quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Aprender a perder

Sou capixaba, mas o time do meu coração – como a maioria dos torcedores do meu estado – é o flamengo. Adoro quando meu tive vence, fico chateado quando ele perde, o que é normal para um torcedor.

Eventualmente observo nos estádios algumas pessoas trazerem toda a sua ira – talvez motivadas por frustrações outras – e aproveitarem aquele momento onde estão reunidas em enormes grupos para extravasar sua energia anteriormente contida contra o adversário.

Para estes torcedores, não há limites. O adversário é o inimigo. Deseja-se trucidá-los, bater, machucar, utilizam todas as armas que dispõem: se estão do alto das arquibancadas, cospem, jogam copos de mijo, latinhas e garrafas (que até por isso foram proibidas), etc. De perto, unem-se a outros meliantes e correm atrás de enfrentar com punhos, paus, pedras, armas de fogo, etc., os seus inimigos que, pasmem, são definidos pelo fato de torcerem para outro time. Poderia ser um amigo seu, um parente, um vizinho, afinal, todo mundo tem relações com pessoas que torcem pelos mais diversos times. Mas não, isto não importa, o que importa é bater, maltratar, vencer a batalha.

Tenho uma teoria que, a ideia inicial, de partir para cima destes torcedores do outro time não é muito intensa em quem perpetra tal abominação. Ao contrário. A ideia é rala e pouco aferrada aos meliantes – só é potencializada pelo fato de agirem em grupo.

Parece-me que não passa pela cabeça destes torcedores que existe a necessidade – friso, a necessidade – que o time dele perca para que o esporte possa prevalecer. Se somente um ganhasse, não haveria graça nenhuma, o esporte estaria fadado ao fenecimento.

Hoje observo uma tragédia incrivelmente semelhante e até mais grave acontecer na imprensa brasileira – mais grave porque atinge uma quantidade muito maior de pessoas. Pelo fato de torcerem por um candidato, grande parte da imprensa tem agido como estes torcedores fratricidas. Ignoram toda e qualquer denúncia que possa eivar seu defendido, como a grave união das Verônicas Serra e Dantas em uma empresa em Miami (¡¿logo onde?!), a Decidir.com

E passam a tratar qualquer denúncia contra seus adversários como fatos incontestes, criam-se escândalos sobre o vácuo. Basta que alguém acuse a candidata que não é a preferida – mesmo que sem absolutamente nenhuma prova, absolutamente nada, sem nenhum fato concreto que possa macular sua honra ou a dos seus (como a ministra Erenice Guerra) – para que tais acusações passem a ser capas e mais capas, reproduzida por articulistas e editoriais, que são simbioticamente semelhantes às falas do candidato oposicionista.

A última denúncia me ataranta: é feita por um bandido que acabou de sair da cadeia, que não apresenta prova nenhuma, e o bandido alega ter de pagar propina para conseguir um empréstimo junto ao BNDES de... 9 bilhões (!), eu tenho que repetir, 9 bilhões de reais. É demais, para qualquer um, acreditar numa fábula destas. Mesmo que se torça a favor de um determinado candidato, há limites – mesmo para o ridículo.

Comparando com os torcedores exaltados, podemos enumerar diversas as semelhanças que a mídia vem se valendo: utilizam-se todas as armas que possuem – mesmo as mais sórdidas; atuam em grupo, cegam-se para críticas ao seu candidato, tem motivação inicial fútil.

Gostaria de tratar mais sobre este último quesito. Lembro-me certa vez que houve um desentendimento entre eu e um colega de trabalho, e cortamos relações pessoais, não conversamos mais. Passaram-se algumas semanas, e certa vez me ocorreu a pergunta sobre o que, mesmo, havia gerado nosso desentendimento: pasmem, eu não me recordava. A sensação de não poder mais conversar com ele, e até de certa repulsa, me era intensa – mas a motivação inicial, eu já sequer me lembrava.

