compara-se ao promotor que propõe ao réu a “delação premiada”. Trata-se de um instituto, previsto em lei, pelo qual o réu tem abrandamento de pena se se dispuser a entregar escalões mais altos da organização criminosa.
No caso de Cachoeira, tal não ocorria. As matérias fornecidas pelo bicheiro serviam para detonar quadrilhas rivais, fortalecendo seu poder. Mais que isso, juntos, Cachoeira e Veja transformaram o senador Demóstenes Torres no político mais influente da oposição. Graças ao prestígio bancado pela revista, Demóstenes conseguia penetrar nos diversos departamentos da administração pública, defendendo pleitos do bicheiro.
A revista sustenta que a parceria com o bicheiro visou levantar denúncias que permitissem limpar o país.
A história não mostra isso.
No caso do grampo sobre a propina dos Correios, houve o claro propósito de beneficiar Cachoeira. O diretor da revista supervisionou pessoalmente o grampo, até julgar que estava eficiente. Depois disso, segurou a notícia por um mês, dando tempo ao esquema Cachoeira fazer o uso que bem quisesse. Publicada a denúncia, conseguiu-se o afastamento do esquema Roberto Jefferson dos Correios, e seu lugar ocupado novamente por esquema ligado ao próprio Cachoeira – que, dois anos depois, foi desbaratado pela Polícia Federal.
No episódio Satiagraha a revista usou os mesmos métodos. Para paralisar as investigações – que levariam inevitavelmente a Daniel Dantas -, a revista soltou uma série de matérias montadas.
Foi assim com a capa “O país do grampo”, que juntava um conjunto de informações desconexas, para passar a impressão que a Polícia Federal estaria grampeando meio mundo. Na verdade, a usina de grampos era do próprio Cachoeira.
O mesmo ocorreu com o “grampo sem áudio” – o falso grampo que teria interceptado uma conversa entre o Ministro Gilmar Mendes, do STF, e o senador Demóstenes Torres.
A falta de limites era tal que a revista publicou um dossiê contra o Ministro Edson Vidigal, do Superior Tribunal de Justiça, que havia dado uma sentença contra Dantas.
Era uma armação tão descarada, que a reportagem anunciava uma representação de uma ONG junto ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), contra Vidigal. A representação baseava-se na própria reportagem da revista – que ainda nem tinha sido publicada.
As manobras do esquema Cachoeira – por Luis Nassif
Na condição de réu, o senador Demóstenes Torres teve acesso às peças do inquérito Monte Carlo.
Agora, está selecionando informações para, em conluio com jornalistas do esquema Cachoeira, jogar o foco das investigações na Construtora Delta.
Sabendo-se das ligações de Cachoeira com a Delta, é até risível matéria informando sobre as tratativas do bicheiro para conseguir acesso a altos executivos da empresa - como se fosse uma figura menor aproximando-se da toda poderosa Delta.
A lógica da estratégia Cachoeira-Demóstenes-aliados é simples. A Delta é parte do universo a ser investigado; Cachoeira é o todo. Focando na Delta, tenta-se tirar do foco o chefe da quadrilha, Cachoeira, seu principal lugar-tenente, Demóstenes, assim como as ligações midiáticas da estrutura criminosa.
De quebra, desestimulam-se peemedebistas - já que a Delta tem relações com o governador Sérgio Cabral Filho - e petistas - relações com o governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz.
Nos próximos dias, haverá um aumento da chantagem de alguns veículos sobre políticos. É um jogo intimidatório pesado. Parlamentares escolhidos para a CPI serão alvo de represálias do esquema criminoso. Haverá também a estratégia de misturar factóides com fatos objetivos, visando embolar o entendimento da opinião pública.
A CPI de Cachoeira mostrará se o país poderá aspirar a um lugar no mundo moderno, se dispõe de instituições capazes de enfrentar toda sorte de poderes - do Executivo, Judiciário, Legislativo ao até agora intocado poder midiático.
Se se quiser, de fato, passar o país a limpo, o Congresso terá que pagar para ver, assim como parece estar sendo a posição do Executivo.
Seria medida de prudência jornais e jornalistas se darem conta de que rompeu-se a muralha do silêncio e do medo. Veículos e jornalistas que entrarem no esquema correrão o risco de serem indiciados pela Justiça.
