Quando as pessoas pensavam política, sempre dirigiam seus olhares para a Itália e, lá, recolhiam ideias, pensamentos e formas de lutas. Foi assim desde a queda do fascismo.
Os jovens dos anos cinquenta aprenderam a acompanhar o embate ideológico entre a democracia cristã e o Partido Comunista Italiano. Eram repletos de entusiasmo e posições altamente conflitantes.
Surgiam, no comunismo italiano, figuras marcantes. Todos se recordam de Gramsci, o ideólogo que, no cárcere, elaborou impressionante obra de análise da sociedade.
Os seus Quaderni del carcere foram editados graças à iniciativa de Togliati, então importante figura do socialismo real no Ocidente. A repercussão foi intensa em todo o marxismo europeu e latino-americano.
No decorrer do tempo, muitas figuras exemplares, ofereceram posicionamentos novos e análises precisas sobre o desenvolvimento das sociedades contemporâneas.
Quem visitasse a Itália, naquele período – anos 40 e 50 – impressionava-se com a presença maciça das sedes do PCI por todo o país e de maneira intensa no norte, particularmente na região da Reggio-Emilia.
Gerava uma verdadeira emoção conhecer as livrarias comunistas. Apresentavam obras de todos os autores clássicos do socialismo e, ainda, inúmeras análises de lideranças expressivas.
Grande parte da intelectualidade peninsular pertencia aos quadros de esquerda. A sociedade encontrava-se dividida entre dois segmentos e estes dominavam as mentes e geravam conflitos.
Foi um período intensamente criativo e cada lado acreditava ser a sua proposta política a utopia que salvaria o mundo. Tempos em que as pessoas acreditavam em suas lideranças.
Tudo se esvaiu. Os grandes partidos do após-guerra dissolveram-se. Surgiram agremiações sem linha. Com programas sem profundidade social.
Uma geleia real – tal como no Brasil – surgiu no cenário partidário. Ninguém empolga. Nenhuma ideia nova. Todo o pensamento volta-se para o econômico.
O econômico não possui alma. Apenas a busca de rendimentos. O vazio ocupou as mentes e o consumismo conquistou às sociedades. Vale o dia que passa. Não interessam as gerações futuras.
Neste cenário melancólico, que levas os mais velhos à nostalgia, vem da Itália mais uma notícia amarga. O jornal tradicional dos comunistas italianos, L’ Unità, deixou de circular.
Teve um longo percurso – oitenta anos – e agora, neste mês de agosto, anuncia o encerramento de sua publicação. Não resistiu aos tempos novos.
Estes tempos de pensamento único. Eles não permitem o pluralismo. Exigem homogeneidade de comportamentos. Todos devem agir no mesmo sentido.
Movimentar os mecanismos econômicos sem qualquer ciência de sua essência. A esta só pode ter acesso os iniciados. Estes são poucos. Um grupo privilegiado que não admite contestações.
O Século XXI, até o momento, mostra-se medíocre e sem posicionamentos antagônicos. Os poderosos podem matar sem censura. Não há mais oposição.
Os jornais críticos desapareceram. Foram engolidos pela voragem capitalista. Adeus a L’Unità, fundada por Gramsci, em 1924. Acompanhou a sorte dos jornais Hoje, Notícias de Hoje e Luta Operária, seus irmãos brasileiros.
Os jornais críticos desapareceram. Foram engolidos pela voragem capitalista. Adeus a L’Unità, fundada por Gramsci, em 1924. Acompanhou a sorte dos jornais Hoje, Notícias de Hoje e Luta Operária, seus irmãos brasileiros.
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