Chegaram primeiro colunistas como Merval Pereira, Dora Kramer, Eliane Cantanhede, editorialistas do Globo, Estadão e Folha, e cardeais como Eurípedes e Kamel, abrindo passagem para Marinhos, Mesquitas, Civitas e Frias.
Como a boca era boa, logo foram se aproximando Arnaldo Jabor, Reinaldo Azevedo e outros neocons espalhados por este país, neste momento, tão perto dos EUA e tão longe da civilidade.
Mais recentemente, foi a vez de Silas Malafaia, e alguns padres que temem a chegada da Revolução Científica.
Com direito a pregação homofóbica, Malafaia estende a mão com o termo de compromisso do tucanato com o direito de esculachar pessoas que não sejam "machos e fêmeas" (como bichos que somos).
A esposa de Serra fez as honras da família: "Dilma é a favor de matar criancinhas". Convidado de honra, o vice, Índio da Costa, foi chegando devagarinho, trazendo 30 pastores e dois milhões de panfletos da TFP.
Pensaram em pôr alguns convites nos postes das cidades, delatando que Dilma continua terrorista e chamando a todos que sustentam a Guerra Fria para esquentar os ânimos no nosso Tea Party tupiniquim.
No cardápio, o mais indigesto lance do antigo partido da social democracia brasileira: o mesmo PSDB que prometeu a civilização, atravessou a década de 90 na direção do neoliberalismo, recuou aos 50, com pregações udenistas, e agora chega ao auge de sua auto-negação aderindo definitivamente ao ultraconservadorismo também de costumes, com colorações dezenovistas.
Ao fundo, sem querer, alguém tocou música profana. Mas era Chico Buarque e logo foi vetado. Cânticos religiosos da Opus Dei chegaram a ser entoados, mas houve algum desentendimento com evangélicos mais radicais, que queriam seus hits. O acordo foi evitar trilhas.
Os convidados da festa do chá de José Serra não se inibem. Se antes chegaram a pensar que o chá era verde, hoje nada mais comum do que azular em cores fortes para que o país não discuta o séc. XXI.
Num dos sites de divulgação do chá, Visão Gospel News, afirma-se categoricamente os quatro pecados de Dilma: é a favor da união civil entre homossexuais, tem relação cortês com as religiões afro-brasileiras, quer discutir o aborto no âmbito da saúde pública e ainda tem o disparate de ter lutado contra a ditadura.
Esta festa é aberta para as massas cheirosas. Mas tem gente que, mesmo se utilizando de bons perfumes, sentiu certo enjoo no ar.
Dimenstein, Piza, Sardenberg, foram alguns que preferiram ficar a certa distância, embora simpatizem com a vibe em que se transformou algo que era um simples chá entre amigos. Outros colunistas mais chegados preferem também tergiversar, verbo em moda a partir do debate da Band.
Fingem que não apoiaram este movimento retrógrado no início, e põe culpa na intromissão de gente sem etiqueta. Ora, quem faz pacto com a UDN vende a alma ao Clube Militar e a TFP.
FHC não foi convidado, embora de longe tenha enviado um cartão de congratulações. Aécio diz que vai. Mas não vai. Sérgio Guerra está aí para o que der e vier. E os Maias estão pensando bem se este chá não vai azedar ainda mais o fígado para lá de bombardeado dos demistas.
A confusão de séculos e décadas, idas e vindas, esse anacronismo total, pode parecer um samba do crioulo doido.
Mas a questão é que a música não é samba, de doidos os convidados não têm nada, e, sinceramente, não acho que, nesta festa, qualquer crioulo fosse convidado a compor.
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