Ocorre o mesmo com a mídia. A motivação inicial para atacar o PT, os movimentos sociais, sindicatos, etc., na minha singela opinião é proveniente da desavença histórica entre a esquerda e a direita, agravada pelo fato de termos vivido em uma ditadura na qual, os maiores veículos de comunicação da nossa atualidade beneficiaram-se enormemente ao apoiá-la.

Porém, ao visualizarmos nossa condição econômica atual, com os incríveis 2,5 milhões de empregos que serão gerados apenas este ano, fica a pergunta: ¿será mesmo que esta guerra contra o governo Lula e o PT faz sentido, se relembrarmos que nos oito anos tucanos o país gerou apenas 800 mil empregos?

Todos se beneficiaram desta condição econômica – tanto os que torciam contra quanto os que iam a favor. Então, ¿há sentido neste caminho doido, baseado em colunistas de determinada revista que não citam sequer um número em seus escritos? Ataques, calúnias, adjetivos muitos, mas fatos, em si, quantos?

Parece que a imprensa quer seguir com seu triste caminho histórico, de massacre ao trabalho e aos seus defensores, e elevação do deus-mercado e seus advogados.

¿Mas quais foram os que obtiveram melhores resultados, volto a perguntar eu, resultados que beneficiaram esta mesma imprensa?


Pode-se chegar a conclusão que defendo o adesismo. Ao contrário. Há críticas sinceras e honestas feitas ao atual governo, como a sobre a necessidade do aumento dos investimentos em infra-estrutura. Muito motivado por estas críticas, o governo elaborou o PAC. Entretanto, qual foi o resultado do programa na imprensa, desde o início: ataques e mais ataques, números fajutos tirados sabe-se lá de onde, que não batiam com os dados oficiais; críticas na ideia, na forma e na execução, etc. Ao invés de pedirem uma melhora no desempenho do programa, ou o aumento de seus recursos, ou sugerirem necessidades ainda não atendidas, não: uma oposição completa, cega, burra.

E concomitantemente a isto os jornais vivem pedindo aumento do investimento...
¿Faz sentido?

Em outro aspecto, vê-se no governo um drástico aumento no volume de recursos despendidos na educação. O Reuni, que no total mais do que dobrou o número de universitários que ingressam em universidades públicas a cada ano, a criação de centenas de escolas técnicas (mais do que dobrando as até então construídas), o Pró-uni, o aumento de repasses para o Fundeb, o aumento de recursos para programas de pós-graduação, etc.

Porém, isto não se vê na imprensa, ao contrário: o mesmo jornal que ignora estes fatos, defende decididamente o valor da educação para o futuro do país e prega desbragadamente o voto no candidato que trata os professores (a base da educação) com cassetetes e bombas de gás.
¿Faz sentido?


Gostaria de finalizar este longo escrito, com mais uma similaridade entre os torcedores e a imprensa. Ano passado, meu time foi campeão brasileiro, este ano, com certeza não repetirá a dose. Paciência. Haverá outros campeonatos, não há porque me desesperar e sair por aí destruindo os outros adversários da maneira que meu time puder. Ocorre o mesmo com a imprensa. Haverá outros campeonatos – não há motivo para esta ira descomedida contra uma candidata. Desta maneira que estão agindo, assemelham-se demasiados aos guerreiros dos estádios. Não faz bem ao país, não ajuda a própria imprensa em seu indispensável papel e não dignifica a democracia.

Talvez fosse conveniente ratificar o que já ocorreu comigo: eu nem sequer me lembrava do que a pessoa havia me feito – e continuava com ódio. Porém, tive a grandeza de reconhecer meu erro e corrigi-lo: voltei a tratar com meu colega.

Amanhã é um novo dia, e cada novo dia nos dá a oportunidade de obrarmos algo mais enobrecedor e puro para o legado que acumulamos em nossas vidas: basta querer.


P.S: Não sou eleitor da Dilma. E, gostaria muito, mas muito, mesmo, de poder criticar o governo que será eleito sem recorrer ao denuncismo golpista que imperou nos últimos anos. A bola está com a imprensa.

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