Se a economia debilitar a qualidade e a importância dos empregos na indústria, a precariedade se refletirá também nos empregos criados do setor de serviços, o que mais cresce no mundo do trabalho
Nas antigas sociedades agrárias, a ocupação agrícola chegou a representar quatro em cada cinco postos de trabalho. Com a passagem para a sociedade urbana e industrial, a partir do século 19, o emprego da mão de obra no setor secundário das economias (construção civil e manufatura) chegou a alcançar quase dois quintos do total da ocupação, especialmente nos países de industrialização madura.
E desde a segunda metade do século passado a nova transição da sociedade industrial aponta para a concentração dos postos de trabalho no setor terciário (serviços e comércio). Nas economias desenvolvidas, o setor de serviços responde por 83% do emprego da mão de obra.
Na passagem do século 19 para o século 20, por exemplo, o esvaziamento relativo e absoluto dos postos de trabalho na agropecuária foi acompanhado simultaneamente pela expansão das vagas criadas com a maior dinâmica na economia urbana (setor secundário e terciário). Os Estados Unidos servem de exemplo, uma vez que no final do século 20 o país limitou a empregar apenas 2,2% do total dos postos de trabalho na agropecuária e mineração, enquanto que 100 anos antes registravam mais de um terço das ocupações no setor primário de sua economia.
Nos dias de hoje são 2 milhões de trabalhadores no campo que conseguem manter uma das agriculturas mais avançadas e produtivas do mundo. Já a construção civil responde atualmente por um terço dos empregos do setor secundário, sendo a manufatura responsável pela absorção de menos de 14 milhões de trabalhadores.
Para o Brasil, a trajetória da composição ocupacional tendeu a ser a mesma, porém distinta na intensidade ao longo do tempo. Pela demora de sua industrialização, o Brasil conviveu até a década de 1950 com o setor primário sendo o principal absorvedor de mão de obra.
Somente no ano de 1960 os postos de trabalho urbanos tornaram-se majoritários. Nos dias de hoje, o país possui comparativamente aos Estados Unidos quase dez vezes mais ocupados em relação ao total dos empregos no setor primário, não obstante a pujança da agropecuária nacional.
Também no setor secundário residem diferenças significativas. De um lado, o Brasil não conseguiu apresentar a mesma importância relativa da manufatura e da construção civil no total da ocupação verificada nos Estados Unidos. A melhor posição ocorreu ao final da década de 1970, com um quarto de todos os postos de trabalhos situados no setor secundário – diferente dos Estados Unidos, que chegaram a registrar na década de 1920 quase um terço da ocupação associada a construção civil e manufatura.
Desde a década de 1980 o Brasil passou a perseguir rapidamente o movimento equivalente ao verificado lentamente nos Estados Unidos desde a década de 1920. Ou seja, perda de importância relativa do setor secundário no total da ocupação.
A tendência de expansão dos empregos no setor terciário parece ser comum nos dois países em consideração. Atualmente, os Estados Unidos possuem 83% dos empregos nos serviços e comércio, enquanto o Brasil, um pouco mais de 66%.
Em virtude disso, convém atentar apara o fato que o setor terciário da economia não detém dinâmica própria na propulsão quantitativa e qualitativa de suas ocupações. O segmento produtivo (primário e secundário) exerce influência decisiva sobre a quantidade e qualidade sobre os postos de trabalho no terciário. Isso porque o mundo dos serviços (trabalho imaterial) resulta heterogêneo, comportando tanto postos de trabalho de grande qualidade, com remuneração associada a elevação da qualificação profissional, como de extrema precarização (baixo rendimento independente da qualidade da mão de obra existente).
Os exemplos podem ser obtidos na estrutura ocupacional dos Estados Unidos e do Brasil. Se for ocupação originada no setor de serviços de produção e sociais, por exemplo, a remuneração tende a refletir a qualificação da força de trabalho, diferentemente dos empregos nos serviços pessoais e de distribuição que geralmente não conectam a qualificação profissional com o predomínio da desvalorização do trabalho.
A determinação do mundo dos serviços depende, em síntese, da qualidade e importância da manufatura no interior do sistema econômico. Sem isso, os serviços tendem a expandir muitas vezes sustentados pelo trabalho precário, aprofundando a separação entre ocupações nobres e pobres e demarcando uma estrutura social ainda mais iníqua.
Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas
Nas antigas sociedades agrárias, a ocupação agrícola chegou a representar quatro em cada cinco postos de trabalho. Com a passagem para a sociedade urbana e industrial, a partir do século 19, o emprego da mão de obra no setor secundário das economias (construção civil e manufatura) chegou a alcançar quase dois quintos do total da ocupação, especialmente nos países de industrialização madura.
E desde a segunda metade do século passado a nova transição da sociedade industrial aponta para a concentração dos postos de trabalho no setor terciário (serviços e comércio). Nas economias desenvolvidas, o setor de serviços responde por 83% do emprego da mão de obra.
Na passagem do século 19 para o século 20, por exemplo, o esvaziamento relativo e absoluto dos postos de trabalho na agropecuária foi acompanhado simultaneamente pela expansão das vagas criadas com a maior dinâmica na economia urbana (setor secundário e terciário). Os Estados Unidos servem de exemplo, uma vez que no final do século 20 o país limitou a empregar apenas 2,2% do total dos postos de trabalho na agropecuária e mineração, enquanto que 100 anos antes registravam mais de um terço das ocupações no setor primário de sua economia.
Nos dias de hoje são 2 milhões de trabalhadores no campo que conseguem manter uma das agriculturas mais avançadas e produtivas do mundo. Já a construção civil responde atualmente por um terço dos empregos do setor secundário, sendo a manufatura responsável pela absorção de menos de 14 milhões de trabalhadores.
Para o Brasil, a trajetória da composição ocupacional tendeu a ser a mesma, porém distinta na intensidade ao longo do tempo. Pela demora de sua industrialização, o Brasil conviveu até a década de 1950 com o setor primário sendo o principal absorvedor de mão de obra.
Somente no ano de 1960 os postos de trabalho urbanos tornaram-se majoritários. Nos dias de hoje, o país possui comparativamente aos Estados Unidos quase dez vezes mais ocupados em relação ao total dos empregos no setor primário, não obstante a pujança da agropecuária nacional.
Também no setor secundário residem diferenças significativas. De um lado, o Brasil não conseguiu apresentar a mesma importância relativa da manufatura e da construção civil no total da ocupação verificada nos Estados Unidos. A melhor posição ocorreu ao final da década de 1970, com um quarto de todos os postos de trabalhos situados no setor secundário – diferente dos Estados Unidos, que chegaram a registrar na década de 1920 quase um terço da ocupação associada a construção civil e manufatura.
Desde a década de 1980 o Brasil passou a perseguir rapidamente o movimento equivalente ao verificado lentamente nos Estados Unidos desde a década de 1920. Ou seja, perda de importância relativa do setor secundário no total da ocupação.
A tendência de expansão dos empregos no setor terciário parece ser comum nos dois países em consideração. Atualmente, os Estados Unidos possuem 83% dos empregos nos serviços e comércio, enquanto o Brasil, um pouco mais de 66%.
Em virtude disso, convém atentar apara o fato que o setor terciário da economia não detém dinâmica própria na propulsão quantitativa e qualitativa de suas ocupações. O segmento produtivo (primário e secundário) exerce influência decisiva sobre a quantidade e qualidade sobre os postos de trabalho no terciário. Isso porque o mundo dos serviços (trabalho imaterial) resulta heterogêneo, comportando tanto postos de trabalho de grande qualidade, com remuneração associada a elevação da qualificação profissional, como de extrema precarização (baixo rendimento independente da qualidade da mão de obra existente).
Os exemplos podem ser obtidos na estrutura ocupacional dos Estados Unidos e do Brasil. Se for ocupação originada no setor de serviços de produção e sociais, por exemplo, a remuneração tende a refletir a qualificação da força de trabalho, diferentemente dos empregos nos serviços pessoais e de distribuição que geralmente não conectam a qualificação profissional com o predomínio da desvalorização do trabalho.
A determinação do mundo dos serviços depende, em síntese, da qualidade e importância da manufatura no interior do sistema econômico. Sem isso, os serviços tendem a expandir muitas vezes sustentados pelo trabalho precário, aprofundando a separação entre ocupações nobres e pobres e demarcando uma estrutura social ainda mais iníqua.
Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas
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