Vamos tentar entender um pouco essa questão da presença da presidente Dilma Rousseff nos 90 anos da Folha.
O pós eleições mostrou claramente que o único pólo remanescente de oposição radical reside em uma dobradinha mídia-PSDB paulista explorando preconceitos contra o governo Lula. Foram cinco anos de pauleira que não pouparam ninguém, nem Lula, nem Dilma, nem quem ousasse ficar na frente do blitzkrieg midiático.
A motivação da velha mídia não é ideológica. Busca posicionar-se politicamente, recuperar influência em um quadro de profundas transformações tecnológicas, políticas e sociais no decorrer do qual perdeu o cetro de poder político máximo do país.
Eleita, a estratégia de Dilma Rousseff foi similar à de Getúlio Vargas, após a derrota paulista em 1932: estendeu a mão aos vencidos. Praticamente desativou a Lei dos Meios, enfrentou a reação das centrais sindicais ao novo mínimo, não fez nenhum aceno até agora aos movimentos sociais e compareceu na condição de presidente ao aniversário de 90 anos da Folha de São Paulo.
Com a presença na solenidade da Folha, Dilma atacou as duas frentes: o pacto de 2005 da velha mídia e os resquícios (ainda fortes) de preconceito contra ela em São Paulo. No aniversário da Folha, foi estrela máxima, a presidente imbuída de toda solenidade do cargo. Nas fotos do evento, FHC parecia o súdito constrangido cumprimentando a soberana.
Portanto, um lance que enfraquece o último bastião no qual se escorava o que restou da oposição que perdeu as eleições. Ajuda, inclusive a abrir mais espaço para a nova oposição que emergirá no decorrer do ano.
O preço desse movimento são as dúvidas que trazem sobre a posição de Dilma nos próximos anos.
Próximos lances
O discurso de Dilma foi protocolar, educado, adequado ao momento. Externou princípios consagrados de defesa da liberdade de imprensa e do papel da imprensa na democracia. Mas despertou indagações de monta, sobre se essa aproximação seria tática, estratégica, se significaria uma ruptura com o modelo Lula – porque baseada no abandono na Lei dos Meios.
Vamos por partes.
Primeiro, não há a menor possibilidade de apostar em um rompimento dela com Lula. Ambos são suficientemente maduros e espertos para não embarcarem nessa falsa competição.
A sensação que passa é de uma estratégia combinada, na qual caberia a Lula manter a influência sobre movimentos populares, sindicalismo e PT; e a Dilma aproximar-se e desarmar os setores empresários e políticos mais refratários ao lulismo-dilmismo.
Do ponto de vista de estratégia política, conseguiram fechar o melhor dos mundos: o antilulismo está sendo carreado pela velha mídia para um pró-dilmismo, resultando um xeque- mate: se o governo Dilma for bem sucedido, ela é reeleita; se for mal sucedido, Lula volta.
Essa súbita paixão da velha mídia por Dilma não apenas tira Serra da parada midiática, como reduz o espaço de novas lideranças de oposição.
É evidente que não vai durar para sempre. Mas provoca um conjunto de indagações.
A primeira, o fato de Dilma ter ignorado a militância que se formou na Blogosfera para defendê-la da combinação de ataques difamatórios da velha mídia e do esquema montado por Serra. "Assassina", "terrorista", "assaltante", "poste", lésbica, foram apenas parte desse círculo de horrores.
Não cabe a uma presidente da República remoer mágoas. E seu papel, responsável, é o de baixar sempre que possível a fervura política.
Mas caberia muito antes do evento uma manifestação em relação à militância que a defendeu com unhas e dentes – nem me refiro aos jornalistas blogueiros, mas aos blogueiros que emergiram nessa batalha, a jovem militância que chegou de norte a sul para enfrentar o exército de assassinos de reputação de Serra.
O segundo ponto é sobre o desenho final do governo Dilma.
Até que ponto, para aproximar-se do pacto paulista, ela deveria se afastar dos movimentos sociais? Sua eleição não provocou nenhum rebuliço político por parte dessas forças, nenhum acerto de contas, nenhuma exorbitância maior mesmo dos setores mais radicais que a apoiaram. Esse afastamento gradativo não é boa política. Acumula mágoas que poderiam ser evitadas como acenos, pequenos sinais.
Fora os gestos políticos, o que se espera do governo Dilma – a partir de dois meses de avaliação – será um ímpeto gerencial maior, uma cobrança maior tornando o governo mais eficiente. Mas, ao mesmo tempo, nenhuma ousadia para enfrentar temas polêmicos, como a reforma fiscal, a lei dos meios, a reforma política.
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