Está chegando ao fim a era da plena impunidade para o mau jornalismo e para o uso de dossiês criminosos.
A capa da veja – por Foo (Blog do Nassif)
Eu li o artigo da Veja, e só tenho uma observação: a Veja quer enterrar a CPI, custe o que custar.
O caso Cachoeira pega diretamente o senador Demóstenes Torres (DEM/Goiás), o governador Marconi Pirilo (PSDB/Goiás), o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB/GO) e o editor-chefe da revista Veja, Policarpo Jr.
A primeira reação da mídia, diante do escândalo, foi tentar envolver todo mundo: Agnelo (PT/DF), Protógenes (PCdoB/SP), e a construtora Delta -- que, segundo a imprensa, "faz negócios com o Governo Federal" -- convenientemente omitindo o fato de que a Delta faz negócios com todas as esferas do governo, em diversos estados, inclusive São Paulo!!!
Notícias recentes da Folha, do Estadão, e da Globo, dizem que a CPI preocupa a Dilma e setores do PT; quando os mais preocupados, obviamente, devem ser o DEM e o PSDB.
Mas vamos assumir que as acusações sejam verdadeiras, e que Agnelo, Protógenes, e o próprio Governo Federal estejam envolvidos no escândalo. Este seria, sem dúvida nenhuma, o maior escândalo da história recente do país. Maior do que o mensalão, que segundo a Veja foi "o maior escândalo de corrupção da história do país".
A Veja não quer investigação, e usa todos os artifícios que têm à sua disposição para isso: apela para a PT-fobia, para o "risco para a liberdade de expressão", para a imagem de Hitler e Mussolini... nenhum recurso é deixado de lado no objetivo de demonstrar, por A+B, que a CPI será péssima para o Brasil.
Vamos a alguns trechos do artigo (em negrito, intercalado com meus comentários):
"Com o julgamento do mensalão pelo Supremo a caminho, os petistas lançam uma desesperada ofensiva para tentar desviar a atenção dos crimes cometidos por eles no que foi o maior escândalo de corrupção da história brasileira"
Mas quem está fazendo "uma desesperada ofensiva para desviar a atenção dos crimes cometidos" é a própria Veja. (Apenas como exemplo, além dos mais de 200 telefonemas entre Policarpo e Cachoeira, agora temos evidências de que a gravação do Hotel Nahoum -- naquela fatídica capa contra "o poderoso chefão" José Dirceu -- foi feita pelo bicheiro.)
E a Veja continua, dizendo que "o PT espera desmoralizar na CPI todos que considera pessoal ou institucionalmente responsáveis pela apuração e divulgação dos crimes cometidos pelos correlegionários no mensalão — em especial a imprensa."
A imprensa não precisa do PT para se desmoralizar. Ela tem feito isso por conta própria.
"Esse truque funcionou na União Soviética, funcionou na Alemanha nazista, funcionou na Itália fascista de Mussolini, por que não funcionaria no Brasil?". E responde: "Bem, ao contrário dos laboratórios sociais totalitários tão admirados por petistas, o Brasil é uma democracia, tem uma imprensa livre e vigilante"
O Brasil é uma democracia, e a liberdade de imprensa não está sob ameaça. Qualquer um pode escrever o que quiser, e sites na internet começam a dar furos em tempo real -- antes mesmo que as revistas possam chegar às mãos dos assinantes. Isso não significa que a imprensa possa se associar ao crime, ocultar a existência de uma quadrilha por 8 anos em troca de informações privilegiadas, obtidas de maneira ilegal, e promover membros desta quadrilha a "mosqueteiros da ética".
O delírio prossegue: "Uma CPI dominada pelo PT e seus mais retrógrados e despudorados aliados é o melhor instrumento de que a falconaria petista poderia dispor — pelo menos na impossibilidade, certamente temporária para os falcões, de suprimir logo a imprensa livre, o Judiciário independente e o Parlamento."
Aqui a Veja deixa bem claro -- na sua opinião, a CPI é um instrumento para suprimir a imprensa livre, o judiciário independente, e o parlamento. É um instrumento para transformar o Brasil em um ditadura. É uma simplificação grosseira -- como outras que aparecem no artigo -- com o objetivo de causar um mal-estar com relação à CPI.
