A discussão sobre os tais erros das pesquisas deve-se em parte à memória curta da opinião pública/publicada. Mas, no todo, deve-se às paixões estatísticas - ou seja, o desejo de que os números atendam ao chamado do coração.
É bom lembrar que em vésperas de eleições institutos não costumam brincar com números. Sabemos (ou desconfiamos) que há oscilações interessadas ao gosto do cliente (não há como negar), mas isso se dá com certa distância das eleições.
No primeiro turno, o Vox populi apontou resultado muito parecido em relação ao Ibope nas pesquisas de quarta/quinta anteriores ao primeiro turno. Os números davam 3 ou 4 pts para Dilma acima do necessário para vencer no primeiro turno. Idem, ibidem para o Sensus.
Já no tracking divulgado sábado, referente à média dos quatro dias anteriores, o Vox Populi apontava queda de dois pontos na vantagem de Dilma. Pesquisas diárias oscilam muito e não é difícil que, se o acompanhamento fosse feito até sábado, a tendência de queda fosse captada em mais dois pontos, por exemplo.
Se os institutos chegaram no sábado apontando empate real ou empate técnico entre Dilma e a soma dos outros, mostrando claramente viés de baixa para a candidata petista, não houve o tal erro absurdo tão propagado atualmente.O que eles disseram é que poderia haver segundo turno. E houve. Ou seja: acertaram.
Daí por diante, discutem-se migalhas: Datafolha previa 50% de intenções de voto para Dilma ou 48 no patamar mínimo da margem de erro. Ibope previa 51, com 49. Vox não divulgou pesquisa no sábado (acho que as pessoas esquecem disso), mas o tracking, como disse, apontava forte oscilação negativa de Dilma no dia anterior. O resultado foi muito próximo: 47% para Dilma, uma diferença para menos de 1 pts em relação ao piso da margem de erro no Data, 2 pts em relação ao Ibope.
Acusar institutos por erros de 1 a 2 pts é um pouco demais.
ERROS
Houve sim algo estranho: a pesquisa de boca de urna do Ibope não apontou variação em relação ao dia anterior. E este tipo de pesquisa está imune às abstenções. Tudo leva a crer que o índice de alienação de votos (erro na votação) tenha sido grande entre eleitores de Dilma. Se isso ocorreu na ordem de 1% (repito, apenas 1%), o Ibope está absolvido, pois sua margem de erro apontava para 49, e o resultado cravou 47 (votos válidos).
Quanto a Marcos Coimbra, que em artigo do domingo de eleição, reafirmava a vitória de Dilma, é preciso dizer que, se houve equívoco, isso aconteceu porque ele se baseou (ou deve ter se baseado) no acompanhamento diário encerrado na sexta (quando foi elaborado o artigo?). É bom lembrar que os jornais de domingo já estão na rua no dia anterior. E tudo leva a crer que a multidão de indecisos se definiu por Marina no final de semana. Fora alienação de votos, abstenções, etc.
O que fica como lição é que, em eleições inflamadas, o jogo só acaba quando termina.
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