sábado, 17 de março de 2018

Yes, nós temos Petróleo! – por Leonardo Guerra (Jornal GGN)

Em 2018, o Brasil caminha para mais um grande saldo comercial, com várias implicações positivas, em especial, para o fechamento das contas externas. E o Petróleo ajudará, e muito, a colher este resultado. No primeiro bimestre, foram exportados 3,62 bilhões de “óleos brutos de petróleo”, 11% da pauta brasileira. Para efeito de comparação, os minérios contribuíram com 8,1% da pauta e a soja, 4,9%, para citar os principais neste começo de ano. A Conta Petróleo teve um superávit de US 887 milhões no primeiro bimestre.
Com certeza, há mais um bem primário para melhorar nossas contas externas, o que contrapõe, nos fluxos totais, nossa grande dependência tecnológica em relação ao mundo. A economia brasileira segue seu caminho de grande importador de bens e serviços de maior valor agregado. E sempre precisando exportar mais e mais produtos primários para equilibrar o “´déficit de conhecimento”. Mas o petróleo, extraído em condições adversas é agora uma grande novidade, pois pode nos permitir um equilíbrio cambial até então inimaginável.
A conta petróleo já acumula dois anos seguidos de superávit, com tendência de crescimento. Porém, ao invés de tambores rufarem pela soberania conquistada, pela perspectiva de crescimento sem fragilidade cambial, percebemos que há outra comemoração em curso, “overseas”, de um bilhete premiado que está passando para outras mãos. Isto porque estão silenciosamente alterando as regras de exploração dos novos campos.
Hoje o Brasil possui a 15º maior reserva comprovada de Petróleo do Mundo: 16,2 bilhões de barris, 1% das reservas globais. Começamos o Século XXI com prospecções que apontam para mais petróleo e menos fragilidade cambial, mas pouco falamos disto.
Mesmo com a economia do baixo carbono abrindo as portas de um novo tempo, o hidrocarboneto ainda será a principal fonte energética por muitos e muitos anos, com crescentes volumes de negócios na prospecção, exploração, transformação e comercialização de uma extensa lista de produtos. Produtos básicos, como óleo brutos; produtos refinados, como gasolina, plásticos e fertilizantes; e também produtos sintéticos de alta complexidade e de consumo crescente, como nylon e outros tecidos e materiais nanotecnológicos.
A economia do petróleo ainda vai alavancar uma extensa lista de atividades industriais: a indústria naval, a siderúrgica, a metalúrgica e a de bens de capital. Para um país com a taxa de desemprego beirando os 15%, pode ser uma excelente alternativa de ocupação. A revolução energética que o petróleo promove ainda não está no fim, e muito temos para aproveitar, desde que entendemos o que podemos ganhar com isto. O Brasil tem uma indústria que é competitiva neste setor e que está com grande capacidade ociosa.
Por isto, é oportuno lembrar que, em 1974, Celso Furtado escreveu para a CEPAL seus “Ensaios sobre a Venezuela: subdesenvolvimento com abundância de divisas”. Sem querer entrar em maiores detalhes, o ensaio apontava dois caminhos possíveis para a Venezuela naquele momento: seguir consumindo bens e serviços importados sem se preocupar com o futuro; ou construir uma visão de longo prazo para transformar as divisas do petróleo em investimentos: rede de saúde, sistema de ensino universal,  infraestrutura de transporte e o desenvolvimento de uma base industrial diversificada.
Hoje, é visível os resultados da miopia que acometeu os venezuelanos. As divisas são finitas e a ausência de uma base econômica diversificada deixa o país (e sua população) em situação vulnerável, dentre outros motivos.
Este é um caminho muito diferente do que foi seguido pela Noruega, por exemplo, que construiu uma lógica de diversificação econômica, de melhorias de condições de vida que hoje lhe posiciona no primeiro lugar do ranking mundial do IDH.
As rápidas mudanças que este “governo” promove na gestão da Petrobrás e as alteração das regras de exploração do pré-sal, causam preocupação para quem pensa que soberania é um aspecto fundamental para a construção uma nação. Com o pretexto de blindar a Petrobrás, estão aniquilando o interesse público e colocando em risco nossa soberania.
Guardadas as devidas proporções, com relação ao petróleo, estamos mais próximos da Venezuela (a de 1974, certo!) do que da Noruega, apesar do enorme esforço nacional, de empresas sérias (nacionais e estrangeiras), de agentes públicos e privados que construíram um marco regulatório visando agregar valor na indústria nacional. No passado recente, havia uma perspectiva de que o crescimento da extração do óleo estaria associado ao desenvolvimento industrial e os resultados desta fartura seriam transformados em aumento de investimentos em educação, ciência e tecnologia.
As lições do “método histórico” de Celso Furtado, que estão lá naqueles ensaios, mostram que, com o andar desta carruagem neoliberal tupiniquim, vamos gastar as divisas do petróleo apenas para fechar as contas externas de um balanço de pagamentos de uma economia que sempre será subdesenvolvida e dependente. E que vamos perder mais uma oportunidade de construir um futuro diferente.

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