A rede inglesa “Sky News” noticiou, com destaque, as corajosas declarações do Arcebispo de Canterbury no sentido de que “a invasão do Iraque tem provocado danos terríveis à região”.
Criticando a ação da Inglaterra e dos Estados Unidos da América, que tachou de “imperialista”, o Arcebispo chegou a dizer que, no Iraque, “a definição ocidental de humanidade não está sendo observada”.
O Coronel T. E. Lawrence, do Exército Inglês, horrorizado com a barbárie imposta ao sofrido povo iraquiano, também foi à imprensa dar o seu testemunho e protestar. Eis as suas declarações, publicadas pelo jornal “Sunday Times”:
sp;"O povo inglês caiu numa armadilha na Mesopotâmia. Ele dificilmente poderá sair de lá com dignidade e honra. Ele está sendo enganado pela dissimulação constante da verdade. Os comunicados de Bagdá estão defasados relativamente aos acontecimentos; eles faltam com a sinceridade e são incompletos. A realidade é pior do que aquela que nos tem sido dita. Nossa administração é mais ineficaz e mais sangrenta do que aquela que nos descrevem. Ela é indigna de nossa história imperial e revelar-se-á brevemente muito abjeta para um tratamento ordinário. Nós estamos às vésperas de um desastre".
Na mesma entrevista, este Coronel denunciou fatos gravíssimos:
"Cidades inteiras foram arrasadas pela aviação inglesa. Em quatro meses, 10.000 pessoas morreram. Os blindados, por terra, forçavam as populações em pânico rumo a campo aberto, onde poderiam exterminá-las melhor".
Pessoas corajosas e de ideal, o Arcebispo de Canterbury e o Coronel T. E. Lawrence. Merecem o reconhecimento das pessoas de bem.
Porém, mais importantes do que estas duas entrevistas são as datas nas quais elas foram dadas. As datas dos jornais é que devem ser motivo de reflexão para todos nós, como mostrarei a seguir.
O Arcebispo de Canterbury condenou a invasão do Iraque em uma entrevista publicada pela rede “Sky News” no dia 25 de novembro de 2007.
O Coronel T. E. Lawrence condenou a invasão do Iraque em uma entrevista publicada pelo jornal “Sunday Times” no dia 22 de outubro de 1920. Sim, 1920! 87 anos antes!
Em verdade, este “Coronel T. E. Lawrence” vem a ser o famoso “Lawrence da Arábia”, retratado em tantos filmes, e que andava pela região das “1.001 noites” no início do século passado.
É aí, no detalhe das datas, que ficamos chocados com a absoluta falta de sensibilidade e até de clemência da orgulhosa e cristã civilização ocidental, há quase um século causando dor e sofrimento a um mesmo povo.
E maior a indignação quando constatamos que todas estas invasões foram feitas em nome do bem, e por pessoas que se dizem de bem. A elas, as palavras de Victor Hugo: “ninguém é mau, e quanto mal foi feito”.
Todas estas invasões foram feitas por pessoas que se dizem religiosas. A elas, as palavras de Voltaire: “o maravilhoso da guerra é que cada general há de bendizer suas bandeiras e invocar solenemente seu Deus antes de exterminar seu próximo”.
Todas estas invasões foram feitas por pessoas que se dizem moralistas. A elas, as palavras de Bertrand Russel: “a humanidade tem dupla moral: uma que prega mas não pratica, outra que pratica mas não prega”.
Todas estas invasões foram feitas por pessoas que se dizem civilizadas. A elas, as palavras de Auguste Rodin: “a civilização não é, em suma, senão uma camada de pintura que qualquer chuvinha lava”.
Todas estas invasões foram feitas em nome da Justiça e por pessoas que se dizem justas. A elas, as palavras de Thomas Jefferson: “eu temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo”.
Todas estas invasões, enfim, foram feitas em nome de Deus. Àqueles que as determinaram, dediquemos as palavras de Blaise Pascal: “nunca o ser humano pratica o mal tão completamente e com tanto prazer como quando o faz por convicção religiosa”.
PEDRO VALLS FEU ROSA é Desembargador do Poder Judiciário Brasileiro, relator da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo e Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Espírito Santo.
Comentário
Belas palavras de Feu Rosa. Porém, devo salientar que ele tem sua história conspurcada pela defesa convicta do juiz Antônio Leopoldo Teixeira.. Quando os juízes Carlos Lemos e Alexandre Martins de Castro Filho apresentaram denúncias das estripulias que o juiz Leopoldo cometia , Feu Rosa não só defendeu Leopoldo, como atacou com tudo os que fizeram a (verdadeira) denúncia.
Resultado: o juiz Alexandre foi assassinado a mando de Leopoldo (que prossegue solto, contando com a anuência da justiça que ele bem representa).
O outro juiz viveu muitos anos (se ainda não vive) com escolda policial.
Se o posicionamento de Feu Rosa, à época, fosse outro, a história de Alexandre poderia ter sido maior e ainda mais bela.
De qualquer modo, fica aqui o exemplo de justiça que este representa.
Alexandre é um anti Gilmar Dantas, por assim dizer.
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