José Dirceu não foi o único réu do mensalão a quem o ministro Luiz Fux sinalizou absolvição. Ainda no governo Lula, quando iniciou sua campanha para obter a indicação à cadeira do STF, o ministro reuniu-se com João Paulo Cunha (PT-SP). Testemunha da conversa, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), à época líder do governo, conta que Fux referiu-se ao processo nos seguintes termos: ‘Esse assunto eu mato no peito porque eu conheço. E sei como tratar.’
Em notícia de dezembro de 2012, a repórter Mônica Bérgamo já havia revelado os encontros de Fux com Dirceu e João Paulo. Nessa época, Vaccarezza confirmara ter participado de uma conversa. Mas negara-se a revelar falar o teor. Eis o que dissera o deputado: “Participei de uma reunião que me parecia fechada. Tinha um empresário, tinha o João Paulo. Sobre os assuntos discutidos, preferia não falar.”
Nesta quarta (10), depois que José Dirceu acusou Fux de submetê-lo a “assédio moral” e de prometer que iria absolvê-lo no julgamento do mensalão, Vaccarezza sentiu-se à vontade para falar. Disse que, no diálogo com João Paulo, o hoje ministro do Supremo chegou mesmo a sinalizar como daria tratos ao processo do mensalão. “Levou a mão ao peito e desceu em direção à barriga.”
Lula deixou o governo sem formalizar a indicação. Coube a Dilma Rousseff enviar Fux ao STF. Para surpresa do petismo, o ministro foi, depois do relator Joaquim Barbosa, o julgador mas severo. Entre os réus que condenou estão Dirceu e João Paulo.
Procurado, mandou a assessoria dizer o seguinte: “Ministro do Supremo não polemiza com réu”. Erro. Não se trata de polemizar com réus, mas de explicar o porquê de ter confraternizado com eles. Vai abaixo a íntegra da entrevista de Cândido Vaccarezza:
— Como conheceu Luiz Fux? O primeiro encontro que tive com o Fux foi no gabinete do Paulo Maluf [protagonista de três processos no STF]. O deputado me disse que estava apoiando ele para o Supremo, que era uma pessoa de confiança. E queria me apresentar.
— O próprio Maluf o convidou para a reunião? Exato. Fui convidado pelo Maluf. Ele disse que queria levar o Fux no meu gabinete. Eu disse: ‘Vou ao seu gabinete.’
— O sr. ainda era líder do governo? Nessa época eu era líder do governo Lula. Ocupei o posto até abril do ano passado, já no governo Dilma.
— Por que preferiu ir ao gabinete de Maluf? Era uma praxe minha. Quando eu era líder do governo, eu ia sempre nos gabinetes dos deputados.
— Foi uma reunião a três? Sim. Estávamos na reunião só nos três. O Maluf me apresentou o Fux. Conversamos.
— Ficou nisso? Depois, o João Paulo me convidou para ir à casa de um empresário, aqui em Brasília, para conversar sobre o Fux. Disse que queria me apresentar. Eu não disse que já conhecia. Fui na casa.
— Era casa de quem? Prefiro não dizer o nome do empresário. Estávamos o João Paulo, o Fux e eu.
— A que horas ocorreu o encontro? Foi um café da manhã, numa casa do Lago Sul [bairro elegante de Brasília].
— Falou-se de mensalão nessa reunião? Nós não tocamos no assunto de mensalão. O empresário falou. Disse que podíamos confiar no Fux. E o Fux disse que matava no peito.
— O ministro Luiz Fux falou assim, com esses termos? Ele disse: ‘Esse assunto eu mato no peito porque eu conheço. E sei como tratar’. Falou nesses termos.
— Estava claro que ele falava da ação penal do mensalão? Sim. Ao dizer que mataria no peito, ele fez um movimento com a mão.
— Que movimento? Levou a mão ao peito e desceu em direção à barriga.
— Os senhores o apoiaram? Eu não declarei apoio a ele. Eu achava que devia ser uma outra pessoa.
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