Em 2018, o Brasil
caminha para mais um grande saldo comercial, com várias implicações positivas,
em especial, para o fechamento das contas externas. E o Petróleo ajudará, e
muito, a colher este resultado. No primeiro bimestre, foram exportados 3,62
bilhões de “óleos brutos de petróleo”, 11% da pauta brasileira. Para efeito de
comparação, os minérios contribuíram com 8,1% da pauta e a soja, 4,9%, para
citar os principais neste começo de ano. A Conta Petróleo teve um superávit de
US 887 milhões no primeiro bimestre.
Com certeza, há
mais um bem primário para melhorar nossas contas externas, o que contrapõe, nos
fluxos totais, nossa grande dependência tecnológica em relação ao mundo. A
economia brasileira segue seu caminho de grande importador de bens e serviços
de maior valor agregado. E sempre precisando exportar mais e mais produtos
primários para equilibrar o “´déficit de conhecimento”. Mas o petróleo,
extraído em condições adversas é agora uma grande novidade, pois pode nos
permitir um equilíbrio cambial até então inimaginável.
A conta petróleo
já acumula dois anos seguidos de superávit, com tendência de crescimento.
Porém, ao invés de tambores rufarem pela soberania conquistada, pela
perspectiva de crescimento sem fragilidade cambial, percebemos que há outra
comemoração em curso, “overseas”, de um bilhete premiado que está passando para
outras mãos. Isto porque estão silenciosamente alterando as regras de
exploração dos novos campos.
Hoje o Brasil
possui a 15º maior reserva comprovada de Petróleo do Mundo: 16,2 bilhões de
barris, 1% das reservas globais. Começamos o Século XXI com prospecções que
apontam para mais petróleo e menos fragilidade cambial, mas pouco falamos
disto.
Mesmo com a
economia do baixo carbono abrindo as portas de um novo tempo, o hidrocarboneto
ainda será a principal fonte energética por muitos e muitos anos, com
crescentes volumes de negócios na prospecção, exploração, transformação e
comercialização de uma extensa lista de produtos. Produtos básicos, como óleo
brutos; produtos refinados, como gasolina, plásticos e fertilizantes; e também
produtos sintéticos de alta complexidade e de consumo crescente, como nylon e
outros tecidos e materiais nanotecnológicos.
A economia do
petróleo ainda vai alavancar uma extensa lista de atividades industriais: a indústria
naval, a siderúrgica, a metalúrgica e a de bens de capital. Para um país com a
taxa de desemprego beirando os 15%, pode ser uma excelente alternativa de
ocupação. A revolução energética que o petróleo promove ainda não está no fim,
e muito temos para aproveitar, desde que entendemos o que podemos ganhar com
isto. O Brasil tem uma indústria que é competitiva neste setor e que está com
grande capacidade ociosa.
Por isto, é
oportuno lembrar que, em 1974, Celso Furtado escreveu para a CEPAL seus
“Ensaios sobre a Venezuela: subdesenvolvimento com abundância de divisas”. Sem
querer entrar em maiores detalhes, o ensaio apontava dois caminhos possíveis
para a Venezuela naquele momento: seguir consumindo bens e serviços importados
sem se preocupar com o futuro; ou construir uma visão de longo prazo para
transformar as divisas do petróleo em investimentos: rede de saúde, sistema de
ensino universal, infraestrutura de transporte e o desenvolvimento de uma
base industrial diversificada.
Hoje, é visível
os resultados da miopia que acometeu os venezuelanos. As divisas são finitas e
a ausência de uma base econômica diversificada deixa o país (e sua população)
em situação vulnerável, dentre outros motivos.
Este é um caminho
muito diferente do que foi seguido pela Noruega, por exemplo, que construiu uma
lógica de diversificação econômica, de melhorias de condições de vida que hoje
lhe posiciona no primeiro lugar do ranking mundial do IDH.
As rápidas
mudanças que este “governo” promove na gestão da Petrobrás e as alteração das
regras de exploração do pré-sal, causam preocupação para quem pensa que
soberania é um aspecto fundamental para a construção uma nação. Com o pretexto
de blindar a Petrobrás, estão aniquilando o interesse público e colocando em
risco nossa soberania.
Guardadas as
devidas proporções, com relação ao petróleo, estamos mais próximos da Venezuela
(a de 1974, certo!) do que da Noruega, apesar do enorme esforço nacional, de
empresas sérias (nacionais e estrangeiras), de agentes públicos e privados que
construíram um marco regulatório visando agregar valor na indústria nacional.
No passado recente, havia uma perspectiva de que o crescimento da extração do
óleo estaria associado ao desenvolvimento industrial e os resultados desta
fartura seriam transformados em aumento de investimentos em educação, ciência e
tecnologia.
As lições do
“método histórico” de Celso Furtado, que estão lá naqueles ensaios, mostram
que, com o andar desta carruagem neoliberal tupiniquim, vamos gastar as divisas
do petróleo apenas para fechar as contas externas de um balanço de pagamentos
de uma economia que sempre será subdesenvolvida e dependente. E que vamos
perder mais uma oportunidade de construir um futuro diferente.
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