Segundo laudo, objetos que a polícia dizia serem 'artefatos explosivos' não são inflamáveis; ativistas seguem presos
Material apreendido foi usado para convencer a Justiça a prendê-los; secretaria afirma que há outras provas
Os objetos encontrados com manifestantes presos no último dia 23 de junho em protesto contra a Copa do Mundo em São Paulo não eram explosivos, afirma perícia revelada nesta segunda-feira (4) pela Folha.
Os artefatos, que a polícia usou para ajudar a convencer a Justiça de que eles deveriam ser encarcerados, não são nem inflamáveis, segundo laudo técnico do Gate (grupo antibombas da PM) e do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Científica.
O estudante e funcionário da USP Fábio Hideki Harano, 27, e o professor de inglês Rafael Lusvarghi, 26, estão presos há 43 dias sob acusação de liderarem protestos violentos contra o Mundial.
Os "artefatos explosivos" eram a principal prova material apresentada pela polícia. Seu porte configura crime que pode resultar em pena de 3 a 6 anos de prisão.
Procurada, a Secretaria da Segurança afirmou que as denúncias não se baseiam só em objetos apreendidos com os ativistas.
Segundo a polícia, outras provas são os depoimentos de policiais que os prenderam e um vídeo de Harano com um grupo de "black blocs" no violento protesto no dia de abertura da Copa.
No vídeo, divulgado pelo SBT, ele grita frases como "corrente humana aqui atrás, barreira de obstáculo na frente" - na interpretação da polícia, isso demonstraria liderança dele sobre o grupo.
Um mês depois das prisões, a Justiça aceitou a denúncia contra ambos e os tornou réus sob a acusação de crimes como associação criminosa, dano ao patrimônio e porte de explosivos.
Frasco de nescau
O Gate constatou em sua perícia que os materiais encontrados com os dois manifestantes tinham componentes "inertes" ou "isentos de qualquer tipo de substância explosiva e/ou inflamável".
A polícia dizia que o artefato achado com o professor de inglês - uma garrafa plástica de Nescau com papel e um elástico usados como tampa - era similar a um coquetel molotov. O policial que o prendeu disse que ele tentou "dispensar" o artefato.
Diz o laudo do Instituto de Criminalística sobre o objeto: "resultado negativo para substâncias acelerantes e alimentadoras de chama daquelas comumente utilizadas em artefatos incendiários do tipo coquetel molotov".
Já o artefato achado com o estudante da USP era o frasco vazio de um produto chamado "Fix", usado para fixar corantes em tecidos.
Nele havia um cordão de nylon, que passava por dentro do tubo por meio de um orifício, que teria a função semelhante à de um pavio.
Uma fita transparente foi usada para fixar uma "porção de substância sólida" de cor cinza. Sobre esse elemento acinzentado, o IC afirmou: "trata-se de material que apresentou composição química não compatível" com a encontrada nos "altos" e "baixos" explosivos.
Em decisão da última sexta-feira (1º) que manteve os manifestantes presos, o juiz Marcelo Matias Pereira diz que "há depoimentos consistentes" os quais apontam que em poder dos manifestantes foram apreendidos "artefatos explosivos/incendiários".
Harano e Lusvarghi negam ser "black blocs" - adeptos da tática que prega a destruição do patrimônio público e privado - e que sejam donos dos objetos supostamente encontrados com eles.
Diante do resultado do laudo, o advogado de Harano, Luiz Eduardo Greenhalgh, disse que pedirá à Justiça que reconsidere a prisão dos réus.
"Para a Justiça, o principal fundamento para a manutenção da prisão era o porte de artefato explosivo", afirmou Greenhalgh. Para ele, as prisões são políticas.
Comentário
Segundo laudo da própria polícia, eles não portavam artefatos explosivos, porém, de acordo com a secretaria de segurança pública, há outras "provas".
Provas há, de fato: a de que as forças do Estado que forjaram este crime é que deveriam estar na cadeia.
Provas há, de fato: a de que as forças do Estado que forjaram este crime é que deveriam estar na cadeia.
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