A essa altura o leitor típico de Veja deve estar pensando: "esta CPI é um perigo!"
"Enquanto o triunfo final não vem, os falcões petistas vão se contentar em usar a CPI para desmoralizar todos os personagens e forças que ousem se colocar no caminho da marcha arrasadora da história, que vai lançar ao lixo todos os que atacaram o PT e, principalmente, seu maior líder, o ex-presidente Lula."
O mais curioso, de acordo com a tortuosa lógica da Veja, é que -- mesmo que a rede de corrupção de Carlinhos Cachoeira seja "suprapartidária", isto é, envolva diretamente o PT -- esta CPI seria de interesse do partido.
"Lula viu na CPI a oportunidade política de mostrar que todos os partidos pecam. Que todos são farinha do mesmo saco e, por isso mesmo, o mensalão não seria um esquema de corrupção inaudito, muito menos merecedor de um rigor maior por parte do Judiciário e da sociedade. Para os petistas, apagar a história neste momento é uma questão de sobrevivência."
Questão de sobrevivência? A presidenta Dilma tem o maior índice de aprovação de toda a história do país, superando até mesmo o Lula; a oposição está desorientada; a própria Veja diz que o PT estaria caminhando rumo ao poder absoluto. Por que esta seria uma "questão de sobrevivência"? O artigo da Veja não consegue manter-se auto-coerente; a única coisa que está perto de se extinguir é a credibilidade da revista.
"É tamanha a ânsia de Lula e dos mensaleiros para enterrar o escândalo que, se preciso, o PT rifará o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, que também aparece no arco de influência dos trambiques da máfia do jogo."
É tamanha a ânsia da Veja para enterrar a CPI que, se preciso, deixará o petista Agnelo Queiroz livre, junto com Cachoeira, Demóstenes, Pirilo, Leréia, e, é claro, o editor-chefe da revista, Policarpo Jr.
Para defender Policarpo, sem citar o seu nome, a revista diz: "A oportunidade liberticida que apareceu agora no horizonte político é tentar igualar repórteres que tiveram Carlos Cachoeira como fonte de informações relevantes e verdadeiras com políticos e outras autoridades que formaram com o contraventor associações destinadas a fraudar o Erário."
É uma simplificação grosseira. Policarpo Jr. fez muito mais do que apenas usar Carlos Cachoeira como fonte. Ele usou e foi usado. Durante mais de 8 anos, em mais de 200 telefonemas gravados e reuniões presenciais, Policarpo Jr ajudou a promover os interesses da quadrilha, enquanto a quadrilha satisfazia os interesses da Veja.
A Veja sabia das relações de Demóstenes com Carlinhos Cachoeira, e nunca falou nada. Ou melhor: enalteceu Demóstenes, chegando ao ponto de dizer que ele era um dos "mosqueteiros da ética" do senado. A Veja também ajudou a melar uma CPI contra Cachoeira em 2004. Em troca, Cachoeira foi responsável por inúmeros "furos" da revista, em gravações ilegais que envolviam terceiros.
Mas a Veja prossegue com a seguinte lição sobre a ética jornalística:
"Os petistas acham que atacar o mensageiro vai diminuir o impacto da mensagem. Pelo que disse Marco Maia, eles vão tentar mostrar que obter informações relevantes, verdadeiras e de interesse nacional lança suspeita sobre um jornalista. Maia não poderia estar mais equivocado. Qualquer repórter iniciante sabe que maus cidadãos podem ser portadores de boas informações. As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido. A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Isso é básico."
Se Cachoeira tivesse feito gravações de suas conversas com Demóstenes e Pirilo, isto estaria dentro da ética jornalística.
Mas Cachoeira fez gravações contra terceiros -- pessoas que não estavam envolvidas com eles. Para citar um exemplo, hoje sabemos que as filmagens no Hotel Nahoum foram obra da quadrilha. A reportagem de capa de Veja foi ironicamente intitulada "O Poderoso Chefão".
A Veja tinha acesso ao verdadeiro "chefão" -- e nunca falou nada.
A Veja teve acesso a todas as informações sobre a máfia de Goiás e nunca denunciou o esquema.
