Ministério Público teria oferecido liberdade a adversário de Aécio, preso desde o dia 20, em troca de falsa confissão que incriminasse líderes da oposição ao grupo político de Aécio Neves (PSDB)
O ministro do Desenvolvimento, pré-candidato ao governo de Minas, seria o alvo da operação |
São Paulo – O jornalista Marco Aurélio Carone, diretor do site NovoJornal, preso desde o dia 20 de janeiro sob acusação de integrar quadrilha que teria o objetivo de "perseguir, caluniar e difamar" aliados do senador Aécio Neves (PSDB), acusa o Ministério Público de Minas Gerais de oferecer sua liberdade em troca da assinatura de uma falsa confissão em que admitiria os crimes e envolveria o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel (PT), na quadrilha. Pimentel é pré-candidato a governador de Minas Gerais e principal adversário da candidatura tucana, de Pimenta da Veiga, que tenta dar continuidade a 16 anos de governo do PSDB no estado.
"No documento que o Ministério Público me ofereceu, eu tinha de admitir que o NovoJornal recebeu dinheiro do Pimentel por meio da empresa HAP, e também da Assembleia Legislativa, por meio do deputado Dinis Pinheiro (PP, atual presidente da Assembleia)", afirma Carone. "Esse documento eu não assino de jeito nenhum, isso não é verdade", completa. A HAP é uma construtora investigada por supostos contratos irregulares com a prefeitura de Belo Horizonte e que já teve contratos com a P-21, consultoria da qual Pimentel é sócio, divulgados na imprensa.
Carone, que nega todas as acusações, afirma estar sendo vítima da ação de um grupo de aliados de Aécio que envolve policiais, juízes, promotores e outros agentes públicos para calar vozes de oposição em Minas Gerais, como o NovoJornal. As afirmações de Carone foram gravadas pelo deputado estadual Rogério Correia (PT), que também seria incriminado pela delação sugerida pelo MP, durante visita a Carone na prisão, e divulgadas pelo blogue VioMundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha. O parlamentar, integrante do grupo parlamentar "Minas Sem Censura", articula para que o jornalista preste depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia para denunciar abusos que teria sofrido desde a primeira ação policial de busca e apreensão em sua casa até a prisão, e posteriormente com a oferta de falsa confissão.
Segundo o jornalista, a censura a veículos de oposição não é incomum e faz parte da manutenção da hegemonia tucana na política mineira, e pode, inclusive, estar se expandindo para o círculo federal. "Aquele jornalista... O Leandro, da Carta Capital. Leandro Fortes. Eles disseram que estão atrás dele também", afirma Carone. A ação teria como principal motivação restringir a repercussão sobre o chamado "mensalão mineiro", esquema de desvio de R$ 40 milhões da estatal Furnas para financiamento de campanhas do PSDB, do DEM e do PTB em 2002 e que deve ir a julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) ainda neste ano.
Outros nomes que seriam alvo da delação premiada são os deputados federais Protógenes Queiroz (PCdoB), a quem Carone diz não conhecer, mas que o Ministério Público aponta como elo entre Carone e o delegado da polícia federal Luiz Cláudio Zampronha, responsável pelo relatório da investigação do "mensalão mineiro".
A RBA procurou o PSDB nacional, do qual Aécio é presidente, desde 20 de janeiro, quando noticiou a prisão de Carone, mas ainda não recebeu resposta.
'Estado de exceção em Minas Gerais'
Geraldo Elísio, jornalista há mais de 50 anos e ganhador do Prêmio Esso Regional de 1977 em Minas Gerais, é colaborador do NovoJornal desde a fundação do site e relatou, em entrevista ao site Minas Sem Censura, a ação supostamente irregular de policiais que diziam estar cumprindo mandato de busca e apreensão em sua casa no último dia 31 de janeiro. "[Recebi] um delegado do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio e mais três policiais que o acompanhavam com uma autorização judicial de busca e apreensão, com a qual levaram meu netbook, pendrive, CDs e cadernetas de telefone. Não cito os nomes porque não deixaram sequer o número do documento portado por eles e nem uma cópia do que foi arrestado, o que me soa estranho", afirma.
Elísio é veemente em responsabilizar o grupo político de Aécio por impor um "Estado de exceção" em Minas Gerais. "Acuso frontalmente o senador Aécio Neves e sua irmã Andréa Neves, no ímpeto de destruir as provas de denúncias formuladas pelo site NovoJornal", sentencia. "Tenho convicção de estarem querendo desqualificar os documentos que comprovam o Mensalão Tucano Mineiro e a Lista de Furnas, embora essa já tenha sido autenticada pela Polícia Federal", completa. O jornalista afirmou que autorizará a Justiça a quebrar seus sigilos fiscal, bancário e telefônico, e que "desafia" Aécio a fazer o mesmo.
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