domingo, 28 de março de 2010

Sobre manifestações e estratégias políticas - por Luis Nassif

Recentemente, João Pedro Stédile fez uma autocrítica sobre as invasões de propriedades. Considerou que tinham se tornado contraproducentes, atraindo antipatias para o movimento dos sem terra.

A mesma análise deve ser aplicada a manifestações de professores e a qualquer outra em que os organizadores, tendo propósitos pacíficos, não tenham controle sobre os participantes. Mesmo que as bandeiras sejam das mais legítimas.

Não adianta culpar a PM pelos incidentes no Palácio Bandeirantes. É possível que tenha havido agentes infiltrados insuflando os manifestantes. É possível que a agressão tenha partido da PM. Mas todas essas possibilidades precisam ser levadas em conta na hora de se convocar uma manifestação desse tipo.

Em relação ao papel da PM, é óbvio que, chegando a poucos metros da tropa, os manifestantes provocarão reações agressivas dos soldados. Faz parte do seu treinamento, da sua formação. Se se mostram intimidados, perdem o controle total sobre o processo. É o mesmo fenômeno das torcidas organizadas e de qualquer outra manifestação catártica de rua.

O que se pretende com essas manifestações é criar fatos políticos – que constranjam o governo a negociar.

Há décadas, a APEOESP vale-se da mesma fórmula surrada. Monta-se um ambiente canhestro de guerra, manifestantes de um lado, a Bastilha (Palácio Bandeirantes) do outro e a PM no meio. Vai-se para o quebra pau, pouco importa quem começa. O resultado da batalha campal será de manifestantes e policiais feridos. Mas e o objetivo final, o de criar um fato político? Dançou. A cobertura jornalística será sempre negativa para os manifestantes.

Há inúmeras outras maneiras de se manifestar, sendo a maneira agressiva a pior delas.

Se a ideia é criar fatos políticos novos, adotem-se práticas novas de manifestação.

Poder-se-ia, por exemplo, montar um happening em frente o Palácio, levar música, encenações teatrais. Poderia haver uma grande passeata de carros alegóricos, mostrando a precariedade da situação dos professores. Há inúmeros recursos audiovisuais disponiveis, através de novas tecnologias capazes de difundir a verdadeira imagem do professor: o educador, o sujeito pacífico, a pessoa cuja situação é identificada com a de seus alunos. Jamais a do guerreiro.

Depois, no momento da manifestação, montar um sistema confiável de monitoramento dos manifestantes, para afastar provocadores ou professores que se comportem agressivamente.

Nesses novos tempos políticos, não dá para adotar táticas que tinham sua validade nos anos 80.

Por Vera Pereira

A última greve das universidades federais de que participei, ainda no governo FHC, adotou esse tipo de estratégia alternativa: professores dando aula, com quadro negro e tudo, na praça, na rua. Aulas mesmo, com temática da cadeira, embora em linguagem mais simples, às vezes com encenações dramáticas do problema em discussão. Muita gente parava para assistir e aplaudia. Tb teve passeatas localizadas e mais lúdicas. Se bem me lembro teve apoio popular. Foi no RJ. Não sei se em outros Estados. Também acho que as táticas de luta devem ser mais criativas. Mas isso não é simples de mudar, dada a situação atual em SP de profunda insatisfação, descalabro governamental e do ambiente geral de irritação dos paulistas. E dado o absurdo nível dos salários, inclusive o tal abono de 50 reais e o auxílio-alimentação de 4 (quatro) reais! O clima exacerbado não facilita a criação de formas de luta salarial mais inovadoras.

A última greve das universidades federais de que participei, ainda no governo FHC, adotou esse tipo de estratégia alternativa: professores dando aula, com quadro negro e tudo, na praça, na rua. Aulas mesmo, com temática da cadeira, embora em linguagem mais simples, às vezes com encenações dramáticas do problema em discussão. Muita gente parava para assistir e aplaudia. Tb teve passeatas localizadas e mais lúdicas. Se bem me lembro teve apoio popular. Foi no RJ. Não sei se em outros Estados. Também acho que as táticas de luta devem ser mais criativas. Mas isso não é simples de mudar, dada a situação atual em SP de profunda insatisfação, descalabro governamental e do ambiente geral de irritação dos paulistas. E dado o absurdo nível dos salários, inclusive o tal abono de 50 reais e o auxílio-alimentação de 4 (quatro) reais! O clima exacerbado não facilita a criação de formas de luta salarial mais inovadoras.