Durante 8 anos a Veja usou e foi usada por Carlinhos Cachoeira. E é por isso que estão com medo. Mas não é só isso:
"Motivo mesmo para uma CPI seria investigar os milionários repasses de dinheiro público que o governo e suas estatais fazem a notórios achacadores, chantagistas e manipuladores profissionais na internet. Fica a sugestão."
A Veja está com medo porque não controla mais a informação. Se a CPI sair, não haverá como filtrar as informações.
Viva os blogs sujos!
Viva a internet!
O medo da Veja (3) - por Oswaldo Alves (Blog do Nassif)
Comentários ao post "A capa de Veja"
É caso pra se rir. Mas também é caso de repousar a cabeça sobre as mãos e pensar no ponto do absurdo a que se chegou. Este movimento estava sendo ensaiado ao longo da última semana: matérias tratando de Cachoeira isoladamente, da Delta como empresa que presta serviços para o PAC, um senador Demóstenes aparecendo pequenininho como "mais um" que caiu na rede do bicheiro. O nome da presidenta surgindo em contextos que não se relacionavam com a matéria. O nome de Demóstenes minguando em certos órgãos de imprensa. O de Agnelo Queiroz vindo à tona. Que mais? Matérias dizendo que a CPI, que tem Demóstenes no centro das questões, seria, na verdade, um revanchismo orquestrado por Lula e pelo grupo petista ligado ao Zé Dirceu contra a digníssima revista que denunciou o mensalão. E agora, esta capa, a cereja do bolo! E a isto querem que uma parte da sociedade acredite se tratar de pura e simples liberdade de imprensa.
A cortina de fumaça existe sim. Mas não do jeito que esta capa nos quer fazer ver. Uma qualidade ela tem: a auto-ironia.
Me pergunto o escândalo nacional que seria se, num estado governado por um adversário político, num estado onde um réu que mantinha relações com um senador deste mesmo estado, que também exercia influência sobre a polícia militar e sobre altos representantes do judiciário, se neste estado, a Revista Veja fosse, inexplicavelmente, tirada de circulação. Não é preciso muita imaginação para acreditar que, antes mesmo de apurar qualquer fato e qualquer suspeita, um enorme arsenal de imprensa seria colocado em ação para defender a liberdade de imprensa, um alarde seria criado para informar aos brasileiros que o partido político em questão é uma verdadeira máfia que pretende instituir práticas violentas e autoritárias, que pretende banir a imprensa livre. O espetáculo da demonização seria bem previsível. No entanto, tudo isso aconteceu na realidade. Mas como a revista era a Carta Capital, como o governador era do PSDB, como o senador era (e, neste caso, literalmente era) do DEM, o fato foi considerado irrelevante, indigno de uma pequena nota, muito menos de uma ação solidária por parte dos defensores da liberdade de imprensa. Palavras como censura, máfia, autoritarismo, corrupção, escândalo, entre outras não servem se não puderem, em lugar de descrever fatos, atacar desafetos políticos.
Por Rafael Wuthrich
É simplesmente inacreditável isso. Não é só ridículo: é uma afronta à nossa inteligência. Ora, vamos pensar pelo lado prático: o famoso Mensalão, existente ou não, já foi investigado e logo será julgado. O STF tem tudo em mãos. Mas e os escândalos de agora? Não serão sequer discutidos?
Me surpreende não a defesa incondicional desses bandidos, o que aliás já era esperado, mas o esforço de se requentar uma situação que já está em curso de ser resolvida. Um dos nossos companheiros colocou um comentário perfeito aqui: se fosse para fazer isso, o melhor era ter ligado a Delta a Agnelo e a Sergio Cabra e feito matéria de capa os ligando a Cachoeira - mesmo sendo inverossímil, assim como as 6 ligações de Protogenes (Policarpo teve mais de 200).
Mas não. A Veja prefere atacar o governo com algo que nem ele mais teme. Por que? Ora, Lula já não é mais o presidente, Marcos Valério está preso por vários outros crimes e os Ministros e políticos envolvidos já não estão mais no governo, Dirceu inclusive. Dilma e o PMDB Nacional hoje é quem dão as cartas junto com o PSB, e não me parece que o PT, que anda se fortalecendo sem aparecer demais - vale lembrar que nenhum de seus políticos hoje tem grande exposição no partido, fora Haddad que concorre à Prefeitura - então me parece não apenas inoportuna, mas também sem resultado prático nenhum. A própria população já está cansada do tema. Ou seja, é um duplo erro estratégico: não defende a revista e tampouco ataca o governo.
