O governo dos Estados Unidos espiona a vida pública e privada mundo afora. E espionou milhões de brasileiros. Há meses isso é notícia no Brasil. O governo está chiando. Chiadeira meia boca, porque falta o principal: a indignação da população brasileira.
É evidente o desinteresse dos cidadãos do Brasil com esse tema. Aceita-se como se fossem "coisas do futebol".
Milhões de comunicações de brasileiros foram vasculhadas pelos norte-americanos. E é como se nada tivesse acontecido. Essa falta de reação, essa frouxidão, talvez ajude a explicar a arrogância dos britânicos.
No domingo, 18, o brasileiro David Miranda foi detido por 9 horas no aeroporto em Londres. Sob alegação de suspeita de terrorismo. Na verdade, um gesto de intimidação.
Miranda mora no Rio de Janeiro e é companheiro do jornalista norte-americano Glenn Greenwald. Glenn denunciou no The Guardian, jornal britânico, a ciberespionagem dos EUA.
Mais do que somente sólidos parceiros dos Estados Unidos, os britânicos têm orbitado a "teoria do capacho".
Nas últimas décadas servem docilmente aos interesses norte-americanos. E, por consequência do hábito, supõem que o resto do mundo também deve se prestar a servir de capacho.
Nesta segunda-feira (19), o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, convocou o embaixador britânico Alexander Ellis. Demonstrou a insatisfação do governo brasileiro. Espera-se que vá além, que não fique só nos punhos de renda.
Há 10 anos o então primeiro-ministro da França, François Villepin, mandou um avião Hercules C-130 para o Brasil. Com 11 agentes secretos. Vieram para uma operação de resgate. Resgate da senadora franco-colombiana Íngrid Betancourt na região de são Paulo de Olivença, no Amazonas. Íngrid era prisioneira das Farc na Colômbia.
A operação foi descoberta. Os franceses foram expulsos do Brasil, na moita. A mídia francesa fez um escarcéu. O jornal Le Monde deu manchetes por 10 dias. Três semanas depois o governo francês pediu desculpas ao governo brasileiro.
Durante todo o episódio, silêncio e desinteresse quase absoluto da mídia por aqui. Naqueles anos, espionagem escancarada dos Estados Unidos no Brasil. Através da CIA, DEA, FBI… e o mesmo silêncio a cada revelação.
A ciberespionagem dos Estados Unidos é dos fatos mais graves revelados neste século. A reação do mundo, ou a ausência de reações, moldará a cultura da privacidade no mundo; ou sua irrelevância daqui por diante.
Por aqui, o esquema de mega-espionagem soa como coisa quase natural, banal. Fruto, é evidente, da enorme ignorância sobre consequências para o presente e futuro.
Quando os brasileiros despertarem para a dimensão disso tudo, talvez já seja tarde. Essa indolência e esse ignorar ajudam a explicar a detenção de David Miranda.
A humilhação e a arrogância brucutu do governo britânico refletem a lassidão, a frouxidão dos brasileiros diante da invasão da privacidade de cada um de nós.
Comentário
Quanto a Inglaterra, esta nada mais é do que uma colônia de sua ex-colônia.
Quanto a nós, há muito a dizer, mas deixa pra lá...
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