Não há nenhuma razão para imaginar que a elevação do juro real, hoje, vá produzir alguma modificação importante na taxa de inflação ou na sua expectativa. O que existe é um estado de excitação provocado pelos “vendedores de vento”, intermediários da pura especulação financeira, ora espremidos pela baixa do juro e desesperadamente necessitados de uma alta da Selic.
Não são agentes de financiamento da produção, pois vivem de comprar e vender papéis da riqueza imaginária representada pelos famosos derivativos cáusticos, em transações cada vez mais complicadas, com a baixa dos juros.
Alguns desses “investidores financeiros” estão à beira do pânico. Eles precisam “vender” para a sociedade a ideia de que somente a elevação dos juros poderá evitar o crescimento da inflação. Pretendem, na realidade, receber antecipadamente as comissões relativas às aplicações dos incautos que pensam estar construindo uma poupança para reforçar a aposentadoria, mas em lugar disso estão empobrecendo.
Ninguém sabe se agora é o momento apropriado para mexer nos juros nem quando será. A ata da mais recente reunião do Copom fala de incertezas “remanescentes” e recomenda explicitamente a administração “com cautela” da política monetária. Acredito que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tenha razões muito seguras para também pedir cautela no trato da questão dos juros. Na verdade, usa-se mais uma vez o axioma do também famoso economista Brainard, que diz o seguinte: “Quando você não sabe muito bem o que está fazendo, por favor, faça devagar!”
O grau de incertezas está refletido no parágrafo 28 da referida ata: “Embora a dinâmica inflacionária possa não representar um fenômeno temporário, mas uma eventual acomodação da inflação em patamar mais elevado, o Comitê pondera que incertezas remanescentes (de origem externa e interna) cercam o cenário prospectivo e recomendam que a política monetária deva ser administrada com cautela”.
O Banco Central tem razão ao recomendar cautela e notar a existência de muita incerteza. Há mais incertezas ainda capazes, se verificadas, de levar a uma redução da taxa de inflação e não a pressões de alta. É uma constatação evidente de que o aumento da safra agrícola, hoje em fase de colheita, terá consequências importantes no combate à inflação. No momento sofremos ainda os efeitos do choque de oferta produzido pela queda da produção agrícola no ano passado, a ser corrigida provavelmente com a maior oferta da safra 2012-2013.
Acresça-se a esse cenário o fato de os preços de nossas importações virem a pressionar menos os preços internos, não apenas por darem sinais de ter entrado em um período mais calmo, mas também porque a depreciação do real será menor. Os preços externos estão relativamente estáveis, em alguns casos até declinantes. A taxa de câmbio nominal não subiu como no ano passado e provavelmente ficará estável durante 2013. São fatores a favor da redução das tensões inflacionárias. Houve ainda a desoneração na tributação de importantes setores da produção e tudo isso embute a possibilidade de uma redução do ritmo da inflação.
Por outro lado, tem servido de estímulo às pressões altistas a frase do Copom, “eventualmente a taxa de inflação pode ter mudado de patamar”. Eventualmente, se mudou o patamar, o Banco Central observará o cenário de abril e, depois em maio, caso seja verdade, o Comitê, mais uma vez eventualmente poderá ter de corrigir os juros. Se não acontecer, não será preciso mexer, mesmo porque é provável a taxa de inflação se reduzir um pouco no segundo semestre em relação ao primeiro.
O grande drama disso é aceitar o cabo de guerra com os vendedores de vento. Caso ceda e comece a corrigir os juros já, quando se verificarem os fatos acima mencionados, todos sem relação com a alta dos juros, as pessoas dirão: “Está vendo, foi porque subiu o juro que a inflação baixou”. Será uma mistificação a mais nesse processo.
Por isso, Alexandre Tombini tem toda razão ao dizer que hoje, fundamentalmente, nós precisamos de bastante cautela. É necessário observar com tranquilidade os fatos, seja qual for a situação neste semestre. E acompanhar objetivamente o cenário até verificarmos se se trata de um fenômeno passageiro a ser superado no segundo semestre ou se houve uma mudança no comportamento da inflação, que exige tratamento completamente diferente.
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