Eu poderia pensar que é desespero, mas creio que outro dos comentaristas entendeu a mensagem: não podendo atacar Cachoeira ao ligá-lo ao governo - o que poderia complicar ainda mais sua situação - nem Demóstenes - que aparentemente possui força imensa na revista (embora tenha ouvido ontem em Brasilia, ao conversar com um colega que trabalha lá, que na capital ele está sem força nenhuma e completamente desesperado) -, a revista optou por requentar um assunto já sem apelo nenhum e colocá-lo na capa, quando a população inteira discute quem é Demóstenes e como ele se tornou amigo do bicheiro (quer saber se a população sabe de algum tema? Pergunte aos taxistas. Se mais de um tocou no assunto, é porque o tema está na boca do povo - e isso aconteceu comigo e 4 das 5 vezes que tomei taxi nas duas últimas semanas - isso sem contar os jornais tablóides - Expresso, Agora, Meia-Hora - que também tem jogado materiazinhas sobre o tema, expondo os envolvidos e levando a informação ao dito "povão").
Na minha opinião, é mais uma prova que a revista não só perdeu a mão, mas também a própria inteligência.
Resposta de Marco Maia, Presidente da Câmara dos Deputados à Veja.
Por que a Veja é contra a CPMI do Cachoeira?
Tendo em vista a publicação, na edição desta semana, de mais uma matéria opinativa por parte da revista Veja do Grupo Abril, desferindo um novo ataque desrespeitoso e grosseiro contra minha pessoa, sinto-me no dever de prestar os esclarecimentos a seguir em respeito aos cidadãos brasileiros, em especial aos leitores da referida revista e aos meus eleitores:
- a decisão de instalação de uma CPMI, reunindo Senado e Câmara Federal, resultou do entendimento quase unânime por parte do conjunto de partidos políticos com representação no Congresso Nacional sobre a necessidade de investigar as denúncias que se tornaram públicas, envolvendo as relações entre o contraventor conhecido como Carlinhos Cachoeira com integrantes dos setores público e privado, entre eles a imprensa;
- não é verdadeira, portanto, a tese que a referida matéria tenta construir (de forma arrogante e totalitária) de que esta CPMI seja um ato que vise tão somente confundir a opinião pública no momento em que o judiciário prepara-se para julgar as responsabilidades de diversos políticos citados no processo conhecido como "Mensalão";
- também não é verdadeira a tese, que a revista Veja tenta construir (também de forma totalitária), de que esta CPMI tem como um dos objetivos realizar uma caça a jornalistas que tenham realizado denúncias contra este ou aquele partido ou pessoa. Mas posso assegurar que haverá, sim, investigações sobre as graves denúncias de que o contraventor Carlinhos Cachoeira abastecia jornalistas e veículos de imprensa com informações obtidas a partir de um esquema clandestino de arapongagem;
- vale lembrar que, há pouco tempo, um importante jornal inglês foi obrigado a fechar as portas por denúncias menos graves do que estas. Isto sem falar na defesa que a matéria da Veja faz da cartilha fascista de que os fins justificam os meios ao defender o uso de meios espúrios para alcançar seus objetivos;
- afinal, por que a revista Veja é tão crítica em relação à instalação desta CPMI? Por que a Veja ataca esta CPMI? Por que a Veja, há duas semanas, não publicou uma linha sequer sobre as denúncias que envolviam até então somente o senador Demóstenes Torres, quando todos (destaco "todos") os demais veículos da imprensa buscavam desvendar as denúncias? Por que não investigar possíveis desvios de conduta da imprensa? Vai mal a Veja!;
- o que mais surpreende é o fato de que, em nenhum momento nas minhas declarações durante a última semana, falei especificamente sobre a revista, apontei envolvidos, ou mesmo emiti juízo de valor sobre o que é certo ou errado no comportamento da imprensa ou de qualquer envolvido no esquema. Ao contrário, apenas afirmei a necessidade de investigar tudo o que diz respeito às relações criminosas apontadas pelas Operações Monte Carlo e Vegas;
- não é a primeira vez que a revista Veja realiza matérias, aparentemente jornalísticas, mas com cunho opinativo, exagerando nos adjetivos a mim, sem sequer, como manda qualquer manual de jornalismo, ouvir as partes, o que não aconteceu em relação à minha pessoa (confesso que não entendo o porquê), demonstrando o emprego de métodos pouco jornalísticos, o que não colabora com a consolidação da democracia que tanto depende do uso responsável da liberdade de imprensa.
