quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crise na periferia – por Jorge Nogueira Rebolla (blog do Nassif)

Os EUA e as principais economias européias mantêm-se estagnados. Alguns dos países menos desenvolvidos da OCDE passam pela pior crise dos últimos 70 anos. A Grécia numa situação desesperadora. Irlanda e Portugal em aflição. Espanha aguardando a vez. Tudo devido a irresponsabilidade governamental e a ganância do sistema financeiro. Quando a bolha imobiliária estourou em 2008 os governos correram para socorrerem os bancos que se encontravam em dificuldades, aliás, provocadas por eles mesmos. O volume de recursos necessários aumentou o endividamento de vários países. Na área do Euro a dívida pública passou de 66,2% do PIB em 2007 para 85,4% em 2010.

Observando os países que estão em pior situação o crescimento do endividamento foi proporcionalmente maior nesse período. A Grécia de 105% para 142%; Irlanda de 25% para 96%; Espanha de 36% para 60% e Portugal de 68% para 93%. A estimativa é que o endividamento continuará a aumentar. Em troca do quê?
Os lucros realizados pelos agentes, investidores e especuladores foram resguardados pela rápida intervenção estatal. O risco inerente ao negócio foi suprimido pelo poder público. A conta rateada por toda a sociedade. O volume de dinheiro necessário para esta intervenção desequilibrou os orçamentos e aumentou as despesas, forçando a captação de novos empréstimos.

Os grandes beneficiados pela mão visível do Estado estão novamente contando com ela em detrimento de toda a sociedade. O presidente da comissão européia, o português durão barroso, foi enfático ao ditar a postura que a Grécia deve adotar: vive um momento extremamente crítico, um momento excepcional. E em um momento excepcional se necessita de uma coragem excepcional por parte de todos. A responsabilidade na democracia não corresponde só ao governo. A oposição, especialmente o maior partido de oposição, tem também uma parte da responsabilidade.

O FMI pede a Espanha uma reforma trabalhista mais valente, que reduza o custo da demissão, flexibilize a negociação coletiva e a revisão dos salários pela inflação.
"Frente a graves desafíos económicos y financieros, las autoridades han puesto en práctica una respuesta de política económica fuerte y de amplio alcance durante el último año. Esta respuesta ha ayudado a la economía a recuperarse gradualmente y a poner en marcha el necesario reequilibrio. Sin embargo, el saneamiento de la economía está incompleto y los riesgos son considerables. Por lo tanto, no se debe relajar el impulso de las reformas, lo que incluye seguir reforzando la credibilidad de la consolidación fiscal, completar la reestructuración del sector financiero, fortalecer con ambición las reformas del mercado laboral, y continuar con la agenda de reformas estructurales."

Em menos de três anos já esqueceram quem deflagrou a crise? Quem propôs a solução? E os investidores, os analistas, os corretores e os banqueiros que promoveram o maior "almoço grátis" da história negociando os títulos podres que valoravam e tiveram a conta paga pelo contribuinte?

Existe para muitos o que chamam de contratos ou marcos regulatórios na economia. Este só é considerado para um dos lados. Eles advogam que nunca se deve mudar um que proteja o capital (até dele mesmo), principalmente o financeiro. O que beneficia o restante da sociedade pode ser refeito ou desfeito a qualquer momento para garantir a continuidade da proteção aos outros.

O principal motivo para a forte pressão que estes países sofrem externamente, no momento em maior intensidade sobre a Grécia, é o volume de empréstimos concedidos pelos bancos, principalmente franceses, ingleses e alemães que podem ver boa parte dos seus créditos evaporarem. Isto criará um risco sistêmico obrigando os governos a um novo socorro. Esta ciranda se não for quebrada manterá instável as economias. Os banqueiros e seus prepostos continuarão a agir da mesma forma. Os lucros irreais que auferem estarão sempre garantidos, independente de qualquer critério de competência ou prudência.

Ao destinarem novos empréstimos para os países que não tinham condições financeiras para cobrirem, com recursos públicos, os prejuízos de um sistema financeiro regulado apenas pelo grau de ganância dos seus operadores, manterem benefícios sociais incompatíveis com a sua realidade econômica ou que não conseguem controlar os seus gastos o fizeram por conta e risco. Deveriam agora arcar com as consequências.

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