Graças
às estratégias adotadas no período 2003-2014, atravessamos a maior
crise internacional desde os anos 1930 empregando políticas anticíclicas
que nos garantiram a continuidade da distribuição de renda, a criação
de empregos e a manutenção dos investimentos
No período 2003-2014, a economia brasileira gerou mais de 18 milhões de
empregos formais, a desigualdade da distribuição de renda foi reduzida,
o consumo das famílias aumentou, o investimento também cresceu e as
reservas internacionais aumentaram na ordem de dez vezes.
A
despeito desse desempenho, críticos aos governos Lula e Dilma os acusam
de não terem dado continuidade às reformas liberalizantes e de terem
abandonado as políticas ditas responsáveis.
Para
eles, o baixo crescimento dos últimos três anos é sinal de que o atual
modelo, baseado no “consumismo” e no “dirigismo”, estaria se esgotando.
E,
o que seria pior, arriscando as bases econômicas sólidas, construídas
por meio da introdução de reformas da década anterior. O Brasil estaria
dando um passo para trás no desenvolvimento.
Curiosamente, muitas análises descartam a Grande Recessão Mundial em que vivemos.
Não
é difícil pinçar artigos que, para testar relações entre variáveis,
utilizam metodologias sofisticadas lado a lado a crenças de que “a crise
de 2008 não afetou as economias emergentes” ou que “foi rapidamente
superada”. E, com base nessa miopia analítica, afirmam que as
estatísticas de crescimento brasileiras são decepcionantes.
O
fato é que, quando examinados em perspectiva, os mesmos dados
demonstram que o Brasil foi muito bem-sucedido diante da economia
mundial e das economias avançadas desde 2003, período em que foram
colocadas em prática as políticas distributivistas e o papel do Estado
foi fortalecido.
Os
gráficos abaixo comparam a evolução do PIB mundial, das economias
avançadas e do Brasil, no período das reformas liberais (1990-2002) e no
atual (2003 em diante). Tornando o PIB real dessas economias, no início
de cada período igual a 100, fica evidente que o Brasil perdeu espaço
na economia mundial no “período liberal”.
Precisamente
o oposto do que se desejava e previa. Esperava-se que o engate do
Brasil na economia global pela adesão ao consenso de Washington seria o
caminho mais óbvio para o desenvolvimento. Não obstante, testemunhou-se o
contrário.
Observa-se que, no “período liberal”, a economia brasileira conseguiu acompanhar a economia mundial apenas entre 1992 e 1997, período de crescente liquidez na economia internacional.
Observa-se que, no “período liberal”, a economia brasileira conseguiu acompanhar a economia mundial apenas entre 1992 e 1997, período de crescente liquidez na economia internacional.
Quando
ocorreu a crise da Ásia, ficou evidente que a tentativa de se enganchar
na economia mundial pela via da liberalização e do enfraquecimento do
Estado resultou em fragilidade financeira externa. A economia nacional
ficou à deriva, frustrando aqueles que acreditavam ser esse o caminho
para desenvolvimento.
A
utopia liberal se revelou uma miragem. A estratégia adotada de se
acoplar na economia mundial resultou em perdas de graus de liberdade
para a política econômica.
As
crises internacionais, ao longo desse período, afetaram pesadamente a
economia brasileira. Não por causa das crises propriamente, com
potencial destrutivo muito menor do que a quebra do Lehmann, em 2008,
mas porque as repercussões locais foram exacerbadas.
De
um lado, a fragilidade financeira externa do País não nos dava proteção
quanto a choques. De outro, as políticas de austeridade adotadas no
País provocaram desemprego e atrasaram o crescimento.
Para
piorar, o racionamento de energia elétrica de 2000/2001, fruto do
abandono do planejamento do setor elétrico que nos deixou fragilizados
diante da escassez de chuvas, mais uma vez atrasou o crescimento.
De
2003 em diante, a lógica da política mudou. Sem provocar ruptura
institucional ou econômica, o governo aproveitou a fase ascendente do
ciclo internacional para aumentar os graus de autonomia de política
econômica.
Essa
estratégia foi articulada em três frentes. A primeira foi baseada na
intensa acumulação de reservas internacionais para mitigar a fragilidade
externa que, com frequência, assombrava o País, interrompendo ciclos de
crescimento.
A
segunda consistiu no fortalecimento do mercado interno. Os programas de
transferência de renda, dentre eles, o Bolsa Família, a política de
recuperação do salário mínimo e a ampliação do crédito pessoal
fortaleceram o consumo na economia.
Por
último, a política de fortalecimento dos investimentos, com programas
como o PAC, o Minha Casa Minha Vida, e o Programa de Sustentação do
Investimento do BNDES, tornou o investimento mais robusto, contribuindo
para reforçar a demanda e ampliar a capacidade produtiva.
O Brasil aproveitou a onda das commodities para aumentar seu raio de manobra em relação à economia mundial.
Graças
a essa estratégia, atravessamos a maior crise internacional desde os
anos 1930 empregando políticas anticíclicas que nos garantiram a
continuidade da distribuição de renda, a criação de empregos e a
manutenção dos investimentos, além de um desempenho superior ao das
economias avançadas e alinhado à economia mundial.
O
sucesso dos últimos anos não foi um golpe de sorte nem a perseguição de
uma miragem. Também não foi a solução de todos os problemas. Mas
aumentou a capacidade do País de enfrentar os grandes desafios da
modernização do sistema produtivo, do fortalecimento da infraestrutura
econômica e social e do avanço na inclusão social. De continuar
caminhando.
*Antonio José Alves Jr. é Professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
** Lucas Teixeira é aluno de doutorado no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
** Lucas Teixeira é aluno de doutorado no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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