Dep. Marco Maia,
Presidente da Câmara dos Deputados
Em 15 de abril de 2012
Comentário
Só é uma grande pena que o dep. Marco Maia não apresente o mesmo afã de instalar a CPI da Privataria Tucana.
CPI já vira caso de polícia dentro da Câmara - por Leandro Mazzini (Coluna Esplanada)
A CPI mista do Cachoeira nem começou mas já pega fogo nos bastidores – em especial, nos corredores da Câmara. Um roteiro com ingredientes de cena policial ganhou o sétimo andar do Anexo 4 da Casa. Indignados com um cartaz pró-CPI da Privataria Tucana na porta do gabinete do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), delegado licenciado da PF e entusiasta da instalação das comissões, dois deputados tucanos arrancaram o cartaz da porta e jogaram no chão, irados. Tratam-se de ninguém menos que o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), e o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN). Protógenes só soube quando pediu ontem à Polícia Legislativa o vídeo do circuito interno de TV do corredor. Mas não prestou queixa à Mesa Diretora.
Constrangido e incrédulo, Protógenes não procurara, até ontem à noite, os parlamentares para pedir explicações. Um assessor acompanhava os deputados na hora do ‘ataque’.
Pelo vídeo e sequência de fotos, fica clara a atuação do trio na porta fechada do gabinete do deputado, durante o dia. Guerra indica e Marinho puxa o cartaz.
Procurada pela coluna, a assessoria de Guerra ainda não se pronunciou. O deputado Marinho reconheceu que tirou o cartaz e disse que foi um “ato político”, e que isso aconteceu há algumas semanas, embora Protógenes tenha tido acesso aos vídeos ontem. Lamentou que os deputados colem nas portas cartazes “de ataques institucionais”, como o que considerou o do deputado comunista.
Comentário
“Ataques institucionais”? Ah tá.
Compreendo a ira dos tucanos. Afinal de contas, há penas voando pra tudo contra é lado.
Para deputado, revista Veja é “o crime organizado fazendo jornalismo” – por Rede Brasil Atual
Fernando Ferro (PT-PE) considera que publicação tenta evitar que se apure a conexão entre seus jornalistas e a quadrilha de Carlinhos Cachoeira
O deputado adiantou que gostaria de ouvir o presidente do Grupo Abril, as conexões entre a editora e Cachoeira (Foto: Leonardo Prado/Ag. Câmara) |
“Na semana passada, tinha afirmado aqui que a revista Veja se associava ao crime organizado para fazer jornalismo. Eu me enganei, acho que a revista Veja já é o próprio crime organizado fazendo jornalismo”, disse o parlamentar na tribuna da Câmara, em Brasília, em referência à reportagem publicada no último fim de semana. Para a revista do Grupo Abril, a CPMI é uma estratégia do PT para desviar o foco do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o caso do mensalão. “O que ela fez essa semana foi vestir a carapuça e achar como natural e normal utilizar o expediente da informação produzida por bandidos e delinquentes para fazer o seu jornalismo. Então isso não é mais uma associação, mas uma ação de crime organizado.”
A CPMI tomará como ponto de partida as investigações da Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo. Além de mostrar as conexões de Cachoeira com políticos, as escutas promovidas durante a apuração mostraram que o diretor da sucursal de Brasília da revista Veja, Policarpo Júnior, recebia informações do grupo do contraventor para a formulação de reportagens.
O deputado, que já adiantou que gostaria de ouvir o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, sobre as conexões entre a editora e Cachoeira, considera que a CPMI terá de debruçar sobre as relações entre grupos privados, representantes do Estado e jornalistas. “Não há outro caminho senão o da imprensa assumir o seu papel de denunciar, mas desvinculada do crime organizado”, afirmou.
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