terça-feira, 18 de agosto de 2009

Só para constar

Há fatos “interessantíssimos” que permeiam parte do noticiário em questão, desta vez não pude me escusar de comentá-los.
O primeiro trata da ex-secretária da receita Lina Vieira. Despedida de maneira desastrosa, a secretária foi atrás de vingança. Para tanto, acusa a ministra Dilma de ter pedido para agilizar o processo de investigação contra o filho do Sarney*.
Dilma nega a existência do encontro em que teria pedido tal agilização.
A pergunta que faço aos meus atônitos botões é: ¿e daí que tivesse pedido a agilização de uma investigação? ¿Não seria melhor para todos que as investigações chegassem ao fim, com um parecer mais célere, seja para acusar, seja para inocentar?
Porém, trata-se da ministra Dilma, e, nesta conta, não se enquadra absolutamente nada do fato em questão, mas apenas sua candidatura para 2010.

* Sarney é aquele que, dentre outros, neste mesmo ano corrente, conseguiu dar um golpe no estado do Maranhão com o apoio incomensurável destes que hoje o detratam. Quatro pessoas afirmaram ter vendido seus votos para emissários de Jackson Lago. Uma delas, depois, admitiu que na verdade, recebera dinheiro para dizer que havia vendido o voto. O ministro Eros Grau afirmou que já passara do prazo para a testemunha dar seu depoimento e o mandato do governador Lago foi cassado.



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Globo e Record se digladiam no horário nobre.
As duas estão certas.
Quando acusam.


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A ex-ministra Marina Silva, que governava aquele que grande parte do PIG considerava um dos mais incompetentes ministérios do governo Lula, de repente, torna-se a “menina dos olhos”, o “fato novo”, que pode alterar a equação política da eleição de 2010.
Marina é capa de duas revistas semanais, é manchete em todos os grandes jornais.
Bem, vamos aos fatos.
Seu desempenho como ministra do meio-ambiente é bastante obnubilado, pelo fato do seu ministério ser alvo de muitos ataques, como já era de se esperar. ¿E do que eram provenientes estes ataques, dos que ansiavam por mais e mais “progresso” (desmatamento, soja, agrobusiness, transgênicos, etc.), ou de pessoas que realmente tinham interesses justos, de licenciamento ambiental feito em padrões e prazos rígidos, porém adequados e coerentes?
Forçando a vista, eventualmente pude observar ao longo do tempo, os dois lados, os destruidores e os empreendedores bradando contra o ministério. Foi muito difícil separar o joio do trigo e, dadas as fontes polutas de informação, nunca saberei, creio eu, se a maior parte das demandas provinha de óbices ridículos ao desenvolvimento, ou de muralhas criadas contra o aríete da degradação ambiental. E infelizmente, não vejo no cenário político brasileiro quem possa fazer tal análise.
O certo era que o ministério era alvo de toda sorte de críticas do PIG.
Como Marina Silva possui uma biografia linda, ela que se alfabetizou tão tarde, enfrentou inúmeras dificuldades na vida, cortou cana quando criança para ajudar no sustento da família, até os 18 anos trabalhava numa lavoura, o PIG tinha algum receio em criticá-la frontalmente. Pegava mal, já que sua nomeação para o ministério foi elogiada mundialmente. Por outro lado, não se observavam elogios ao seu trabalho.