Por Fernando Di Giorgi

De fato, há muitas outras estratégias.

Uma premissa básica para qualquer estratégia é ter objetivos que unifiquem os interesses dos três maiores interessados na melhoria da qualidade da educação pública: os pais dos alunos, os alunos e os professores.

A reivindicação salarial é, sem dúvida, plenamente válida, porém sozinha não consegue sensibilizar alunos e pais de alunos.

Os professores deveriam pensar como selar uma aliança com todos os envolvidos no processo educacional através de organismos democráticos de discussão sobre a administração escolar, o desempenho individual dos alunos, absenteísmo de ambas as partes, preservação dos ativos da escola, instrumentos necessários ao desempenho das funções didáticas, o processo decisório dentro da escola, as atividades de recreação, a ridícula remuneração dos professores, as regras disciplinares etc. A única ressalva: decisões que exigem tecnicalidades ao alcance de quem é especializado em pedagogia.

O objetivo não seria apenas reivindicativo, a pretensão deveria ser mais ampla, paciente e visando resultados sustentáveis: o aumento da participação dos pais, alunos e professores nas principais decisões regras de funcionamento da escola.

A contra-argumentação fundamental ao exposto acima é o baixo nível político da população brasileira e o sentimento de incapacidade dos pais em participar de reuniões frente a frente com professores e o corpo administrativo da escola. Porém, este legado histórico a ser mudado, creio ser o principal objetivo da educação.

Encerrando, as manifestações teriam muito mais alcance se delas participassem pais e alunos.


Comentário

Sinceramente, acho que toda esta postagem é análoga àquele caso do marido que encontra a mulher com outro no sofá e para resolver a situação toma uma atitude enérgica: vende o sofá.
Nós estamos no ano de 2010, o homem foi à lua há mais de 40 anos, descobrimos petróleo há milhares e milhares metros de profundidade, sabemos com uma margem 1% de erro que a idade do universo é de 13,7 bilhões de anos, dentre outros tantos exemplos do avanço da humanidade. Destarte, não é possível que nos dias de hoje, os policiais de São Paulo – de quem tanto o governo estadual jacta-se de que são os mais bem treinados do país – ainda não tenham preparo para lidar com situações como esta. É simplesmente ridículo.

Polícia não se volta conta estudantes, contra sem-terra, contra sem-teto, contra grevistas, contra aquelas parcelas da sociedade que possuem a capacidade de se aglutinar e, muitas vezes, expor uma triste realidade que perpassa a sociedade como um todo – evidentemente com as especificidades de cada classe.

A polícia, sim, é que tem a responsabilidade de mudar a forma como lida com situações como esta, ¡ora!

Em casos como este, é claro para todos que a tropa de choque só deve ser utilizada quando todas as outras opções foram esgotadas. Pelo perfil pouco democrático do senhor Serra, e a ideologia amplamente majoritária do PSDB, de criminalização dos movimentos sociais e reivindicatórios como um todo, a tropa de choque, pasmem, é a primeira opção.

E a polícia, que deveria se voltar contra a bandidagem e proteger a população, é leniente com a bandidagem e ataca a população – isto, frise-se, não ocorre só no governo Serra, mas em todos as ocasiões em que governadores reacionários estão no poder.

Uma lástima.

Não adianta aqui conjeturar, devanear sobre formas novas de mobilização. Podem mudar a vontade, se a ideologia da mídia gorda, de parte do judiciário e de determinados partidos políticos permanecer retrógrada como é hoje, a polícia seviciará estas novas formas de protesto da mesma maneira que ataca hoje as mais diversas formas de mobilização que ocorrem.

Devo salientar bem esta última parte da minha análise para demonstrar que, em minha singela opinião, a argumentação feita no post está equivocada. Julgo-a errônea porque uma ocupação de terra, uma greve dentro de uma universidade (como a USP), e uma passeata como a dos professores de SP ocorrida recentemente, são formas muito diferentes de protesto. O que é comum nos três casos é a forma como: a mídia gorda, um judiciário conservador e governos anacrônicos (uma verdadeira “trilogia neofascista”) reagem a elas: a mídia criminaliza, o judiciário é carreado (acata) e o governo massacra.

Fazem isto, claro, dizendo que estão “preservando as instituições”, o “estado democrático de direito”, e estultas frases feitas do gênero.

Durma-se com um barulho desses.

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