O Luiz Freire me faz uma cobrança:
luiz freire (11/08/2009 - 10:28)Azenha, muito interessante, mas e o caso da secretária da Receita ? E o discurso de ontem do caçador de marajás ? E a CPI da Petrobras ? E o caso do Sérgio Guerra ? E o Paulo Duque versus Arthur Virgilio ? E o Lula defendendo a Dilma ? E a candidatura da Marina ?
Confesso que esses assuntos me dão um tremendo cansaço. A maior parte deles, pelo menos. Eu me julgo impedido de tecer considerações a respeito como se eu fosse um expert. Em primeiro lugar por ter perdido o hábito de ler jornais. Eu me informo sobre o mundo na internet. Prefiro ler os comentaristas de vários sites do que os colunistas previsíveis.
Já fiz três grandes coberturas de política em minha vida profissional. No início dos anos 80, pela TV Bauru, cobri as eleições municipais em que o MDB deu uma sova na Arena (ou foi o PMDB batendo o PDS?). Demos ampla cobertura aos adversários do regime militar. Foi bom.
Mais tarde, já na TV Manchete, cobri a vitória de Jânio Quadros sobre Fernando Henrique Cardoso, na disputa pela prefeitura de São Paulo. Jânio, que entrevistei várias vezes na casa dele, reclamava que era perseguido pela mídia. Reclamava especialmente do tratamento dado a ele pela TV Globo. As pesquisas eleitorais do Datafolha davam vitória de FHC. Inclusive no dia da eleição. Já a rádio Jovem Pan se mobilizou em defesa de Jânio. Fez uma pesquisa não científica, entrevistando gente na rua, que dava a ele a vantagem.
No dia da eleição fui para a redação da Folha, transmitir ao vivo. O boca-de-urna do Datafolha deu vitória de FHC. E eu lá, sustentando os resultados do jornal. Até que um diretor da TV Manchete me ligou: "Azenha, dá que o Jânio vai vencer. Ele está na frente nas apurações". Cheguei a entrevistar ao vivo o diretor do Datafolha, que se justificou: "A apuração começou pelas urnas em que Jânio tem vantagem. FHC vai vencer". Que barriga! Jânio Quadros venceu e deu a primeira entrevista como prefeito eleito à TV Manchete, no estúdio.
Finalmente, em 2005/2006 cobri as eleições presidenciais pela TV Globo. Uma experiência amarga. Primeiro a Globo, de acordo com o editor de Economia Marco Aurélio Mello, do Jornal Nacional, ordenou que ele "tirasse o pé" das boas notícias da economia, que favoreciam o governo Lula.
Para ir ao blog do Marco Aurélio Mello, clique aqui
Depois o JN passou a repercutir, todos os sábados, as capas de Veja, muitas das quais absolutamente fantasiosas. Depois a emissora recheou seus programas, inclusive de entretenimento, com entrevistas marotas, que favoreciam as teses de Geraldo Alckmin. Finalmente, passou a favorecer abertamente candidatos tucanos -- especialmente José Serra, candidato a governador de São Paulo.
O modelo era simples: acobertamento descarado de todo e qualquer escândalo tucano -- eu mesmo tive uma reportagem sobre a máfia das ambulâncias arquivada, pois dizia que 80% das ambulâncias superfaturadas tinham sido entregues durante a gestão de Serra no Ministério da Saúde -- e propagação turbinada de todo e qualquer escândalo envolvendo petistas. Omissão das palavras "Serra", "FHC" e "PSDB" em textos comprometedores e inserção de "PT" ou "petista" sempre que isso pudesse ser feito de forma comprometedora.
Assim, em resposta ao Luiz Freire, digo que o modelo que está sendo utilizado agora é praticamente o mesmo. Com variações:
-- A Globo, pelo que sei, parece um pouquinho mais cuidadosa. Para não ser acusada de omissão, dá as notícias, cuidando para que elas não sejam apresentadas de forma a comprometer Serra. Trabalha mais na propaganda positiva. Por exemplo, disseminando informações sobre a lei antifumo em São Paulo como se fosse a maior realização administrativa do planeta.
-- O Globo está completamente enlouquecido. Mente e distorce de uma forma tão descarada que, sinceramente, não sei mais quem eles pretendem enganar, além da meia dúzia de leitores do Leblon e de Ipanema que os leva a sério.
-- A Folha é a grande surpresa da temporada, com "reportagens" impensáveis como a da ficha falsa da Dilma. Acho que os filhos do Frias querem honrar a memória do pai, que via no Serra um futuro presidente. E há, obviamente, bons negócios a serem feitos, num período de crise dos jornais.
-- A vantagem do Estadão é que o jornal sempre foi reaça. Deu agora de gritar "censura". Parece criança mimada esperneando.
Ou seja, nada de muito novo no front. É um repeteco turbinado de 2006.
Suas outras perguntas:
-- Secretária demitida da Receita -- É um disse-me-disse. Tentativa de juntar Sarney, Petrobras e Dilma num pacote só. Como escândalo, não tem futuro.
-- Caçador de marajás -- Fernando Collor deveria dar uma entrevista coletiva narrando todos os acordos que fez com a mídia antes, durante e depois do período em que ocupou o Planalto. Seria uma leitura interessante.
-- Sérgio Guerra -- Factóide tosco que a Folha usa para parecer isenta. Importância zero.
-- Paulo Duque vs. Arthur Virgílio -- É do jogo político. Como escrevi aqui, a mídia tenta vender o jogo político pré-eleitoral como campanha contra a corrupção, para tentar enquadrar José Serra no papel de impoluto e Dilma como aliada de corruptos. Mas o PMDB é mil vezes mais inteligente que qualquer Ali Kamel. É profissional. Vai sangrar o Arthur Virgílio para calar a oposição. No fim eles fazem algum tipo de acerto e fica tudo por isso mesmo.
-- CPI da Petrobras -- A Petrobras tem dinheiro e tem estratégia para enfrentar a CPI. O vazamento do financiamento aos projetos da dona Ruth sem comprovação de que foram realizados seria um escândalo de dimensões nacionais se os envolvidos fossem parentes do presidente Lula. Todos os escândalos recentes morreram assim que se revelou que, na verdade, tinham se originado com os tucanos ou demos. É um jogo em que todos saem sujos. Favorece o surgimento de candidaturas como a do Protógenes. Ou de outro caçador de marajás.
-- Marina Silva -- A eleição de 2010 será decidida em torno de questões econômicas. Quem compra o discurso da Marina é de classe média alta. Um discurso muito sofisticado para competir com o bolsa Família ou com os aumentos do salário mínimo. Não tem futuro.
-- Ciro Gomes -- Está tirando proveito político do descontentamento que existe à esquerda do governo Lula, que não é pequeno. Reúne desde o MST àqueles que não aceitam que, para dar continuidade a seu projeto de governo, Lula (com Dilma) ficará refém mais quatro anos do Centrão do PMDB.
Essa é, em minha opinião, a principal fragilidade do projeto eleitoral Lula/Dilma: mais quatro ou oito anos sustentados no Congresso pelo Centrão. Podem até ganhar a eleição em 2010, mas o toma-lá-dá-cá sobreviverá firme e forte.
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