Pois bem, Marina, ouvindo o canto da sereia de uma das maiores goelas da história da política brasileira, o senhor Fernando Gabeira (clique aqui para saber mais sobre ele), e outros afoitos do PV – doidos para promover não uma causa, mas o partido –, se posta como nova candidata a presidente da república.
¿E por que ela recebe tanto apoio e entusiasmo da mídia?
Porque isto pode atrapalhar a candidatura da ministra Dilma Roussef. Não por cauda de sua postulação, em si, que é até mais radical do que a da Dilma em diversos pontos. Ao contrário. A mídia quer sua candidatura para perder, apenas para atrapalhar – e eventualmente fustigar – a esquerda.
Supostamente, Marina despolarizaria a próxima eleição, tirando o foco PT X PSDB, supostamente, tiraria votos da esquerda e centro-esquerda, espectro que se interessaria pela ministra Dilma.
Bem, de fato, a candidatura da Marina seria tão e tão importante quanto a do senhor Cristovam Buarque**, que não conseguiu – a despeito do grande tempo dado pelos canais de televisão à sua pretensão – alcançar o segundo dígito nas últimas eleições. Longe disto, obteve 2,64% dos votos. Aliás, 2,64% dos votos válidos.
(Abro um parêntese para uma pergunta que não quer calar: não se deveria aprender alguma coisa com uma votação destas? ).
Pois bem, este é o destino que Marina Silva há de escolher. Ou se reelege senadora, e pode manifestar seu repúdio a degradação ambiental, ter força política para puxar o PT – o governo ela não conseguiu – para a esquerda (especialmente no que tange ao desenvolvimento sustentável), agir como militante política relevante para a causa do meio ambiente, ou, opta por um posicionamento pífio, individualista e inócuo: ser candidata para tomar uma lavada e prejudicar uma candidatura de centro-esquerda, beneficiando os apoiados de Kátia Abreu e afins.

** Um dos piores ministros do governo Lula (e olha que falamos de um governo que possui Jobim, Meirelles, Geddel “Agatunado” Vieira Lima, etc.). Enquanto Cristovam Buarque foi ministro, nada de novo aconteceu na educação brasileira. Bastou que ele saísse, e Tarso Genro (outra goela) entrasse e nomeasse Fernando Haddad (este sim um grande ministro) como secretário-executivo, para que as coisas começassem a acontecer: pró-uni, nono ano de ensino fundamental, construção de inúmeras escolas técnicas (mais do que a duplicação do número anteriormente existente), mais do que a duplicação de estudantes universitários em instituições federais – através da extensão e construção de novos campus, re-uni, apresentação de projeto de lei estabelecendo um piso nacional para salário de professor, no valor (ainda baixo) de cerca de 900 reais (frise-se que os “grandes” governadores José Serra e Yeda Crusis – que se merecem – entraram na justiça para não pagarem tal piso – querem a escravidão), etc. E, enquanto Cristovam foi ministro, podemos elencar... o nada. Aliás, corrijo-me. Para tentar defendê-lo, lembro que não posso dizer que ele nada trouxe de novo para o ministério da educação ou para a fabulosa política brasileira. Trouxe sim. Cônscio de seu desempenho pessimamente avaliado pelo presidente, o então ministro Cristovam recebe uma ligação do presidente Lula, salvo engano quando estava em Portugal. Pede a um transeunte para fotografá-lo, pois desconfiava o que aconteceria: ele foi demitido por telefone e, provavelmente, foi o primeiro ministro a pedir que alguém fotografasse (!) tal cena. Foi o único “fato novo” que Cristovam trouxe para a política tupiniquim.


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Ciro Gomes anda reclamando aos quatro ventos da proposta de arranjo que se havia imaginado: ele – que é paulista de Pindamonhangaba – se candidatar ao governo de São Paulo e Dilma Roussef se candidatar a presidente da república.
Certo é que São Paulo necessita de uma candidatura que possa fazer frente aos seguidos desastres administrativos que fizeram com que aquele estado se tornasse um caos. Muitos anos de boas administrações serão necessários para remover o entulho deixado pela direita descarnada.
Ciro Gomes cairia como uma luva na política paulista – este sim um fato novo, dado que Ciro não tivera até então pretensões eleitorais específicas para seu estado de origem. O estado de São Paulo, que politicamente pode ser chamado de “a locomotiva do atraso”, como alcunhou PHA, merece (já há grande tempo) um bom governante.
Que seja Ciro Gomes, que seja Fernando Hadadd, que seja algum bom administrador, que possua uma visão social apurada – afastando-se do cálice de Malufs, Martas, Alckmins e Serras dos destinos dos paulistas.
Posso até queimar a língua, mas se o Ciro não se acalmar, perderá um possível apoio do PT de São Paulo (que é, por vários motivos, complicadíssimo) e, não conseguirá se eleger governador de SP, não conseguirá se eleger presidente do Brasil, e ainda auxiliará a candidatura da direita.
Seria uma lástima.

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