sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Globalização e liberalismo - por Assis Ribeiro (Blog do Nassif)

A instabilidade mundial é fruto da globalização e do liberalismo. Começa com as grandes invasões, que os livros de história preferiram chamar de grandes descobertas, e com a revolução industrial (mesmo com raízes anteriores). As promessas de um mundo melhor, mais justo, equilibrado e democrático não foram alcançadas pelo modelo e as populações começam a se rebelar.

No Brasil 

Desde que fomos invadidos pelos portugueses nossas riquezas são remetidas para o exterior, como brilhantemente expõe o escritor Eduardo Galeano no belíssimo livro "As Veias Abertas da América Latina".

Para suprir necessidade, cada vez maior, de se extrair com trabalho árduo as nossas riquezas naturais e frustradas as tentativas de submeter os nossos índios,importamos um enorme leva de escravos.

Assim, se solidifica a famosa "casa grande e senzala", criando uma pequena e poderosíssima elite e uma enorme população de escravos, uma estratificação sólida e que de certa forma se mantém até os dias atuais, dificultando avanços democráticos.

Com a revolução industrial, continuamos a remeter ao estrangeiro nossas matérias primas sem valor agregado para que alimentasse a indústria de outros países enquanto as matérias processadas retornavam com valores muito mais caros.

A indústria estrangeira precisando de consumidores e trabalhadores em suas fábricas forçam a libertação dos escravos para que se tornem consumidores e trabalhadores nas fábricas. Com o aumento da produção e necessidade maior de consumidores a Inglaterra força o Brasil a libertar os seus escravos, enfim, fomos os últimos a fazê-lo.

Com a saturação dos polos industriais e o desenvolvimento de tecnologias que tornaram as fábricas obsoletas, inicia-se mais fortemente a chamada globalização, onde as indústrias exportavam as suas já vencidas máquinas para os países periféricos.

Fábricas chegam ao Brasil com seus maquinários ultrapassados, e entre os principais objetivos estava a necessidade constante de importação de peças, na realidade recebíamos montadoras, e os lucros remetidos para as matrizes, dificultando o desenvolvimento de uma tecnologia nacional.

Tentativas de quebrar o modelo

Continuamos com uma elite arcaica que visa o lucro pessoal e que pouco se  importa com o desenvolvimento do Brasil, já que o nosso imenso território, as excelentes condições geográficas, proporcionam altos lucros com poucos esforços na procura de avanços tecnológicos.

Enquanto a nossa indústria continua afundada, nos vangloriamos do nosso PIB ser sustentado pelo agronegócio e a indústria de automóvel. Não é possível sermos um pais de grande frota de automóveis sem uma empresa nacional e continuar exportando commodities.

Algumas formas de se modificar esta dependência internacional e o "status quo" da nossa elite foram tentadas, mas terminaram esbarrando no poder que as nossas elites tem, sempre atuando em parceria com a estrangeira, como os parágrafos acima remetem.

Não se mudará esta condição sem reformas estruturais.

A tentativa mais ousada se deu com a tentativa de se implementar as famosas reformas de base  por Goulart, que por propor mudanças radicais na estrutura que sempre beneficiou a elite, brasileira e suas parceiras estrangeiras, e isso em plena guerra fria, não poderia ter consequência diferente da do que ocorreu.

As que mais assustaram os detentores do "status quo":

1) Restringir a remessa de lucros do capital estrangeiro, com o provável objetivo de obrigar que os grupos nacionais e estrangeiros reinvestissem o lucro por aqui.

2) Reforma agrária, provavelmente visando diminuir os grandes latifúndios, origem da nossa "casa grande e senzala", e para mim motivo principal da baixa industrialização do país pelos motivos expostos nos parágrafos anteriores.

Esses dois pontos são debatidos até hoje, a reforma agrária internamente pois somos um dos poucos países democráticos que não a implementamos de maneira mais efetiva.

A restrição de remessas de lucros, e similares,  ganha foro internacional na atualidade pela forma extremamente  volátil do capital que se transfere a qualquer momento de um lugar para outro, provocando dificuldades, inclusive em países "players". O próprio debate sobre protecionismo tão em moda pós quebradeira de 2008, e a dificuldade de crescimento das economias provavelmente trará uma reorganização do setor.

Outras propostas por Goulart foram implementadas desde os governos militares, como, por exemplo, o direito de votos para os analfabetos, a igualdade de direitos dos trabalhadores rurais com o urbano.

Nos governos militares, o Brasil teve altos índices de crescimento do PIB, mas, de forma continuada à dependência externa, aumentou mais ainda o nosso endividamento, trazendo empresas estrangeiras, capital externo, ao invés de se incentivar a criação de tecnologias e parque industrial próprio. A convergência dos governos militares aos princípios da globalização e do liberalismo desmonta as nossas escolas públicas, e a forma desordenada de crescimento faz aumentar a desigualdade social.

Com dívidas paralisantes e altíssima inflação herdada, nada fizeram os governos Sarney e Collor/Itamar, no entanto, neste último, começou-se a corrigir o problema da inflação que corroía o salário do trabalhador e a produção já que o dinheiro migrava fortemente para a especulação, com a elaboração do plano real que veio a ser implantado no governo seguinte, a era FHC.

Com a inflação controlada, restava os altíssimos índices de endividamento que levou o Brasil a "quebrar" três vezes e o caminho encontrado foi a venda de lucrativas empresas públicas, em processos até hoje questionados, a famosa privatização do Brasil.


Essas ações, atendendo à determinação da globalização e do liberalismo, principalmente representados pelo FMI e Banco Mundial, terminaram por aumentar mais ainda a nossa dependência ao capital externo, que remetem os seus lucros para as matrizes, imobilizando o nosso desenvolvimento tecnológico.

Sem desenvolvimento a condição "casa grande e senzala" permanece em nossa sociedade.

Os governos Lula/Dilma são eleitos pela promessa de se quebrar a condição da "casa grande e senzala", com propostas de aumento real de salário mínimo, criar empregos, implementar o fome zero, romper com o neoliberalismo que além de concentrar riqueza, provoca a continuidade da dependência ao capital externo e remessas de lucros para fora do país.

Alguns avanços são conseguidos, tendo o Brasil batido recordes de emprego, vem realizando o aumento real do salário mínimo, mas, ao mesmo tempo, e nas palavras do próprio Lula; "nunca os banqueiros ganharam tanto dinheiro como no meu governo", remete à ideia de que a "casa grande e senzala" permanece intacta, com sua concentração de riqueza, manutenção da elite que com seu conservadorismo é avesso à inovação, e aqui está incluída a tecnológica.

As dificuldades de o governo trazer o empresariado nacional para o jogo produtivo também é algo preocupante, abrindo a possibilidade que o capital estrangeiro mais uma vez entre no país, agora em outras áreas estratégicas e de necessidade urgente de investimentos para o avanço da produção como os portos, aeroportos e estradas.

A nossa dependência  e submissão ao capital externo parece se solidificar ainda mais, e realizar as reformas estruturais para trazer a nossa independência se torna algo cada vez mais difícil.

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