A estratégia política de Dilma Rousseff não fecha com a política econômica.
A lógica inicial de seu governo foi correta: esvaziar todos os focos de tensão, todos os fatos concretos ou meros factóides utilizados para a crítica a Lula.
Amenizou o discurso na política externa, desenvolveu um estilo contido de presidência, reduziu o grau de atritos com a velha mídia, deu o tom gerencial aos primeiros passos de governo, definiu como prioridades o combate à miséria absoluta e evitou sinais maiores aos movimentos sociais.
A lógica é correta: a polarização política torna automático o apoio dos aliados; o desafio, então, é desarmar os críticos. Engoliu as ofensas de campanha, os ataques sórdidos, a campanha difamatória e vamos em frente.
Até aí tudo bem, é prova de amadurecimento político, faz parte dos movimentos iniciais de governo, do período de graça conferido a cada governante, da trégua para reorganizar as ideias. Ninguém, por certo, suporá que essa trégua é eterna. Mais cedo ou mais tarde a guerra recomeçará.
A questão central é o conflito de prioridades.
Pela entrevista com Glauco Arbix, do IPEA, fica-se sabendo que Dilma continua uma defensora intransigente de uma nova economia, calcada no conhecimento, na inovação, na menor dependência das commodities. Ao mesmo tempo, manteve a política de metas inflacionárias do Banco Central, com a combinação letal de juros altos e câmbio baixo. A Selic já está em níveis absurdamente elevados e deve continuar a subir. Quer contentar a economia real; quer contentar o mercado.
Em algum momento do futuro, haverá o impasse.
Suposto modelo Dilma de desenvolvimento:
1. Ampliação da inclusão social.
2. Estímulo ao mercado interno.
3. Desenvolvimento tecnológica da economia nacional para competir globalmente.
Fora de lugar, câmbio e juros têm dois efeitos deletérios:
1. Pressionam a relação dívida/PIB, consumindo mais recursos fiscais para manter a relação cadente.
2. Apreciam o real, expondo amplamente a economia brasileira à invasão dos importados e tornando a balança comercial cada vez mais dependente de produtos primários.
É um evidente conflito de prioridades. No ano passado, a própria Fazenda demonstrou que havia outros instrumentos - que não os juros - para combater eventuais pressões inflacionárias. Cadê?
Para combater as distorções de câmbio e juros, o que faz Dilma?
1. Amplia os cortes orçamentários, paralisando programas. Não se trata apenas de uma melhora na qualidade do gasto. Os cortes baterão direto em programas essenciais.
2. Tenta criar gambiarras para compensar a perda de competitividade da economia brasileira com câmbio e juros. Planeja desonerações tributárias, defesa comercial, mas acaba esbarrando no próprio nó fiscal produzido pela combinação juros-câmbio.
3. O real apreciado faz com que parcelas cada vez mais expressivas do mercado interno sejam transferidas para produtos importados. As multinacionais brasileiras criadas nos últimos anos estão adiando cada vez mais projetos internos de investimento e transferindo sua produção para fora, especialmente para a China.
Do lado da Fazenda, não existe mais a clareza exibida no período de crise. Não se sabe se é uma situação transitória, quais os próximos anos, quais as visões de futuro, qual sua visão de câmbio e de juros.
Fernando Pimentel, do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Aloizio Mercadante, do MCT (Ministério de Ciência e Tecnologia), Luciano Coutinho, do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), têm atuado em várias frentes, procurando mobilizar a parte industrial do país a aderir ao novo modelo. Mas cadê o modelo?
Treinamento, investimentos em inovação, investimentos em infraestrutura são componentes importantes desse modelo, mas não são a parte central. Sem juros adequado, câmbio competitivo e crescimento de PIB mínguam não apenas as receitas como também a vontade nacional pelo desenvolvimento.
É começo de governo ainda, pouco tempo para avaliações definitivas.
Mas algo me diz que está na hora do governo Dilma definir com mais clareza para onde pretende conduzir o país.
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