Mitos das redes sociais - por Folha de S. Paulo Editorial
Essas plataformas têm valor comunicativo e profissional que não as isenta de debate crítico acerca de seus aspectos mais controversos
Ninguém duvida da imensa utilidade das redes sociais como ferramenta profissional e recreativa. Organizam um gigantesco contingente de usuários conforme suas afinidades e facilitam toda forma de comunicação interpessoal. Tornam a vida mais prática.
Mais controvertidas são suas dimensões política e midiática.
À primeira vista um enorme fórum de livre debate, as redes são formadas por células que mais reiteram as próprias certezas e hábitos do que os submetem a discussão. Esta, quando ocorre, adquire tons de estéril guerrilha verbal.
Às vezes se formam consensos formidáveis e legítima mobilização, como visto em junho passado, mas que tendem a ser passageiros, além de superficiais. Talvez pela natureza fluida do veículo em que se expressam, falta-lhes organicidade e duração.
Tampouco cabe dúvida de que o jornalismo amador ou militante, impulsionado pela internet, ajuda a suplementar o sistema de informação como um todo. Nem por isso está isento de críticas.
Embora faça a apologia da veracidade, essa forma de jornalismo se mostra ainda mais sujeita a falhas do que as já frequentes no jornalismo profissional. Informações se divulgam sem comprovação, quase sempre embaladas nas estridentes convicções, autênticas mas parciais, de seu emitente*.
Os usuários sabem disso, e seu comportamento sugere que as redes são antes uma ampla câmara de ressonância da própria mídia.
Levantamento publicado pela Folha mostrou que mais de 80% do conteúdo informativo tramitado pelo Twitter, por exemplo, relativo às jornadas de junho passado, era produzido pelo jornalismo profissional da imprensa e da TV.
Para os conglomerados empresariais que exploram as redes, política ou jornalismo são facetas secundárias do negócio.
Daí a desfaçatez com que "posts" noticiosos são censurados, como ocorreu duas vezes, somente na semana passada, com inserções desta Folha no Facebook. Daí a docilidade dessas empresas** – todas norte-americanas – em face das exigências paranoides de seu governo à custa da privacidade dos usuários mundo afora.
É honesto reconhecer um aspecto corporativo nestas críticas, pois as redes sociais e os buscadores de notícias se beneficiam comercialmente da audiência gerada por produtos jornalísticos que não criaram nem custearam.
Este é apenas um dos problemas a serem enfrentados pela legislação relativa ao Marco Civil da Internet, que a Câmara dos Deputados deve votar em agosto.
Admitir esse aspecto de interesse próprio, porém, não impede este jornal de contribuir para a crítica que as redes sociais, com todo o seu valor comunicativo e utilitário, merecem.
Comentário
A crítica procede, porém, como sabemos, ela não é oriunda de uma real preocupação pela qualidade das notícias veiculadas, mas sim de uma guerra mercadológica contra o google por parte da mídia brasileira (ver postagens anteriores aqui no próprio blog sobre o tema). Defendem o marco civil da internet (a regulação da internet, na verdade), mas não uma regulamentação positiva que vise a proteger o cidadão contra desmandos das empresas e grandes conglomerados econômicos, muito ao contrário. O que a mídia brasileira deseja é limitar as redes sociais e estrangular financeiramente seus concorrentes nestes mercados. Concomitantemente a defesa da regulação da internet, da maneira mais hipócrita que se possa imaginar, são absolutamente contrários a uma regulação da mídia que possa pluralizar nossos meios de comunicação (um oligopólio encastelado na mão de poucas e abastadas famílias: Marinho & Collor, Sarney & Frias, Civita & Mesquita, e outras de igual estirpe). Ou seja, para estes senhores, regular a internet não atenta contra a democracia. Já regular a mídia é um pecado sem perdão.
No fim das contas, tudo é lobby, interesses, tráfico de influência e, por fim, dinheiro.
*: este parágrafo se refere a ficha falsa da Dilma, publicada em edição de domingo, com visas a beneficiar o funesto candidato da Folha, José Serra, nas últimas eleições presidenciais? Ou ao suposto apagão (do governo Lula/Dilma – no de FHC, que de fato veio a ocorrer não deram um pio)? Ou se referiam ao “surto” de febre amarela? Ou ao julgamento do mensalão? Ou a inflação descontrolada (que, - danem-se os fatos, claro – se for se avaliar os últimos dois, três, cinco, oito ou dez anos, é a menor da história)?
**: fosse se tratar de “docilidade” com governos, a mídia estadunidense teria muito a aprender com a brasileira, observando como ela trata governos do PSDB.
Por outro lado, basta ver a forma como a mídia brasileira defende os interesses estadunidenses (na defesa de uma guerra contra o Irã foi de se fazer corar), afora o fato de, como as próprias informações oficiais divulgadas pelo wikileaks, o embaixador norte-americano ter informado aos seus superiores que estava, através de contatos com a imprensa amiga (Folha, Globo, Estadão, etc.), conseguindo influenciar os veículos da mídia de modo que eles publicassem informações favoráveis aos interesses do Departamento de Estado norte-americano. Simultaneamente, o wikileaks publicou relatos de encontros do embaixador estadunidense com funcionário da globo (Merval Pereira) e da Veja (Diogo Mainardi).
Durma-se com um barulho desses.
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